O Açougueiro
Gotas de sangue caem lentamente no chão, os cortes são precisos, apesar da pouca luz. Uma mão faz um movimento calculado, que corta a barriga de ponta a ponta. A outra, atrofiada, alcança o intestino e começa a puxá-lo. A mão com a faca, de modo sincronizado, vai cortando o órgão ao meio, enquanto os restos da digestão caem na bacia abaixo.
Ele sente prazer naquela tarefa. O cheiro podre do corpo ou daquilo que já foi alimento não o incomoda. Pelo contrário, é um sinal de que está no caminho certo. Sons de carros de polícia, tiros e gritos ecoam na vizinhança, mas ele segue concentrado.
Um outro som, no entanto, o irrita. Ele nota um barulho abafado vindo do canto mais distante da sala. Um homem, bastante gordo, está amarrado e amordaçado, mas se contorce em uma cadeira. O açougueiro deixa sua faca de lado e pega um frasco na mesa com um pequeno pedaço de pano. Depois de molhar o pano com o pouco do líquido do frasco, chega ao lado da cabeça do homem e segura fortemente o pano contra a narina dele. Depois de alguns espasmos, o homem já está em silêncio novamente.
Ele volta então ao seu trabalho. O cadáver, que estava nu, reforçando sua magreza extrema, foi pendurado como uma peça de frigorífico. Cortes podiam ser vistos em várias regiões do corpo. Nos braços, na altura do que foram os cotovelos, eram vistos apenas círculos de sangue sem pele, o nariz também havia sido retirado, assim como os mamilos e, por fim, uma grande abertura na barriga, com a maior parte do intestino pendurada e cortada pela metade.
Logo os convidados chegariam, por isso ele precisava se apressar. Poucos minutos foram necessários para terminar de preparar o intestino, abrindo todo ele e retirando seu conteúdo. Em seguida, procurou por um grande alicate na mesa e retirou cada um dos dedos dos pés com um forte clique. Com isso, o espécime já tinha lhe dado tudo o que precisava.
Agora o ator principal devia ser preparado para a apresentação. Ele volta ao homem amarrado à cadeira, tira sua mordaça e a substitui por um dispositivo de metal que mantém a boca do seu usuário aberta. Pega um pedaço grande de pano xadrez branco e vermelho e o posiciona acima da cabeça do homem, mede aproximadamente e faz um corte redondo. Este então é vestido no homem. Sua cabeça é raspada e já é quase hora da ação.
O homem desperta, se angustia com aquela coisa presa ao seu rosto, então tenta, em vão, fechar a boca. Mas não importa o esforço que faça, aquilo não cede e ele só consegue sentir um gosto de ferrugem descendo pela garganta. Nesse momento, ele se dá conta de que não está mais sozinho com o louco, uma dezena de homens e mulheres bem vestidos se espelham pela sala olhando-o fixa e avidamente.
O açougueiro, com a mesma roupa suja de sangue e excrementos, dá um passo a frente. "Pronto, senhoras e senhores. Nosso protagonista está preparado para o show"