Os novos tempos e a seleção brasileira

Thiago Barone
Imponderável FC
Published in
4 min readJul 9, 2018

Fim da Copa e começa agora um novo ciclo na Seleção Brasileira. Mas de onde virão os jogadores que farão parte desse time?

Vinícius Jr e Paulinho jogando pela seleção brasileira sub-17

Desde a convocação da seleção brasileira para a Copa de 2018, muitos canais falaram, com ar de espanto, sobre esse ser o time com menor número de jogadores atuando no país. Para mim, esse não é mais um ponto. E, em 2022, muito provavelmente já teremos uma seleção só com eles.

Uma equipe formada só por atletas que jogam fora do país é uma realidade. O novo modelo de negócio que se desenha no futebol desde a Lei Bosman, em meados dos anos 1990, direcionou o esporte para o modelo globalizado e faz com que campeonatos dos países ricos dominem as negociações e aglutinem cada vez mais os principais atletas do mundo.

O cenário que vimos na seleção deste ano é um retrato destes novos tempos. Mas, indo um puco além, vemos outras faces desse retrato no time de 2018: a saída cada vez mais cedo dos jogadores brasileiros de alto nível.

Para entender melhor, selecionei todos os jogadores que defenderam o Brasil em Copas desde 1994. Com isso em mãos, separei os que estavam em times de fora do país e a idade que tinham quando foram negociados pela primeira vez.

O que isso quer dizer?

Para fazer o melhor negócio possível, além de identificar os melhores talentos com preço mais baixo, há a necessidade de se fazer isso antes de outros clubes. E aí começa a busca (e aposta) em jovens talentos.

No Brasil, sabemos bem como isso afeta o mercado. Atletas que mal começaram suas carreiras por aqui são vendidos para clubes europeus e se distanciam do torcedor. Essas apostas, além de evitar que os concorrentes tenham acesso a potenciais atletas de alto nível, possibilita que os times os treinem desde cedo e de acordo com aquilo que consideram o melhor modelo, evitando falhas na formação. Com isso, diminuem o risco do negócio.

Isso não é uma tendência, é um fato. Já está acontecendo e deve se acentuar nos próximos anos, visto que jogadores que se destacaram atualmente no país já foram vendidos.

  • Vinicius Jr (Flamengo) para o Real Madrid com 17 anos;
  • Paulinho (Vasco) para o Bayer Leverkusen com 17 anos;
  • Rodrygo (Santos) para o Real Madrid com 17 anos;
  • Malcom (Corinthians) para o Bordeaux com 18 anos;
  • David Neres (São Paulo) para o Ajax com 19 anos;
  • Lyanco (São Paulo) para o Torino com 20 anos;
  • Richarlison (Fluminense) para o Watford com 20 anos;
  • Guilherme Arana (Corinthians) para o Sevilla com 20 anos;
  • Maycon (Corinthians) para o Shakhtar Donetsk com 20 anos;
  • Felipe Vizeu (Flamengo) para a Udinese com 20 anos;
  • Arthur (Grêmio) para o Barcelona com 21 anos.

E há mais de onde eles vieram. Com certeza ainda perderemos Lucas Paquetá, Éder Militão, Liziero, Pedro, Roger Guedes…

Nova barreira

Há outro ponto que parece mudar nos próximos anos: jogadores que nunca atuaram no país e chegam à seleção.

Em 1994, apenas Zetti nunca tinha atuado fora do país. Em 1998, Zé Carlos; em 2002, Marcos e Rogério Ceni; em 2006, Rogério Ceni; e em 2014, Victor. Em 2018, houve um caso parecido, o de Ederson, mas que faz carreira na Europa e nunca jogou profissionalmente no Brasil.

Com a busca desenfreadas por jogadores que não sejam apenas atletas, mas também ícones do esporte, clubes europeus usam a estrutura social de seus países para atrair talentos cada vez mais jovens, antes da profissionalização. Desta forma, garantem os melhores negócios e evitam taxações por uso exagerado de dinheiro em negociações (a UEFA tem controle de gastos nesse sentido). Com isso, deve ser comum vermos jogadores que nunca atuaram por aqui vestindo a camisa brasileira.

Este novo cenário do futebol pode até soar apocalíptico, mas é a realidade atual. Em breve, nós, que fomos acostumados a ver nossos ídolos por aqui, teremos visto quase nada deles. Uma pena, pois é mais uma riqueza que produzimos e não temos acesso. E é essa riqueza que nos representará nos próximos anos — mesmo que não tenhamos visto seus valores.

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