Design Sprint 2.0 - Afinal, o que é isso?

Buscando mais agilidade no processo de geração e teste de ideias, a metodologia do Design Sprint vem sendo refinada. Fomos aprender a versão 2.0 e compartilhamos com você.

Nina Vasconcelos Simões
ilegra
8 min readMar 1, 2019

--

Enquanto para alguns o último fim de semana de Fevereiro foi marcado pela euforia dos blocos de carnaval, a ilegra preferiu a companhia de um outro tipo de bloquinho: os de post-it.* Durante o sábado de 23/02, parte de nossa equipe bateu ponto no workshop Design Sprint na prática para aprender sobre o Design Sprint 2.0. Aqui, vamos compartilhar com você um pouco da nossa experiência e dar alguns pontos para refletir quando você pensar em aplicar um Sprint.

O que foi o evento?

Dia 23/02, a Nina Simões (UX Lead) e o Gustavo Araujo (Designer de Serviço) foram à sede da Stone Pagamentos logo pela manhã para aprender como a AJ&Smart, uma agência de Berlin que trabalha exclusivamente com Design Sprint, refinou o processo em uma metodologia ainda mais ágil.

A Bruna Silva, Product Designer da AJ, aproveitou a passagem pelo Brasil para dar o workshop organizado pelo pessoal da Product Arena. Foram oito horas intensas onde realizamos muitas das atividades do Sprint 2.0 para entender como as coisas funcionam, tornando nosso sábado pontuado de aprendizados e de bastante networking com os outros participantes.

Quais a diferenças entre o Design Sprint “padrão” e o Design Sprint 2.0?

Em resumo, o Design Sprint clássico dura cinco dias enquanto o Design Sprint 2.0 dura quatro. Mas para entender os detalhes dessa compressão, como ela ocorreu e por que ela faz sentido, precisamos de um breve contexto histórico.

O Design Sprint é um método estruturado para criar e testar soluções com rapidez, planejado para durar exatamente cinco dias. Embora o processo tenha ganhado bastante notoriedade nos últimos anos, em parte por sua agilidade de execução estar alinhada com a necessidade contemporânea dos negócios de buscar inovações em prazos curtos, o principal catalisador da popularidade do Design Sprint foi o livro lançado em 2016 pelo pessoal da GV, o braço de capital de investimento da Alphabet, empresa mãe do Google.

O processo tradicional do Sprint, com duração de cinco dias. — Fonte: AJ&Smart

Paralelo a isso, foi fundada em 2011 a agência AJ&Smart, que surgiu na Alemanha com a premissa de desenvolver produtos digitais com mais rapidez. Vendo a convergência entre a forma como operavam e com o que o Design Sprint propunha, o pessoal da AJ começou a trabalhar exclusivamente com sprints, e ao longo dos anos foi adaptando o processo até chegar em na versão mais enxuta com a qual tivemos contato durante o workshop.

No Sprint 2.0, o método foi comprimido para quatro dias. — Fonte: AJ&Smart

Mesmo que a primeira vista essa redução de tempo possa deixar alguns adeptos do método padrão descrentes, não se preocupe: Jake Knapp, um dos autores do livro e principal figura pública relacionada ao Design Sprint, deu sua benção ao modelo de trabalho da AJ, e inclusive colabora bastante com o pessoal de lá para criar conteúdos que ajudem a divulgar mais o processo.

Nessa nova versão do Design Sprint, a AJ&Smart conseguiu montar um modelo replicável para entregar o mesmo resultado em um dia a menos através, principalmente, da otimização de tempo de algumas atividade do Sprint clássico. Além disso, enquanto o Sprint padrão exige toda a equipe multidisciplinar trabalhando no desafio presente até o dia três, o Sprint 2.0 precisa deles apenas nos dois primeiros dias, mantendo apenas os designers nos dias três e quatro para desenvolver o protótipo.

E como isso funciona?

Aqui, vamos nos dar ao luxo de descrições abrangentes, pois de forma geral, as atividades do Sprint 2.0 são bastante parecidas com as do Sprint tradicional e já estão bem documentadas em diversos lugares por aí.

Vale pontuar também que a composição do grupo para um Sprint 2.0 é bastante similar ao Sprint regular, contando com um Facilitador para conduzir a equipe durante o processo e um Definidor, que idealmente é alguém da estrutura do cliente com alto poder de decisão. Além deles, o Sprint conta com mais outras cinco pessoas, totalizando sete integrantes com perfis multidisciplinares para atacar o desafio por diversos ângulos.

Para o Sprint 2.0, o recomendado é que quatro das pessoas (incluindo o Definidor) sejam do cliente e estejam presentes apenas nos dois primeiros dias, enquanto os outros três (incluindo o Facilitador) sejam do time de quem vai aplicar o Sprint e atuem em todos os quatro dias.

No workshop em questão, o nosso cliente fictício era uma empresa no setor de micromobilidade urbana. E sem mais delongas, vamos ao processo:

Entrevistas com os experts: Conversas com especialistas no problema que o Sprint busca resolver para obter informações importantes.

Como poderíamos…: Formulação de perguntas (nem tão abertas, nem tão fechadas) para serem usadas como desafio do Sprint.

Para definir o Como poderíamos…, existe um processo de votação e priorização visual chamado Árvore de Natal.

Mapa + Alvo: Desenho em alto-nível da jornada do usuário e seleção de um momento chave no qual a solução vai focar.

O mapa da jornada não precisa ser detalhado, mas precisa desmembrar a experiência do cliente o suficiente para garantir um pedaço específico no qual focar.

Em 2 anos…: Partindo do Alvo da jornada, é criada uma visão de futuro influenciada pelo impacto da implementação da solução.

Perguntas do Sprint: Receios e riscos da solução são redigidos como perguntas construtivas.

As perguntas do sprint ajudam a direcionar a criação de soluções orientadas para a visão de longo prazo de dois anos.

Demonstrações relâmpago: Os participantes pensam em outras soluções que respondam a desafios análogos ao do Sprint e as apresentam.

Esboço em 4 partes: Cada participante gera e refina soluções através de um processo estruturado com tempo limitado.

As demonstrações relâmpago inspiram a criação de soluções, que devem ser feitas de forma visual para facilitar a compreensão. — Fonte: AJ&Smart

Mapa de calor: Avaliação e votação silenciosa das ideias (ou partes delas) que cada participante acha mais interessante.

Apresentação das soluções: O facilitador do grupo lê para o grupo cada solução como forma de nivelar o conhecimento.

Pesquisa de intenção de voto: Os membros do grupo votam em silêncio nas ideias que acham mais relevantes.

Super-voto: O Definidor se baseia nos votos do grupo (ou não) para escolher qual ideia será desenvolvida.

A votação ocorre de forma silenciosa e individual para que as ideias sejam julgadas por seu valor, sem sofrer influência do autor.

Fluxo de teste do usuário: Desenho individual da jornada do cliente no uso da solução seguido da eleição coletiva e em silêncio da jornada que melhor atende o grupo.

Storyboard: Ilustração de cada passo da jornada selecionada. Não precisa desenhar bem, o importante é deixar a informação visual e compreensível.

Cada membro propõe uma versão da jornada, e a mais votada é detalhada em um storyboard completo.

Prototipação: Construção de uma versão rápida, suja e barata da solução visando puramente o teste, e não a implementação ou a entrega.

Testes com usuários: Colocar pessoais reais com o perfil do cliente para interagir com o protótipo, coletar feedbacks e melhorar a solução.

O que aprendemos?

Vivenciar o processo do Sprint 2.0 já é um aprendizado por si só, mas aplicando a visão consultiva da ilegra, também achamos legal (e importante) compartilhar com vocês nossas próprias reflexões mais aprofundadas.

O poder do silêncio: Um ponto interessante de como os Sprints funcionam é que a geração de ideias ocorre em dois sabores: momentos tradicionais de discussão coletiva e outros que são feitos individualmente. Essa dialética é bastante poderosa, pois dá às ideias prazo para maturarem ao garantir uma boa dose de divergência nos momentos em que cada um pensa sozinho, e depois faz com que todos se alinhem em um mesmo caminho quando a discussão envolve o grupo inteiro. Essa prática pode inclusive ser adotada de forma isolada fora de Sprints como uma alternativa aos processos tradicionais de brainstorming, que tendem a ruminar excessivamente sobre algumas poucas ideias por serem totalmente coletivos e por vezes impedindo que o grupo avance.

Não subestimar o poder da pesquisa: Em ambas as versões, o Sprint visa a velocidade na geração e teste de soluções, assumindo a entrevista com especialistas e a coleta da reação de clientes ante a solução como etapas de pesquisa. Embora este raciocínio não esteja errado, a rapidez do sprint torna curto o tempo que o grupo tem para desmembrar problemas complexos com o grau necessário de maturidade, e muito do sucesso de um projeto de Design passa por atacar o desafio correto. Embora o resultado de um Sprint possa indicar qual caminho seguir, a brevidade do método pode tornar pouco profunda a compreensão sobre o problema real e seu tamanho, papel que ainda deve ser empreendido pela pesquisa de design em ciclos mais extensos.

As atividades também fazem sentido fora do sprint: Por mais que o processo do Sprint tenha uma estrutura lógica para a sequência das atividades, elas também podem ser aplicadas de forma isolada. Tendo clareza no objetivo e os insumos corretos, qualquer atividade pode ser desmembrada e executada por si só sem receio.

O protótipo do Sprint é sempre parte de algo maior: O Sprint não tem como objetivo produzir uma solução pronta, mas algo simples que deve ser melhor desenvolvido com base nos resultados do teste. No entanto, também é essencial saber que por trás de um protótipo existe uma série de fatores como estratégia de negócio e atividades operacionais das quais a implementação da solução real depende, e que pela rapidez do Sprint e natureza de seus testes, tendem a não ser levadas em conta. Assim, aconselhamos que desafios com maior grau de risco e complexidade e caráter estratégico, como serviços ou modelos de negócio, contem com processos próprios mais robustos de pesquisa, desenvolvimento e teste. E estando adequadamente delineado, com certeza qualquer desafio pode se beneficiar de um Sprint.

Agradecimentos

Além da Bruna Silva, que nos ensinou o processo em nome da AJ&Smart e do Arthur Castro do Product Arena que organizou o evento, queremos também deixar registrada nossa gratidão pelo pessoal da Stone, pois fomos super bem recebidos pelo Antonio Lapa, pela Paula Ribeiro e pelo Pedro Rocha. Valeu!

A galera do workshop reunida no final para comemorar o sábado de aprendizado.
  • Os autores pedem desculpa pela piada dos post-its e carnaval feita no começo do artigo. Ela pareceu engraçada no momento.

Autores: Gustavo Ribeiro de Araujo e Nina Vasconcelos Simões

--

--

Nina Vasconcelos Simões
ilegra
Writer for

Product designer. MeNINA que fala uai, na terra da garoa, experimentando coisa nova.