Por que você precisa (e deve) ser um "influencer" de UX dentro da sua empresa

Priscilla Albuquerque
ILA18
Published in
7 min readSep 11, 2018

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Há um tempo que o mercado digital passou a entender de forma mais clara a relevância do UX para o sucesso de um produto. Mais do que nunca o mercado está aquecido, mais do que nunca os gestores de tecnologia e áreas afins tem desejado trazer esse conceito para suas soluções. É definitivamente um momento único para nossa área no mercado nacional e isso é refletido em eventos das mais diversas áreas, em situações onde você menos espera esbarra com alguém referenciando ou citando o quentíssimo termo "UX". Posso afirmar como usuária frequente de eventos que vão do "empreendedorismo", "tecnologia", "inbound marketing" ao "growth hacking" e "inovação", que o termo está super presente no discurso de muitos palestrantes.

A cultura e o grau de maturidade UX

Claro que sabemos, pensando nos modelos que indicam o grau de maturidade de UX nas empresas, que os primeiros passos de evolução passam por fases onde a prática do user experience design não existe de fato e está presente apenas do discurso (você consegue ver mais a respeito de maturidade UX nesse post e nessa palestra da Cats).

Modelo de maturidade de UX nas empresas (adaptação Catarinas)

Existem, claro, diversas empresas ou startups com times estruturados e atuantes de forma estratégica no desenvolvimento de produtos. Como uma boa prática, é interessante acompanhar como esses players tem feito, por quais desafios eles ainda passam e por quais caminhos percorreram para chegar no ponto onde estão hoje. Deixo o registro que benchmark sobre cultura de UX é essencial, não importa em que ponto da jornada você esteja, sempre vai ter alguém que já passou por isso e pode te dar excelentes insights para superar alguns perrengues.

Esse movimento de mudança de mindset certamente é mais fácil visto por fora do que por dentro. Existe um visível gap entre o fato dos responsáveis quererem que seu produto tenha "um bom UX" e o apoio real às práticas que levam a este resultado. Mas nem todos os envolvidos no game costumam ter clareza sobre essa deficiência. Geralmente acreditam que já deram um passo enorme contratando o tal do profissional de UX design para o time. Até que se prove o contrário, esse simples gesto deveria ser suficiente para resolver todo e qualquer problema de usabilidade ou de experiência do produto, não é mesmo?

Na maioria das vezes espera-se que a "pessoa do UX" tenha seus superpoderes (obviamente) e que com apenas sua visão crítica consiga resolver qualquer barreira de acesso e adivinhar todas as potenciais dificuldades dos clientes. Ir para rua pesquisar usuários? "Não não, para isso não temos tempo agora, precisamos que você resolva aqui algumas outras telas e criações, afinal você é o único designer do time". É impressionante o quanto esse cenário é comum e quantos profissionais de UX ainda vivem no looping de: preciso melhorar o produto X não tenho tempo nem abertura para envolver usuários externos de verdade ou rodar o processo como ele deveria ser.

Apesar dos projetos/clientes na Catarinas serem quase sempre uma bolha à parte dessa realidade, ouço e vejo isso acontecer com muita frequência com profissionais de UX por aí. Isso na minha visão deixa claro e reforça a hipótese da incoerência entre discurso e ação, expectativa e realidade, super refletidas nível 2 ("discutindo") do modelo de maturidade. Isso também aparece nos milhares cargos ou vagas que pedem pelo tal do "user experience designer" mas que estão longe de permitir ou incentivar que isso seja colocado na prática de verdade.

Transformar essa realidade depende de você :)

Um ponto que acredito ser essencial para continuarmos elevando o nível do entendimento do mercado sobre a nossa profissão, como ela funciona e porque deve ser levada a sério começa pela CAPACITAÇÃO e EMPODERAMENTO das partes envolvidas. Não adianta você adicionar o "U" e o "X" no seu Linkedin se você ainda não se deu ao trabalho de entender como acessar a mente do seu "U"ser, seja usando técnicas, processos, ferramentas e até por políticas internas para abrir espaço onde você trabalha. Uma dica básica pra quem está batalhando para começar a trazer o usuário para perto é a DESMISTIFICAÇÃO somada ao bom e velho KEEP IT SIMPLE! Abaixo um vídeo que fala mais sobre isso:

Você pode esperar um belo dia seu chefe acordar inspirado ou sair da empresa para que finalmente você tenha espaço para trazer o seu ponto de vista para mesa e então propor o que poderia ser feito. OU… você pode AMANHÃ mesmo abraçar o papel de "influencer" onde você trabalha e começar a contaminar seus colegas sobre o que acredita fazer sentido ou o que precisa ser feito para ter sucesso em termos de UX.

Leve uma palestra sobre UX ou com resultados das suas pesquisas para outras áreas da empresa, puxe um clube do livro com seus coworkers, incentive seus superiores a participarem de eventos de UX (o ILA Rio desse ano é uma oportunidade excepcional para começar inclusive) para que eles vejam o mundo lá fora, faça uma sessão de vídeo-cases com o pessoal, traga benchmarks de concorrentes que investem em UX, convide seu chefe para fazer uma visita à uma empresa madura em UX.

Persuasão e ousadia aliadas à criatividade nesse momento podem ser soft skills fundamentais para a construção de uma carreira significante onde você tem a oportunidade de contribuir com a consolidação da área de UX dentro das organizações. Parece apenas um discurso bonito, mas gente, você saber o que faz sentido e que deveria ser feito e não poder fazer isso por qualquer motivo afeta diretamente o seu resultado e não faz sentido quando você é o especialista no assunto. Essa palestra do Mike Monteiro dá um bom overview (bem no estilo "tapa na cara" Mike de ser) sobre 13 erros clássicos que designers cometem em apresentações para clientes, e vários deles está relacionado a essa questão de posicionamento, vale assistir!

Outra dica é dar uma conferida no UX Overtake, um curso presencial intensivo de product design, lançado pela Catarinas e Ideativo, com especialistas de mercado e totalmente focado em assuntos que vão além do UX e também explora questões comportamentais para levar profissionais da área para o próximo nível de sua carreira.

Os "influencers" nesse recorte que me refiro são aqueles sujeitos que carregam uma "bandeira" e que possuem essa importante missão de não deixar que a prática seja distorcida no dia a dia e que outras áreas também entendam do que se trata e quais resultados práticos isso traz para a empresa. O que você precisa fazer para se tornar essa pessoa transformadora de culturas, na minha visão, passa por alguns pontos fundamentais:

  1. Obtenha o máximo de conhecimento de causa e um forte embasamento técnico para que você tenha a argumentação necessária quando precisar entrar em embates com devs, gestores ou qualquer outra pessoa que vier questionar o que você precisa fazer para que as coisas funcionem (e acredite, elas virão..).
  2. Desenvolva seu autoconhecimento para saber no que você ainda não é bom ou não entende e assim reconhecer que pode ter uma visão limitada sobre alguns pontos (principalmente quando o UX do produto se mistura com questões de negócios ou marketing, por exemplo).
  3. Faça o máximo de benchmark que puder com empresas que vivem desafios parecidos com o seu. Muita coisa já foi descoberta, testada ou resolvida por aí, você não precisa partir do zero, use o conhecimento compartilhado para ganhar agilidade.
  4. Tenha um plano, proponha um processo, crie uma proposta consistente de abordagem que faça sentido no SEU ponto de vista de especialista UX considerando as particularidades do seu cenário.
  5. BE BOLD! Empodere-se e seja ousado e confiante na hora de levar suas ideias para frente. Por muito tempo o designer seguiu as diretrizes vindas do desenvolvimento ou de outras áreas em uma postura passiva e operacional de alguém que "cria telas a partir de diretrizes previamente delimitadas". Em tempos de customer experience o jogo virou amigos, faça uso disso, o UX é uma disciplina ESTRATÉGICA e não operacional.
  6. Flexibilidade e jogo de cintura também são essenciais. Tenha claro que você não vai ganhar todas as batalhas e vai precisar ceder e ponderar que existem limitações tanto técnicas quanto culturais envolvidas nesse jogo. Toda transformação cultural esbarra com pensamentos antigos que já estão lá há VIDAS. Você precisa começar pela mudança da CRENÇA do time antes de mudar os comportamentos.
  7. Sensibilize e envolva a maior quantidade de pessoas da empresa que fizer sentido. Existe nesse processo um jogo de "morde-assopra" intrínseco, você PRECISA ser enfático e se posicionar como especialista mas você também precisa tocar corações e fazer uma certa política para que as coisas desenrolem. Workshops e dinâmicas de co-criação são ferramentas excepcionais para isso pois você além de ganhar com a multidisciplinaridade das visões você faz com que todos se sintam parte do que está sendo feito e ouvidos.
  8. Além de influencer seja um FACILITADOR de processos. O seu papel chave nessa disseminação do UX é educar o seu entorno mas também conduzir as pessoas pelo processo ideal. A melhor forma de fazer com que adultos aprendam as coisas, segundo a andragogia, ainda é fazendo na prática.
  9. Número, métricas e resultados concretos serão seus maiores aliados. Toda gestão entende a língua dos números. Se você puder comprovar que seus passos estão impactando de alguma forma mensurável o desempenho do produto e refletindo em resultados (principalmente em dinheiros) sua abordagem será infinitamente mais eficiente.

E por fim…

Para explorar toda a interatividade que o Medium nos permite, deixo o questionamento sobre qual momento em termos de maturidade de UX você está vivendo na empresa onde trabalha hoje? Compartilha aí com a gente quais os principais desafios relacionados a cultura UX que você percebe no seu contexto. Quais as maiores barreiras ainda enfrenta? E o que tem feito para lidar com isso tudo? Bora compartilhar e trocar ideias pessoal! :)

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Priscilla Albuquerque
ILA18

Co-founder / UX strategist @Catarinas, Co-founder e facilitadora @UXOvertake e @SupernovaUXCulture