A herdeira

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2 min readJun 23, 2018
Photo by Katy Cao on Unsplash

A pequena cidade de Itu do Norte era pacata na maior parte dos sentidos. Desigual, mas pacífica. Mesmo assim era impossível não saber das fofocas que surgiam. Uma delas dizia que o casamento de Maria Cristina com Carlos Roberto já não era como antes. Alguns falavam que isso era normal, mas outros culpavam as tramas de Ana Vitória, a herdeira da fortuna dos Silveira, a família mais poderosa da cidade. Diziam que ela nunca soube lidar com o fato de Carlos ter escolhido Maria e não ela e, desde então, fez o possível para estragar o casamento.

A mais antiga intriga que Ana planejou foi no próprio casamento. Seu plano era interromper a cerimônia e revelar que perdeu sua virgindade com Carlos quando tinham 19 anos. Por isso, segundo as tradições, ela deveria ser a esposa e não aquela insuportável. Mas a ideia não deu certo porque ela foi barrada na porta. Mesmo seu pai conseguiu entrar e ela não.

Com o tempo e várias frustrações, ela chegou a fazer diversas plásticas e se insinuar para Carlos, mas nada parecia adiantar. Ela então decidiu que precisava de um plano maior e melhor. Algo que não falhasse. Estava decidida a contratar um assassino de aluguel. Seu pai com certeza deve ter usado o serviço de algum para ter ganho tantas eleições. Ela tinha ouvido até um boato de que era filha adotiva: seu pai não podia ter filhos e um jagunço de confiança a vendeu quando era bebê.

Ela não se importava com isso, era rica, tinha tudo o que quisesse. Menos seu amado, Carlos Roberto. Mas logo isso mudaria, ela estava certa. Os arranjos para o assassinato estavam feitos. A hora e o local também. Eles planejaram para que a lambisgoia morresse como criminosa, para evitar qualquer luto do marido.

Ana Vitória estava pronta, indo para o local combinado, com o dinheiro na mala para entregar ao assassino. No caminho, enquanto dirigia, seu brinco esquerdo se soltou de repente. Quando ela se virou para pegá-lo, sua outra mão continuava no volante e o virou também para a esquerda, de onde vinha um caminhão.

O acidente matou Ana Vitória e o motorista do caminhão. Seus planos não deram certo mais uma vez. Sua morte não foi muito sentida, a não ser por seu pai, que não tinha mais herdeiros. Mas alguém estava feliz, o mendigo que tentou salvar a moça e acabou encontrando uma mala com cinquenta mil reais.

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