Reloads mentais
A imersão da mente nos ambientes
Quando você chega em um lugar novo, o seu cérebro logo começa um trabalho de reconhecimento da área. Para proteger o corpo a qual ele pertence, busca tornar o local um lugar íntimo. Mas também faz todo esse trabalho para uma outra coisa: economizar energia futura. Isso porque num retorno futuro o seu cérebro estará um pouco mais no automático na interação com o local, o que o fará economizar energia. Com essa frequencia de visita aumentando no mesmo local, como por exemplo ao morar num novo bairro, o automático torna-se presente de fato: tornando o lugar menos nítido e mais embassado. Ele passa a permitir apenas atenção a algo novo no ambiente.
E esse novo que reativa o cérebro podemos chamar de reload mental. Quanto menos reloads mentais, mais profundamente e continuamente estaremos inseridos no ambiente.
Usando essa ótica da mente, podemos analisar como somos mais, ou menos, inseridos no universo das histórias criadas para o cinema. Vejamos:
Reloads Tarantinescos
Em vários filmes do Tarantino, o seu cérebro precisa fazer constantes reloads para se colocar na compreensão das cenas, e consequentemente, da estória. Como em Pulp Fiction em que, no decorrer do filme, você passa por diversos ambientes, e em cada ambiente diversas mudanças de foco em personagens e mudanças de ângulos. A cada corte, sua mente dá um reload mental para captar as falas, expressões dos atores, posicionamentos de objetos, mudança de luz, novos personagens que surgem na cena e tudo isso em milésimos de segundos. Mais um corte: reload. Outro corte: reload. Um tiro qualquer: e outro reload.
Imergindo com Gravidade
No filme Gravidade, de Alfonso Cuaron, o espectador tem 12 minutos iniciais de um ballet visual no espaço, e tudo sem um corte. Você vai com sua mente ao encontro do ônibus espacial, acompanha o George Clooney curtindo o espaço, vai para a Sandra Bullock concentrada no seu trabalho, vê de perto o conserto do Hubble, flutua ora com um, ora com outro, acompanha o desespero com o bombardeio dos destroços espaciais. E todo esse tempo sem um único reload mental de reconhecimento espacial (localização e elementos na cena). Isso porque Gravidade insere o seu cérebro num ambiente de forma progressiva, onde gradativamente vai introduzindo elementos que compõem todo o ecossistema do filme. Seu cérebro se familiariza com todo o ambiente, e começa a torná-lo tão comum que não precisa mais gastar energia para reconhecê-lo. Focando assim em pontos centrais da trama. Mesmo com alguns poucos cortes, o ambiente é essencialmente o mesmo, gerando o mínimo de reloads mentais.
Esse mesmo trabalho pode ser reproduzido em projetos de UX, arquitetura de ambientes, design de interiores de lojas, espaços de exposição e até em trabalhos de branding. Entendendo como a mente trabalha os seus reloads de reconhecimento e interação com o ambiente, podemos realmente gerar imersões profundas nas pessoas, tornando uma experiência quase real para o cérebro.
Agradecimento a minha esposa Natascha Cristina Lopes pela revisão do texto.
Esse texto foi publicado no Update or Die: http://ow.ly/DC9mu
Claudio Palmieri
Co Founder at Gennium Lab, Digital Planner/Creative, UX Specialist, Interactive Designer and Innovation Lover.
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