um ano de pandemia

“Contando os dias sem saber quantos dias faltam…”

Amanda Costa
Amanda Costa
2 min readMar 17, 2021

--

Um ano de pandemia. Um ano convivendo diariamente com os diversos demônios que foram despertados dentro de mim e que trouxeram à tona medos e inseguranças que estavam adormecidos.

Trezentos e sessenta e cinco dias em que sinto meus olhos cansados das telas, cansados de ler notícias ruins e com saudade de se deslumbrar com paisagens desconhecidas e até mesmo lugares confortáveis em que eu ia com frequência. Tento fazer coisas que gosto e me alienar um pouco, mas parece que nada mais faz sentido com tantas mortes, com tanto descaso, com tanto medo…

Minha mente me auto sabota o tempo todo e eu deparo com versões de mim mesma que gostaria de deixar no passado. Às vezes, me lembro de respirar fundo. E repito. De novo. Várias e várias vezes.

“Contando os dias sem saber quantos dias faltam…”

Me sinto solitária. “Solidão diz mais sobre estar longe de si, do que sobre não ter companhia” e eu que sempre fui um tanto só, nunca senti tanta urgência por companhia e tanto pavor em, justamente, acabar sozinha. Quero olhar nos olhos de outro alguém, quero abraçar, beijar, apertar a mão que seja. Quero contato. Físico. E metafísico.

Apesar disso, eu gosto do silêncio. Já existe barulho demais dentro da mente. Será que é por isso que dói tanto? Tenho repetidas dores de cabeça, e agora também nas costas por aguentar alguns fardos. Há fantasmas me rondando antes de pegar no sono e tento lidar com eles até adormecer. Quando acordo vejo que ainda estão à espreita.

Há momentos em que queria poder não ser eu por alguns instantes… é pesado demais. É tudo demais. Como a canção de Maysa… Sempre “correndo, chegando no mesmo lugar”.

É um terreno delicado o das incertezas. Penso em escrever, mas odeio toda palavra digitada inclusive todas essas aqui transbordadas. Juro que a pior prisão é dentro de nós.

Essa quarentena que não vejo mais fim, nem saída, nem rota de fuga está sendo um exercício diário de crises, choros, saudade e raiva. Mas também conexão, processos e entendimentos de mim mesma e de tudo e todos que me cercam. Um exercício diário de se reinventar e tentar não perder completamente a fé, a esperança — e a sanidade, porque uma parte de mim ainda se lembra de que é do caos que nascem estrelas.

Seguimos. (En)frente.

--

--