Sábados

Letícia
Imediatismos
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2 min readJan 7, 2023

Hoje o sábado está com som de sábado…

Foto de Maxime Amoudruz en Unsplash

Esse é um som que me lembra da minha infância… sentada ao quintal da minha casa entre o silêncio e sons distantes em uma mistura que só poderia significar que aquele era um sábado comum.

Primeiro devo explicar que existem alguns tipos de sábado: existe aquele em que estamos fora de casa, vivendo coisas novas em lugares diferentes. Existe aquele que é o da casa cheia — de amigos, de parentes que chegam para visitar com seus filhos e aqui tudo é festa e barulho. E então existem os sábados comuns, sem grandes novidades, só a rotina da semana sendo interrompida pela rotina do fim de semana. E claro, a organização desses tipos variam de família pra família, de vida pra vida.

O meu sábado comum é feito de solidão, de sons baixos, de barulho de pássaros e de carros passando ao longe. Pra mim os sons nesse dia são meio abafados — não saberia explicar o porquê, mas enquanto durante a semana tudo é nítido, aqui os barulhos vêm em borrões, como que pra não perturbar a paz de um dia tão cheio de sutilezas.

Consigo ouvir o farfalhar das folhas das árvores ao vento enquanto, ao mesmo tempo, consigo ouvir uma música tocando ao longe. Sempre tem alguma música tocando ao longe, não sei de onde vem e às vezes não consigo reconhecê-la pelo abafado que me chega aos ouvidos, mas ela está sempre lá. Parte da sinfonia que passou a significar o primeiro dia do fim de semana pra mim.

Hoje, aos 25 anos, em um lugar completamente diferente daquele onde passei os meus sábados de infância, parei dois segundos o que estava fazendo, ergui os dedos do tamborilar ritmado do teclado do computador, olhei para o céu nublado pela janela e me espantei com o reconhecimento dessa trilha sonora tão conhecida.

Exclamei pra mim mesma: Hoje o sábado está com som de sábado…

E não sei, na verdade, se essa disposição específica de sons existem em algum outro lugar que não dentro de mim e da minha memória.

Talvez cada pessoa tenha sua própria sinfonia pessoal.

E vão-se os lugares e ficam os sentimentos.

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