(re)encontro com Clarice
meu primeiro contato com essa obra foi aos 15 anos de idade. também foi o meu primeiro contato com Clarice. antes disso, eu apenas a conhecia por meio das inúmeras frases de efeito que lia em blogs ou legendas de fotos. mas de alguma forma aquela menina perdida e insegura, que mal sabia da vida, se identificava com os fragmentos de palavras e sentia que talvez Clarice a compreenderia.
lembro que peguei o livro emprestado na escola e foi uma das pouquíssimas anotações no meu cartão da biblioteca já que meu amor pela leitura ainda era tímido, começando a desabrochar. aos 15 anos eu não entendi muito bem a dimensão, o significado, nem mesmo a importância de a hora da estrela. sequer entendia o que aquelas palavras queriam dizer, se é que diziam alguma coisa. como entender uma história que “acontece em estado de emergência e calamidade pública”? como entender um livro inacabado e sem respostas?
mas então, mais de 10 anos depois, com mais bagagem literária e com o meu próprio encontro com a escrita, decidi que queria reler a triste e insignificante vida de macabéa só pra sentir o efeito que ela causaria em mim no agora. ler essa grande e única “dedicatória” foi como me lançar ao abismo e mergulhar no desassossego de algo ausente de sentindo. foi uma leitura de (re)encontro com esse narrador-escritor que ao escrever se desnuda e aceita toda a dor que só quem já viveu esse processo consegue se identificar. foi um encontro com o meu eu-escritora: aquela que também precisa falar sobre sua personagem senão sufoca “ainda bem que o que vou escrever já deve estar na certa de algum modo escrito em mim”.
a hora da estrela ou a culpa é minha ou o direito ao grito ou quanto ao futuro ou tantos outros títulos que se encaixam nessa história — como diz o próprio narrador-escritor, ou simplesmente Clarice — é sem palavras; uma fotografia muda; um silêncio. esse livro é uma pergunta.
ainda bem que meu eu atual não tem mais medo de abismos. ✨
#claricelispector #ahoradaestrela #resenhaliteraria
