Histórias do passado

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3 min readNov 12, 2018
Maria Neiva de Souza Pinheiro

Daiani Pinheiro

Atualmente o que se vê são famílias “afastadas” do contado físico, da conversa ao vivo, não havendo mais interação real. Há sempre um smartphone, um notebook ou um tablet que transforma o que antes era uma conversa pessoalmente em emojis do Whatsapp. Porém, há anos atrás, nada disso existia, o povo vivia sem a interação digital e para se distraírem as famílias se reuniam perto dos fogões a lenha e contavam histórias, histórias essas que muitas vezes eram de terror.

Maria Neiva de Souza Pinheiro, hoje com 74 anos, viveu naquela época e presenciou as mudanças que o mundo sofreu. Era menina e se lembra das noites de conversas que tinha com sua família. Na época, conta ela, fenômenos sobrenaturais aconteciam com frequência, como aparições de fantasmas, lobisomens e seres não humanos, e era a partir dessas aparições que as histórias se embasavam.

Na época, afirma a senhora, as casas eram simples, não havia luz elétrica e o fogão era a lenha, e era perto dele — por causa da luz do fogo que iluminava o ambiente, que as histórias eram contadas. Não só a família se reunia, mas também vizinhos vinham para essa roda de conversa, que aconteciam sempre a noite, depois de um longo dia de serviço na roça.

Maria Neiva, em entrevista, contou uma das histórias que ela se lembra que eram faladas naquelas noites: “Me lembro de uma vez meu pai e minha mãe contarem que estavam andando em uma noite próximos de casa, e por perto havia um rio e uma pequena cachoeira que se escondia atrás da vegetação. Os dois contavam que ouviram um barulho que vinha do lado da cachoeira e do nada surgiu uma luz forte que vinha do mesmo lugar. Logo depois disso surgiu um caminhão cheio de pessoas dentro, era como se ele saísse de dentro da cachoeira, e veio em direção da estrada que eles estavam e depois foi embora. No outro dia meus pais voltaram até o local, pois como era um caminhão, com certeza teria ficado rastros no lugar, só que quando chegaram lá não tinha nada, nenhum mato amassado por rodas, estava normal e então eles perceberem que tinham visto, na verdade, assombrações”.

As histórias eram fantásticas, porém, Maria Neiva afirma que realmente aconteceram e que todos os fatos dessas conversas que faziam perto dos fogões a lenha eram verdadeiros. A senhora relatou uma que ela mesma viveu: “O filho de uma conhecida da nossa família morreu recém-nascido e na época a gente sabia que os lobisomens vinham atrás de crianças pequenas para comer. No velório do bebê eu fui também com a minha família, ficamos por um bom tempo e quando já era noite começamos a ouvir barulhos no quintal da casa, pois o corpo da criança era velado na residência mesmo. Logo todos já suspeitaram que poderia ser um lobisomem atrás do corpo do recém-nascido e então saíram para o lado de fora para tentar espantar o bicho. Realmente era um lobisomem e durante toda a noite os homens que estavam no velório ficaram de guarda para não deixar o bicho entrar”.

Hoje em dia não mais se conta essas histórias que antigamente eram corriqueiras nas rodas de conversas. As pessoas não têm mais tempo para nada e as conversas familiares se tornaram raras atualmente. Maria Neiva, porém, afirma que gosta de relatar essas vivências para os filhos e netos e diz que a família, diferente de muitas nos dias de hoje, se interessam em ouvir essas histórias fantásticas que o povo contava antigamente.

Infelizmente, nem todas as famílias são como as de Maria Neiva e com o passar dos anos essas conversas foram se perdendo com o tempo, permanecendo vivas apenas nas memórias daqueles que viveram naquela época, como a Dona Maria Neiva, que recorda com saudades as conversas e as histórias do passado.

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