A neurociência explica porque a Netflix é a mais amada entre todas as marcas.
Accenture e Fjord lançaram a pesquisa The Love Index para identificar as marcas mais amadas. A pesquisa foi feitas nos mercados dos EUA, Inglaterra e Brasil. As marcas foram analisadas dentro de um espectro de 5 dimensões: fun, relevant, engaging, social e helpful. O objetivo foi captar o sentimento de experiência das pessoas com as marcas.
O grande destaque foi o surgimento de uma unanimidade no amor: a Netflix — a marca mais amada nos 3 países. E esse feito merece uma análise profunda para entendermos porque ela é a mais amada.
Netflix é TV?
Existe a TV e existe Netflix. Vamos excluir da nossa análise o conceito de TV como um aparelho, e deixar apenas no abstrato. A TV é percebida como aquela que impõe uma programação para um público, que decide se vai assistir ou não. Para ganhar o máximo de audiência, a empresa baseia sua programação em pesquisas e estudos. Isto faz com que se crie uma recepção de conteúdo uniforme pelos telespectadores, que diante da TV, o aparelho, consomem o mesmo conteúdo.
Com a Netflix, já sabemos: a pessoa decide o que quer ver, na hora que desejar, podendo pausar, voltar e avançar o que está vendo, sendo limitado apenas pelo acervo disponível.
Mas porque a Netflix é a mais amada? A neurociência ajuda a explicar.
Além das 5 dimensões usadas na pesquisa servirem de base para se entender os motivos do amor à Netflix, podemos observar através dos conceitos da neurociência como a marca invade o cérebro das pessoas, captura seus sentimentos e gera esta paixão.
A Netflix seria apenas um serviço de streaming como outros, se fosse apenas um serviço de streaming. A Netflix vai muito além, e tem a habilidade de fisgar seus clientes pelo coração através de uma coisa: personagens.
Esta é a palavra sagrada que a Netflix cultua. A marca utiliza personagens para conseguir aderência em algo que as pessoas têm como vínculo emocional, seja recente ou antigo. Ela se faz grudar em grandes personagens, seja os já amados, como o Demolidor, ou que ainda passaram a ser amados, graças ao investimento e aposta da marca, como Frank Underwood.
A relação emocional que as pessoas têm com os personagens faz com que eles fiquem prensados na memória das pessoas com muito mais força, ocupando um considerável espaço na mente. É no sistema límbico, região do cérebro ligado às emoções, que esses personagens habitam, e é lá que a Netflix entra de carona com os personagens.
Quando as pessoas tomam conhecimento que a Netflix é responsável pela possibilidade de ver o Demolidor em live action na sua TV, elas só têm a agradecer à marca, e passam e amá-la cada vez mais. E com Jéssica Jones e Luke Cage?! É um amor crescente fazendo as pessoas venerarem a marca. O pensamento lógico é: sem a Netflix, isso não aconteceria.
Saindo do mundo heróis, vejamos House of Cards. Antes da Netflix, não existia Frank Underwood na mente de ninguém. Mas graças à Netflix um novo personagem foi inserido no sistema límbico das pessoas e a Netflix foi junto.
Uma grande prova do foco em personagens é como a Netflix apresenta hoje suas produções no site: com grandes imagens do rosto dos personagens das séries.
Valorizar os personagens para valorizar a marca. Pense nas grandes séries que ganham o “Original Netflix”: Stranger Things, Black Mirror, Narcos, Orange Is The New Black, Marco Polo, Sense 8, dentre muitos outros. São os mais variados personagens para a Netflix conquistar a mente de vários perfis.
Por isso, enquanto a Netflix continuar a investir em personagens, a marca será cada vez mais amada, e continuará a ser uma grande personagem no mundo dos negócios da nova economia.
Ah, e os filmes que a Netflix investe, também têm influência nesse amor? Sim, têm. Mas com peso menor. E o motivo é que a relação das pessoas com os personagens é de curta duração, já que a exposição aos personagens tem cerca de 2 horas. Numa série, a exposição é de 8 horas, 10 horas ou até mais de 20 horas. Isso leva a fixação no límbico ser maior. E é isso que a Netflix quer: ficar junto com os personagens, mais tempo no seu límbico.
Por Claudio Palmieri
UX Specialist na Accenture
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Revisado por Natascha Cristina Lopes