Refletindo

Baquiones
Imagine S.A.
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2 min readFeb 2, 2018

As curvas eram diferentes de outras que ele já tinha visto pessoalmente. Seu olhar, no entanto, tinha um mistério peculiar. Não era exatamente algo ao estilo Monalisa, mas algo de triste e sedutor ao mesmo tempo. Fazia parte daquele conjunto de sutilezas que só os que já experimentaram vários sabores da vida conseguiam identificar.

Ele se lembrava de ter passado por várias estátuas nos museus que visitou em cada um dos continentes. Ainda assim, nada era similar à conexão que conseguiu criar com essa obra. Talvez o cansaço de ser um viajante há tanto tempo tenha um peso nisso. A estátua também estava sozinha naquele cômodo: ao mesmo tempo nada e tudo ao seu redor. Ele era o único a lhe fazer companhia naquela tarde.

Andando ao seu redor era possível notar os efeitos da luz, diferentes perspectivas e diferentes faces do mesmo momento em forma de pedra. Quem dera fosse capaz de criar uma obra nesse nível, pensou o visitante. Ele não tinha essa capacidade admirável de transpor um instante, algo tão vago e intenso, para um objeto inanimado, mas que parecia tão vivo quanto ele.

O sol começava a se apressar na sua despedida. O visitante não tinha se dado conta dos vários minutos passados enquanto admirava aquela peça de arte, que, no fim das contas, tinha um quê de espelho. Um espelho diferente, que conseguia mostrar claramente suas emoções num corpo nu e indefeso.

Mesmo assim, já era hora de ir ou ele poderia acabar tragado pelo espelho e ninguém sabe exatamente o que tem do outro lado.

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