A FOGUEIRA DAS VAIDADES

Magnificat Lux
Imprimatur
Published in
5 min readOct 12, 2022

Sóror Magnificat Lux AKA Infinitae Lucis

Do what thou wilt shall be the whole of the Law

Alguém se recorda do caos que é despertar? Ao mesmo tempo em que se encontra maravilhado ao descobrir sentido, se percebe imerso num visco pegajoso de moral que necessita de desconstrução. Não há mais volta. A ruptura já foi anunciada. O período de transição é encantador e angustiante. Você não pertence mais ao antigo mundo e ainda não está inserido no novo. Por isso, uma das frases que mais se ouve no início é: Persista!

O trabalho de desconstrução e reconstrução moral é pesado e promove ressignificação. Primeiro, do indivíduo em relação a si mesmo — quando começa a se permitir ir além dos conceitos e culpas estabelecidos ao longo do tempo através de religião, hereditariedade e inserção no quadro social, e inicia o processo de autoconhecimento. Depois, quando descentraliza e estende esse processo percebendo e aceitando o outro no mundo independente de identificação.

Lindo, se colocado desta forma (e não deixa de ser lindo mesmo). Porém, não se coloca um templo abaixo e outro é erguido imediatamente. Este trabalho requer, além da persistência, continuidade e, principalmente, vigilância, pois são muitos os desafios do ego. Se uma viga estiver fora de esquadro, poderá comprometer a edificação. Mais sensato colocar a viga no chão e recomeçar o trabalho do que perder toda Obra.

Observo uma tendência de vinculação de Thelema a movimentos sociais, políticos e de minorias. O homem tem uma forma única de se relacionar com o mundo. Neste contexto, toda luta diz respeito a pessoa como indivíduo vivente, consciente e atuante dentro de uma sociedade. O homem é político, mas e o Ser também é?

Adore a todos!

Piedade, simpatia e emoções semelhantes são fundamentalmente insultos à Divindade da pessoa que os excita e, portanto, também à sua. A angústia do outro pode ser aliviada; mas sempre com a ideia positiva e nobre de manifestar a perfeição do Universo. A piedade é a fonte de todo vício mesquinho, ignóbil e covarde; e a blasfêmia essencial contra a Verdade.”O Dever, B,6

Não consigo perceber Thelema neste cenário. Thelema suporta o direito de se lutar por nada além do que Tua Vontade, seja ela qual for.

“Tu não tens direito a não ser fazer a tua vontade” — Liber AL, I, 42

A iniciação é individual e particular.

Todo homem e toda mulher é uma estrela. Quer dizer, todo ser humano é intrinsecamente um indivíduo independente com seu papel e direção próprios.” — Liber IV, Teorema 6

O trabalho em cima de práticas e experiências que permite ir além nas esferas é consciencial. A partir deste ganho, o meio é favorecido e evolui. Esta é a solução do Profeta para os conflitos sociais. Qualquer posição que se tome em um meio social provém desse acesso. Se vais lutar ou não e por quais lutas, é um direito inegociável de cada sujeito, desde que esteja consonante à sua Verdadeira Vontade.

“Destas considerações deve tornar-se claro que “Faze o que tu queres” não quer dizer “Faze o que quiseres.” A Lei é a apoteose da Liberdade; mas é também a mais estrita das injunções.” — Liber II

Chamar o outro de gado, enquanto se cria o próprio rebanho é fazer proselitismo velando os “próprios vícios em palavras virtuosas”. Falar em acolhimento, desde que seja das próprias ideias, é “rejeitar a verdade deliberadamente” porque não favorece seu ponto de vista. Criticar duramente com sarcasmo e exclusão qualquer um que não seja o que se estabeleceu como padrão aceitável, que se oponha ou apenas se expresse de forma diferente, apenas porque não houve identificação da massa, é criticar o Universo alheio. O trabalho do Superior não é criar várias versões de si mesmo. É suportar o instruído com o mínimo de ingerência para que por si só descubra seu caminho.

“Todo homem tem o direito de ser o que é.

(Ilustração: Insistir que qualquer pessoa deve se submeter a nossos padrões pessoais é ultrajar, não só a outra pessoa, mas nós mesmos, desde que tanto a outra pessoa como nós somos igualmente oriundos da necessidade universal).” — Liber IV, Teorema 24

“Procure, se assim desejar, iluminar o outro quando surgir a necessidade.

Isso pode ser feito sempre com o estrito respeito pela atitude do bom esportista, quando ele está aflito por não entender a si mesmo claramente, especialmente quando ele especificamente pede ajuda; pois sua escuridão pode impedir a percepção de sua perfeição. (No entanto, sua escuridão também pode servir como um aviso ou despertar o interesse). Também é lícito quando sua ignorância o levou a interferir na vontade de alguém. Em todo caso, toda interferência é perigosa e exige a aplicação de extrema habilidade e bom senso, fortalecidos pela experiência. Influenciar o outro é deixar a cidadela desprotegida; e a tentativa geralmente termina em perder a própria auto supremacia.” — O Dever, B,4

Não deveria haver separação e disputas entre iniciados. “Lutai como irmão” sim, mas cada um à sua maneira. O desvio e a corrupção das leis de Thelema para confirmar a necessidade de um conjunto, para proteger e retroalimentar sua ideias formatando pessoas, significa que algo se perdeu no caminho. Não percebo a tal da emancipação da humanidade. Pelo contrário, mais limites. De nada adianta trocar o panteão se os mesmos valores e domínio continuarem sendo perpetuados. A transformação, mudança e evolução de um todo está ligado à abertura e acesso consciencial da parte. A parte pelo todo. A liberdade de procurar descobrir quem se é, o que se é e o que se quer é o que deve ser defendido pelos iniciados, independente da casta. O contrário é violência. Criticar e menosprezar o processo do outro porque não gratifica seus preconceitos, é agressão.

“Todo homem e toda mulher é uma estrela,” e cada estrela, move-se numa órbita determinada, sem interferência. Existe lugar para todos; é apenas a desordem que causa confusão.” — Liber II

Discutindo com meu superior, ouvi essa frase:

“Entender a dor do outro nos expõe à oportunidade de acolhimento. E por dor não é somente aquilo que dói fisicamente, mas também aquilo que falta no sutil, de não ter a direção. E acolhimento não é só afagar no momento agudo ou crônico, mas acolher como um manejo que suporta a cura ou direcionamento do caminho que deve ser trilhado” — Frater A.I. 131

Acolher está além das próprias ideias e de seu grupo. O ato de acolher independe de identificação e validação moral.

“Nunca permita que o pensamento ou a vontade de qualquer outro Ser interfira com o seu próprio.

Esteja constantemente vigilante para ressentir, e alerta para resistir, com ardor e veemência inesgotáveis ​​de paixão insaciável, a toda tentativa de qualquer outro Ser de influenciá-lo, a não ser contribuindo com novos fatos para sua experiência do Universo ou ajudando-o a alcançar uma síntese superior da Verdade pelo modo de fusão apaixonada.” — O Dever, A,7

Como Neófita da Santa Ordem, não faz sentido entender Thelema de outra forma.

Love is the law, love under will

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