DA SÉRIE: QUASE TUDO QUE SEI SOBRE A A.’.A.’. — O QUE NÃO É MUITO.

Quase tudo que sei sobre O Neófito

Frater F.
Imprimatur
Published in
28 min readAug 9, 2023

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Neste artigo é abordado:

O que é um Neófito
O Juramento de um Neófito
A Tarefa de um Neófito
Orientando os mais novos
Perguntas e Respostas

O que é um Neófito

O segundo Juramento/Tarefa que se toma na A.’.A.’. é o de um Neófito. Conforme Liber Collegii Sancti, ele pode ser contraído por “qualquer Probacionista que tenha completado sua tarefa a contento da A∴A∴”.

A palavra se origina do grego, νεόφυτος, que é uma junção de νέος (Neos), que quer dizer “Novo”, e φύτον (Phyton) que significa “Planta” mas também “crescimento”. Era usado originalmente para se referir a uma planta recentemente plantada ou germinada. Gosto de interpretar como “Novo Crescimento” já que, nas palavras do Juramento, “de muitas maneiras sutis a nova natureza agitará dentro dele”. Também conserva o significado mais comum da palavra, um novato na Ordem.

Vários Irmãos defendem que qualquer Probacionista que tenha passado pelo ano com assiduidade e fidelidade deve ser admitido ao grau de Neófito. Ora, em nossa Ordem nenhum grau é concedido, mas alcançado pelo aspirante, e, por mais óbvio que possa soar, só é um Neófito aquele capaz de funcionar como um Neófito.

Um Neófito jura “obter o controle da natureza e poderes do meu próprio ser.” Como poderia ele obter controle sobre algo que ainda desconhece? Como um artesão poderia exercer sua Vontade sobre uma oficina que contém matéria prima e ferramentas com as quais não está familiarizado? Alguém que entrasse assim despreparado na oficina precisaria se dedicar a conhecer aquilo que está à sua disposição. Da mesma maneira, qualquer Neófito que tenha sido admitido ao grau sem cumprir o Juramento de Probacionista, não será capaz de realizar o trabalho do grau. Na prática, será mais Probacionista do que Neófito de fato.

A despeito de qualquer necessidade individual que o Orientador de um Probacionista considere relevante para este avanço, a essencial é esta: Que ele tenha cumprido o Juramento anterior. Então, deverá passar pelo Ritual DCLXXI, o Liber Pyramidos, que o dedicará, consagrará e iniciará no grau em todos os planos. Por fim, assumirá o Juramento do grau.

O Juramento de um Neófito

Retirado de Liber Collegii Sancti, marcações por minha conta.

Controle

Esta palavra está presente nos juramentos da Primeira Ordem, de Neófito a Dominus Liminis. Mas qual parte da autarquia chamada “Eu” poderia ser eleita para dominar sobre as demais?

Em Cartões Postais para Probacionistas lemos que se deve ficar atento “para que naquela ideia não haja qualquer traço de imperfeição. Ela deve ser pura, equilibrada, calma, completa, apta em todos os sentidos a dominar a mente, como será. Assim como na escolha de um rei para ser coroado. Assim os decretos deste rei serão justos e sábios como ele era justo e sábio antes que se tornasse rei.”

Na mente de um Neófito inexperiente, várias idéias, funções, instintos, emoções e outras “partes do ser” lutarão pelo holofote da atenção consciente de maneira tumultuada. Aquelas que foram mais fortalecidas ao longo do desenvolvimento da personalidade terão prevalência sobre as demais. Não é certo que um dos cavalos se tornasse o cocheiro da carruagem! Portanto, a forma mais adequada de “controle” consiste em se desvencilhar do domínio de qualquer parte do ser que insista em se assentar no trono, e direcioná-la a trabalhar de maneira ordenada em seu próprio plano de funcionamento. Como nos orienta Liber Librae:

18. Portanto, como já foi dito: Estabelece-te firmemente no equilíbrio das forças, no centro da Cruz dos Elementos, aquela Cruz de cujo centro a Palavra Criativa proferiu no nascimento do Universo alvorecendo.

19. Portanto, sê rápido e ativo como os Silfos, mas evite frivolidades e caprichos; sê energético e forte como as Salamandras, mas evite irritabilidade e ferocidade; sê flexível e atento a imagens como as Ondinas, mas evite ociosidade e inconstância; sê laborioso e paciente como os Gnomos, mas evite a grosseria e a avareza.

20. Assim gradualmente desenvolverás os poderes da tua alma e te tornarás apto a comandar os Espíritos dos elementos.

Ser capaz de lançar mão de sua Natureza e Poderes no sentido de produzir resultados no plano da matéria à vontade é bom, mas muito mais importante é não estar mais à deriva no mar de sua natureza e poderes, à mercê de suas ondas. O mesmo para os graus subsequentes com relação às Fundações, Vacilações, Atrações/Repulsões e Aspirações do seu próprio ser.

O mesmo é declarado simbólicamente nos rituais do pentagrama:

  • Estou estabelecido no equilíbrio das forças, no centro da Cruz dos Elementos.
  • Cada elemento está estabelecido em seu devido plano para lidar com aquilo que lhe é próprio com alegria e beleza. Sobre eles são colocados “poderes executivos” que servem à Razão do Self — Ruach Elohim — e não à razão humana — Ruach Adam. Estes demarcam os limites da minha consciência, imperturbável por qualquer influência externa.
  • Dessa forma, o centro está livre para que nele brilhe o esplendor de seis raios cujo centro é o sol, para que floresça a rosa rubra na cruz de luz. A câmara nupcial está purificada e ordenada para as bodas alquímicas.

Se declara que os elementos são ferramentas mágicas do Self. Que o ser não é um joguete deles. Que o “centro” está livre para que o Não Nascido se manifeste. As partes do ser que antes buscavam ativamente o trono, agora esperam passivamente a vinda do Não Nascido, como é dito: “‘Vinde a mim’ é uma palavra tola; pois sou Eu que vou.” A polaridade também se inverte na vida e nos atos: O indivíduo não está mais no polo reativo diante das circunstâncias da vida, mas no polo ativo. Esta é uma marca bem definida do Neófito: Ele não é reativo perante às forças internas e externas, mas age sobre elas.

Zelo

Faz parte do Juramento de um Neófito “observar zelo em serviço dos Probacionistas abaixo de mim, e a negar-me completamente a seu favor.” Enquanto o Probacionista é uma semente que não faz mais do que se nutrir a fim de um dia germinar como uma nova planta, o Neófito deve crescer e frutificar.

É comum perguntarem “Ah, então eu sou obrigado a instruir?” e embora o indivíduo não seja obrigado a nada em momento algum, é apenas questão de bom senso que se cumpra aquilo que se Jurou.

A importância da relação de Instrução é dupla: Os orientados precisam que um Superior os guie pelo processo de maneira regular para que não se percam de seu Juramento ou enganem a si mesmos, assegurando que tenham obtido Iniciação real antes que possam avançar. O Superior precisa dos Orientados para equilibrar as tendencias individualistas que poderiam surgir em alguém que durante anos fosse preparado como um fim em si mesmo, presidente do “clube do Eu Sozinho”.

Ao orientar Probacionistas, o Neófito poderá perceber através do trabalho alheio alguma parte de sua própria matéria prima que tenha conseguido passar desapercebida pelo grau anterior. Ele perceberá na variedade de elementos de cada orientado certas características e abordagens do grau que de outra forma jamais lhe ocorreriam. Terá acesso a pontos de vista divergentes e experiências contrárias relativos ao período de Probação, e se buscar assimilá-las, poderá — como dito em Uma Declaração Sobre Thelema “adquirir em um único golpe uma imensidade de novas experiências ao invés de ter que passar por elas em detalhes”.

As dúvidas, questionamentos e até mesmo descobertas de tais Irmãos servirão ao Neófito para que ele expanda quanto do Universo sua consciência abarca. Não foram raras as vezes em que precisei me debruçar sobre materiais que eu não dominava ou recorrer ao meu Superior para que eu pudesse sanar com qualidade uma questão ou situação de algum Probacionista.

Em suma, embora orientar Probacionistas sirva aos propósitos da Ordem e sirva aos Irmãos mais novos, o que traz ao Neófito todas as vantagens de um trabalho de devoção — sobre o qual falo no Quase tudo que sei sobre Bhaktio trabalho também servirá ao Neófito, tornando-o ainda mais completo e equilibrado do que poderia ser sozinho.

A Tarefa de um Neófito

0. Que qualquer Probacionista que tenha completado sua tarefa a contento da A∴A∴ seja instruído sobre o procedimento apropriado: que é: — Que ele leia do princípio ao fim esta nota de sua função (…)

Uma vez que o Probacionista completou sua tarefa conforme descrita no Juramento/Tarefa do Probacionista, ele deverá ler esta nota de sua função. Nos tempos modernos, muitos Probacionistas tomam seu Juramento à distância, eles mesmos lendo seu Juramento. No caso de um Juramento presencial, o Neófito leria e ele ouviria a nota de sua função. O grau de Neófito marca os primeiros passos na “maioridade espiritual”. O aspirante não está mais nas aulas de direção, mas agora tem sua permissão provisória para dirigir.

Além disso, como está dito no 24º Aethyr “Audição é só do espírito”, apropriado para nossos Irmãos mais novos, “pois então a alma ouvirá e recordará”. Mas o Neófito foi constituído na Pirâmide e lhe foi retirada a venda. “Meus ouvidos já tinham ouvido a teu respeito, mas agora os meus olhos te viram.”

A visão é uma função atribuída ao elemento Fogo, relacionada à Luz enquanto emanação da Lei, e aos verbos Querer e Ousar. Que ele possa ser preenchido pela LVX e transbordar para os Probacionistas abaixo de si.

e assine-a, pagando a quantia de Um Guiné pelo Liber VII que será entregue a ele em sua iniciação, e de Um Guiné por esta Pasta de Documentos de publicações em Classe D, B-G. Que ele obtenha o robe de um Neófito, e confie o mesmo aos cuidados de seu Neófito.

Nos primórdios da A.’.A.’. Crowley-Jones, certos documentos eram de distribuição restrita ou, pelo menos, de difícil obtenção. Pagava-se, então, a quantia de um guiné por elas, o que equivalia a 21 xilings, ou uma libra esterlina. É o mesmo valor cobrado pelo primeiro volume do The Equinox. Mais detalhes sobre essa questão e outros aspectos históricos estão no excelente Sobre a Recepção do Probacionista.

Nesse caso, pagavam pelo Liber Liberi vel Lapidis Lazuli e pelos Juramentos de B (Neófito) a G (Adeptus Minor) do Liber Collegii Sancti, que, juntamente com o A (Probacionista), deixaria o Neófito de posse de todos os Juramentos da Primeira Ordem, mais o primeiro Juramento da Segunda Ordem.

Hoje em dia, o acesso a esses documentos é irrestrito e não se cobra qualquer valor monetário por eles.

Ele escolherá um novo mote com profunda ponderação e intensa solenidade, expressando a consciência mais clara de sua Aspiração que o ano de Probação lhe deu.

Esse é o único momento na Primeira Ordem que há uma instrução clara para que se tome outro Mote. Dificilmente o indivíduo entra na Probação e sai dela com a mesma visão sobre si mesmo e sua relação com o mundo e, podemos supor, isso se refletirá no Mote. Falei mais extensivamente sobre isso no Quase tudo que sei sobre o Mote Mágico, que se resume a: Não faz sentido que um futuro Neófito que realizou o trabalho à contento seja barrado por acreditar que o Mote de Probacionista ainda é adequado.

Que ele marque um encontro com o seu Neófito ao prazer do último para a cerimônia de Iniciação.

No passado, o ritual da Pirâmide se realizava conforme o obsoleto Liber Throa, que foi substituído pelo Liber Pyramidos, ambos sob a mesma numeração, DCLXXI. Enquanto o Throa era um ritual em grupo, o Pyramidos foi pensado para auto-iniciação, o que foi conveniente na época, e é ainda mais hoje em dia. Poderão argumentar que o Juramento diz “na presença de”, então, a presença é necessária. Bem, também está escrito que se deve pagar um guiné pelos livros, e duvido que isso esteja sendo cumprido. O encontro presencial, embora agradável e agregador, não é mais necessidade, exceto para aqueles que acreditam que é. Não sou um desses.

1. O Neófito não avançará para o grau de Zelator em menos do que oito meses; mas se manterá livre por quatro dias para o avanço no final desse período.

Assim como o Pyramidos ocupou sete dias consecutivos, Cadaveris ocupará quatro dias consecutivos.

2. Ele passará pelos quatro testes chamados de os Poderes da Esfinge.

Idealmente, os Ordálios relativos à Esfinge surgirão espontaneamente na vida do Neófito, e sendo o Zelator refinado o suficiente, conseguirá perceber a maturidade do Neófito. Quando tal não acontece, ou quando o Zelator acha necessário verificar, um teste pode ser dado. Pessoalmente, defendo que ambas as coisas sejam feitas. “Medir duas vezes para cortar uma vez só.”

Os quatro testes não são testes de gabarito em que seja possível “saber a resposta” ou “saber o que fazer” para ser aprovado. Se fosse possível capacitar um Neófito nos assuntos da esfinge meramente lhe comunicando algum conhecimento, eu o faria no primeiro momento após o Neófito tomar o Juramento. Não é possível, pois não é uma medida de conhecimento e sim de maturidade.

O que posso oferecer é Quase tudo que sei sobre os Poderes da Esfinge.

3. Ele se dedicará a compreender a natureza de sua Iniciação.

Sobre isso, minha sugestão de teste aos Probacionistas é de algum auxilio. As perguntas chave a se fazer são: “O que é um Neófito?” e “Como sei que sou um Neófito?”. Geralmente respondem sobre ter passado pelo período de Probacionista com assiduidade e disciplina, ter sido reconhecido como tal pelo Superior, ter cumprido uma tarefa ou outra, respondido um questionamento ou outro, etc. Isso te convence? Ah, se um Neófito pudesse se forjar com tão pouco!

Existe uma matéria prima desprovida de direção, que permanece à deriva pela vida ou se movendo de maneira desordenada e irregular. A fórmula do Neófito consiste em engendrar nela a fagulha divina para que irradie a Vontade que lhe dará energia e direção. Antes que isso possa ser feito, é essencial depurar tal matéria prima, purificando-a de tudo que não faz parte dela, mas com o que ela está emaranhada em quase todos os níveis. Para isso, é essencial conhecê-la melhor do que um ferreiro conhece o aço e as ferramentas do ofício.

4. Ele memorizará um capítulo de Liber VII;

Memorizar o capítulo de Liber VII complementará seu conjunto simbólico com os símbolos do desenvolvimento do adeptado e os movimentos ali presentes que culminam na emancipação do Adepto Isento e surgimento de um Magister. Se nada do que eu disse até o momento em diversos lugares o convenceu de que um capítulo deve ser escolhido e memorizado, não me resta dizer mais nada.

além disso, ele estudará e praticará Liber O em todos os seus ramos:

A Razão não deve ser eleita a governante das funções do ser. Embora eficaz em resolver muitos problemas da materialidade, falha em abarcar todos os aspectos do ser, já que ela própria é só uma parte disso. É necessário obter uma outra interface com a qual a mente consciente possa observar e interagir com as funções do ser. Essa interface é o Plano Astral — sobre o qual cabe ao Neófito adquirir controle perfeito conforme Uma Estrela à Vista. Se tal plano se estende além do Neófito, não vem ao caso para a presente exposição, pois o trabalho do grau diz respeito à seu próprio ser: A experiência é o casamento entre o que é percebido e a consciência pontual e ocorre dentro desta. Se o fenômeno está na consciência ou do lado de fora, é irrelevante, pois a experiência está sempre do lado de dentro.

Liber O é uma instrução adequada e equilibrada, suficiente para que uma grande maioria de Neófitos estabeleça essa tal interface, ou pelo menos dê passos firmes o suficiente para estabelecê-la através de seu próprio engenho com segurança e eficiência.

O que tenho a oferecer em adição a isso é Quase tudo que sei sobre Plano Astral.

ele também começará a estudar Liber H

Até onde tenho notícias, nunca foi publicado ou mencionado um “Liber H” em nenhum outro contexto. É improvável que seja algo diverso do Liber HHH. Assim como o grau de Neófito é associado à Malkut na Árvore da Vida, suas pricipais consecuções e instruções são associadas aos três caminhos que dali partem, e como verificamos em Liber Viarum Viae:

ת A Formulação do Corpo de Luz. Liber O.

ש A Passagem da Câmara do Rei. Liber HHH.

ק A Divinação do Destino. Liber Memoriae Viae CMXIII.

Diante do exposto deduzo que:

  • É pouco provável que Liber H tenha existido, exceto como referência à HHH.
  • Na hipótese de que tenha existido, Liber HHH provavelmente é uma evolução deste, como Liber Pyramidos é uma evolução do Liber Throa.
  • Liber HHH certamente é instrução adequada para o Neófito no caminho de Shin.

Liber HHH familiarizará o Neófito com os humores aquosos da “fonte de energia” de nossa Magick de Luz. Ofereço alguns pontos de vista sobre o assunto em Quase tudo que sei sobre Liber HHH.

e algum método geralmente aceito de divinação.

Quando dois indivíduos conhecem uma mesma língua, podem se comunicar de maneira eficiente. Da mesma forma, o consciente pode se comunicar com o que está além da razão através da divinação. Para isso, é necessário adquirir o mesmo vocabulário simbólico em três níveis: Racional, infra racional e supracional. O Tarot de Thoth — que no contexto da A.`.A.`. é um com a Qabalah e com o simbolismo thelemico — é provavelmente o método mais conveniente para a maioria. Adquire-se o vocabulário simbólico através do estudo, prática, memorização e psicodramatização do conjunto simbólico escolhido. Um bom primeiro contato com métodos de divinação são os Libri LXXVIII (Sobre o Tarô) e XCVI (Gaias).

Ele também será examinado em seu poder de Viajar na Visão do Espírito.

Como é de se esperar, é necessário submeter qualquer alegação de resultados ao teste da ciência, principalmente sobre assuntos tão abstratos sobre os quais podemos tão facilmente enganar a nós mesmos.

5. Além de tudo isso, ele realizará quaisquer tarefas que seu Zelator em nome da A∴A∴ e por sua autoridade possa considerar adequado confiar a ele.

A cada um, conforme suas necessidades individuais, poderão ser confiadas tarefas em prol do próprio Neófito — a fim de desenvolver algo que lhe falta — ou em prol da Ordem. O Zelator deve confiá-las apenas se convicto de que servem à Ordem e, por esse motivo, o Neófito jamais deve tratá-las com leviandade.

Que ele esteja consciente de que a palavra Neófito não é um termo em vão, mas que de muitas maneiras sutis a nova natureza agitará dentro dele, quando ele menos esperar.

Embora o Neófito seja essencialmente o mesmo indivíduo que era como Probacionista, sua Natureza humana foi imbuída com o Espírito. Seus hábitos e tradições — dos quais a ética é a expressão social — o mantém em uma rotina, e independente do quão produtiva e prazerosa essa possa ser ou não, ela conserva intacta o status quo. A nova — ou melhor seria dizer renovada — Natureza é o que fará com que aos poucos conquiste sua própria inércia, para que comece a se mover para fora de seu pequeno e confortável universo pessoal, expandindo os limites do que sua consciência abarca.

Essa pequena brasa pode ser assoprada a fim de que inflame o carvão do alambique do alquimista e, através do seu calor, a matéria densa possa ser volatilizada. Nisso, práticas que perturbem a rotina e, ao mesmo tempo, lembrem o Neófito da Grande Obra serão úteis independente de qualquer outro valor intrínseco ou prático que tenham:

  • O Resh interromeprá sua rotina habitual e mesmo o seu sono;
  • Dizer “à Vontade” antes das refeições refreará o tão natural impulso de iniciar o processo de alimentação tão logo se coloque diante do prato;
  • Asana colocará o corpo sob tensão por posições e tempo que não possui análogo no comportamento animal ou social humano;
  • Pranayama perturbará até mesmo o simples ato de respirar;
  • Jugorum interromperá o fluxo indiscriminado de palavras, movimentos e pensamentos.
  • E.t.c.

Falha em se dedicar à Grande Obra do grau fará com que o Neófito retome suas antigas rotinas. “Vou com calma, não há pressa!”, ele diz a si mesmo enquanto a energia e movimento adquiridos em sua Iniciação vão se dissipando. Mesmo seu tempo de vida escorre por seus dedos ano após ano. Dedica cada vez menos tempo para a Grande Obra de seu Juramento, adiando o trabalho do grau indefinidamente, mas de tempos em tempos sentindo aquela pequena brasa ainda viva lhe incomodando a vida vegetativa.

6. Na próxima vez em que o sol entrará no signo em 240° daquele em que ele foi recebido, seu avanço pode ser concedido a ele. Ele se manterá livre de todos os outros compromissos por quatro dias inteiros a partir daquela data.

Embora teoricamente possível, é de extrema dificuldade para o aspirante moderno realizar todo o trabalho do grau em tão pouco tempo. Será como no caso do Probacionista um período mínimo que poderá se estender conforme a necessidade individual.

7. Ele pode a qualquer momento retirar-se de sua associação com a A∴A∴ simplesmente notificando o Zelator que o introduziu.

Assim como no grau anterior, é possível encerrar sua conexão com a Ordem com extrema facilidade.

8. Ele proclamará abertamente em todos os lugares a sua conexão com a A∴A∴ e falará Dela e de Seus princípios (mesmo o pouco que compreenda) pois mistério é o inimigo da verdade.

Enquanto sugeri ao Probacionista que falasse da Ordem através do exemplo na vida e nos atos, é comum que o Neófito desenvolva um trabalho externo e se torne um farol para que os perdidos no deserto encontrem o caminho. Isso é feito em conformidade com sua Natureza e Poderes: Um ensina os princípios da Ordem com sutileza, outro funda uma ordem externa que age como escola de mistérios à serviço da A.’.A.’., outro traduz livros, escreve artigos, outro fala dela em sua música, pintura, poesia, e.t.c.

Uma medida de qualidade nisso é quando o Neófito começa a receber instruídos que se aproximam dele por virtude de sua própria luz. Essa é a maneira mais adequada de que se estabeleça a relação de instrução. Receber orientados através dos mecanismos estabelecidos por uma Chancelaria ou Linhagem é um ato de serviço em razão de uma necessidade. Muito melhor é que ocorra por meio do trabalho externo do Neófito, em que o elo mágico será estabelecido com maior naturalidade.

Além disso, ele construirá o Pentáculo mágico, de acordo com a instrução em Liber A.

É necessário construir o templo antes que o Deus possa habitá-lo. O pantáculo, enquanto “ferramenta”, deve ser a planta deste templo, o corpo do Neófito a edificação, e consciência do Neófito realizará o serviço espiritual, sem o qual o templo é só um prédio qualquer.

A ferramenta é como o estatuto social de uma empresa, o corpo como o prédio em que ela funciona, a consciência como a estrutura de colaboradores que a faz funcionar.

A ferramenta é como o projeto de um eletrônico, o corpo como o tal eletrônico manufaturado, a consciência é como o software.

A ferramenta é a receita do pão, o corpo é o pão propriamente dito, a consciência é a nutrição do ato de se alimentar dele.

O aspirante deverá construir o Pantáculo nesses três frontes: A ferramenta mágica, seu corpo (que não se limita apenas ao físico) e sua consciência. Dessa maneira desenvolverá, as qualidades do Pantáculo em sua Alma.

Como auxílio, ofereço Quase tudo que sei sobre o Pantáculo.

Um mês antes da compleição de seus oito meses, ele entregará uma cópia do seu Registro ao seu Zelator, passará pelos testes necessários, e repetirá para ele seu capítulo escolhido de Liber VII.

Assim era feito outrora, quando os meios de comunicação tornavam a distância proibitiva para laços mais estreitos. O melhor é que haja uma relação de instrução próxima e mais constante, em que a troca de ideias seja possível a qualquer tempo. O Neófito deve manter a prática do diário cuja utilidade aprendeu como Probacionista e encaminhará antecipadamente o registro de qualquer incidente relevante ao seu Zelator, conforme ocorra. Também poderá passar pelos testes necessários ao longo do caminho e recitar o seu capítulo escolhido sem depender da formalidade de um prazo.

9. Ele fortificará de todos os modos o seu corpo de acordo com o conselho de seu Zelator, pois o ordálio de iniciação não é leve.

O Probacionista deve ser casto e reverente, pois sua disposição frente ao corpo é passiva, de observador. Ele deve vê-lo como é, atentar-se para o que este venha a comunicar de sua Natureza e Poderes. Já o Neófito se coloca diante do corpo de uma forma ativa, a fim de fortalecê-lo e equilibrá-lo.

“Muitos indivíduos fixam os limites do corpo à máquina de carne e hormônios. Se dedicam simplesmente ao corpo físico e buscam entendê-lo e cultivá-lo de maneira sã e equilibrada para que funcione de maneira harmoniosa como ferramenta em sua Grande Obra. Outros, nem isso.” — Quase tudo que sei sobre o Pantáculo.

10. Assim e não de outra forma possa ele obter a grande recompensa, sim, possa ele obter a grande recompensa!

Orientando os mais novos

Em nossa Ordem é dito que “cego não guia cego”. Desde que alguns Neófitos encontram-se ainda ofuscados com a Luz após abrir seus olhos, torna-se necessário alguma orientação sobre como melhor conduzir nossos Irmãos mais novos.

Estudantes

Primeiro, devemos garantir que o Estudante tenha obtido um conhecimento horizontalmente amplo, embora sem profundidade, sobre os sistemas de magia, misticismo e iniciação, em especial os pilares principais que são a Magia Cerimonial, Yoga e Thelema. Isso habitualmente é feito oferecendo a literatura recomendada, e aplicando um teste escrito ao final do período. Vejo esse tipo de avaliação como obsoleta e ineficaz. Ela não medirá de verdade o conhecimento do qual o indivíduo consegue lançar mão em um dado momento, mas apenas a capacidade de pesquisa. Ele lê a pergunta, vai atrás da resposta nos textos recomendados, copia a resposta ou reescreve com suas próprias palavras, e vai para a seguinte sem reter quase nada.

A minha sugestão é que ao invés do questionário, ou em complemento a esse, seja marcado um bate-papo presencial ou por videoconferência, em que o Neófito e seu Estudante troquem ideias. Não deve ter tom de teste ou de “entrevista”, e ser o mais descontraído possível, com o Neófito guiando habilmente a conversa pelos temas que usualmente apareceriam em um questionário. Ali se revelará o que o indivíduo de fato reteve do que estudou naquele período, e ao final do papo o Neófito poderá dizer exatamente quais os pontos mais frágeis no conhecimento daquele Irmão, e recebendo-o ou não como Probacionista, poderá dizer o que ele precisa complementar.

Probacionistas

É importante que os Probacionistas tenham meios de te contactar livremente. Que a comunicação seja franca e informal, para que o Probacionista se sinta confortável para abordar qualquer tema.

Se você pudesse garantir o entendimento de apenas um conceito ao seu Probacionista, o mais importante com certeza seria que cumprir o Juramento é a Grande Obra do grau. Isso quer dizer que, naquele momento, nada tem mais importância do que “obter o conhecimento científico sobre a natureza e poderes de seu próprio ser”.

Muitos já escreveram sobre o tema, inclusive eu. Seria bom que tais artigos fossem sugeridos como estudo, mas mais importante é que numa conversa franca, o Neófito deixe explicado, sem margem para erro, que cumprir o Juramento é a única forma de se tornar um Neófito, e que as tarefas do verso do Juramento são os meios para que isso seja realizado.

Quanto ao diário, o orientado precisa compreender que não é uma formalidade ou forma de provar ao Neófito que esteve trabalhando, mas uma ferramenta na análise de si mesmo. Sendo a qualidade do diário tão necessária, acho temerário só descobrir o quão bem o Probacionista faz isso ao final do ano de Probação. Pratico e advogo que os diários sejam entregues semanalmente ou quinzenalmente, de forma que, já no início, se possa direcionar ajustes como quem regula um instrumento de precisão. Então, conforme o Probacionista adquire domínio da ferramenta, a entrega pode se tornar mensal.

Nesse ponto, sugiro que a frequência seja a que melhor comporte a sua necessidade. Quanto mais diário acumulado para leitura, mais você terá o que ler no futuro. E sim, o adequado é que você leia tudo aquilo que o Probacionista produzir — mais um motivo para as entradas serem tão concisas quanto possível.

Outra ferramenta de que lanço mão, é pedir que o orientado leia o que escreveu ao final de cada período — mensalmente, por exemplo — e escreva um resumo na terceira pessoa, como quem estivesse estudando um diário alheio. O instruo a não se basear em memórias e emoções, mas apenas na letra fria do que está registrado. Isso fará com que ele perceba as lacunas deixadas para se adequar no futuro, quais registros mais falam sobre aquele indivíduo que escreveu, e quais fatos não acrescentam quase nada. Ao saborear a refeição aprendem como melhor preparar a próxima.

A escrita e leitura do diário é o que traz o fator científico da tarefa do grau. O Probacionista pode adquirir uma percepção subjetiva de si mesmo, enviesado por emoção, ideais, necessidades materiais e vícios cognitivos. O que está registrado é muito mais objetivo que a memória.

Certa vez, um Irmão sob minha orientação me contou que parte de sua natureza era ser muito generoso. Pedi que ele verificasse em seu diário as vezes em que ele foi caridoso, ainda que doando de seu tempo, trabalho, etc. e ele não foi capaz de encontrar uma entrada sequer que corroborasse essa percepção subjetiva. Isso quer dizer que ele não era caridoso coisa alguma — e não há aqui juízo de valor! — ou que ele falhou miseravelmente em registrar algo que supostamente estava sempre ali se manifestando.

Na Probação, ensiná-lo a ter um bom diário é mais importante que ensiná-lo os detalhes da execução de qualquer ritual, e deve ter precedência sobre essas coisas, o que me leva ao próximo ponto.

Práticas do Probacionista

Já perpetuei no passado, como muitos ainda fazem, o erro de estipular que o Probacionista escolha uma prática fixa para realizar ao longo do ano, perseverando nela. Não existe precedente para tal determinação em qualquer documento oficial da Ordem, e até o momento, ninguém apresentou uma justificativa boa o suficiente para assim fazer. Falam em “testar a perseverança”, mas a Probação e prática do diário são testes suficientes, e se não fossem, o trabalho com Liber LXV seria. Falam em “desvelar a Natureza e Poderes”, mas novamente a liberdade de fazer como preferir desvelaria muito mais. Vejamos o que Colegii Sancti diz à respeito:

4. Ele deverá memorizar um capítulo de Liber LXV; e além disso, ele deverá estudar as Publicações da A.’.A.’. em Classe B, e aplicar-se a tais práticas do Iluminismo Científico conforme parecer-lhe agradável.

Sim, ao escolher livremente “tais práticas do Iluminismo Científico”, ele descobrirá muito mais sobre suas inclinações do que se forçando a uma prática única.

Em um comentário de Liber CLXV, Crowley diz:
“É presunção para um Neófito delinear regras; pois (a) por não ter qualquer relatório, possivelmente ele pode não saber o que seu Probacionista precisa; (b) a tarefa do Probacionista é explorar sua própria natureza e não seguir qualquer curso prescrito. Uma terceira objeção é que, ao colocar o Probacionista em Espartilhos, uma pessoa inteiramente flácida poderá se esquivar pelo ano de provação e se tomar um Neófito para a vergonha da Ordem.”

Sobre memorizar LXV

Crowley era um poeta com pleno domínio da lingua inglesa. Quisesse ele dizer “decorar”, “de cor”, “levar para o coração”, teria usado a expressão “learn by hearth”, extremamente comum para falar de memorização. Ele usou uma muito mais inequívoca e até menos habitual: “commit to memory”. Se você próprio memorizou um capítulo em sua Probação, sabe o efeito que isso traz à memória magicka, ao conjunto simbólico do inconsciente, e no aprendizado sobre si memso. Se não o fez e seu Superior o permitiu avançar sem testá-lo, você deixou de comungar de algo que a maioria deveria conhecer ainda Probacionista. Nunca encontrei motivo justo para negligenciar a memorização do capítulo de LXV.

Como saber se o Probacionista está pronto?

Embora os membros da Ordem consigam intuir o grau daqueles com desenvolvimento igual ou abaixo de si mesmos, isso carece de cientificidade. A percepção subjetiva do orientador poderia facilmente ser influenciada por diversos fatores, tais como simpatia pela pessoa, por suas ideias ou linha de trabalho. Pode ser que por pura chance o Probacionista tenha se comportado como um Neófito em algum assunto particular. Isso bastaria para o avanço?

Sou da opinião de que não. Também não parece certo avançar o indivíduo baseado nas respostas de algum questionamento ou questionário. Como então se certificar de que o Irmão está pronto?

Minha sugestão é que primeiro ele deve cumprir todas as tarefas do Juramento que, como sabemos, são meios para cumprí-lo. Uma vez que tudo tenha sido feito à contento, o Probacionista deve ser admitido a um período de “estágio”: Não deverá realizar o Pyramidos, tomar o Juramento de Neófito e nem receber Probacionistas, mas deverá em tudo mais agir como um Neófito e se aplicar à Grande Obra do grau e suas tarefas pelo período de no mínimo um mês, podendo se extender por quanto tempo o orientador perceba necessário.

Uma das duas coisas acontecerá: Ou ele será capaz de trabalhar tão bem nesses assuntos como qualquer Neófito da Ordem, ou ele se sentirá completamente perdido e, quase sempre, paralisado.

Ora, ser capaz de funcionar como um Neófito é comprovação compatível suficiente com “o método da ciência”. Se ele cumpre todas as formalidades, parece pronto na percepção subjetiva do Superior e é capaz de fazer o que um Neófito faz, não tenho quaisquer objeções quanto a seu avanço!

Por outro lado, para aquele que não cumpriu o Juramento de Probacionista, é impossível desenvolver a Grande Obra do Neófito, pois uma coisa depende da outra. Esses caem vítimas da gravidade de Malkut e mal conseguem se mover.

Você, Neófito, lendo isso… Consegue exercer controle sobre sua natureza e poderes? Se sim, mãos a Obra. Se não, mãos a Obra.

Conclusão

O Grau de Neófito é permeado por trabalho prático, que só é possível para quem cumpriu o Juramento de Probacionista. O conteúdo do grau, se realizados adequadamente, produzirá um Zelator. O principal desafio é a própria gravidade de Malkut, contra a qual tudo aquilo que busca se desprender da terra invariavelmente luta. Não são poucos os que jamais conseguem vencê-la.

Todas essas coisas foram conscientemente estruturadas a fim de abreviar o caminho da Iniciação. Por mais que pareçam numerosas e complexas, é como a trilha de escalada mais segura descoberta por alpinistas experientes que por lá passaram. Desejamos Irmão, que te conduzam à grande recompensa!

Perguntas e Respostas:

Pergunta de Fr. AMeN:
P.
Uma pessoa com um elemento Terra naturalmente fraco ou desbalanceado terá mais dificuldade para alcançar o sucesso na consolidação do grau de neófito?
R. Como neófito, ele será confrontado com suas qualidades elementais. Portanto, se o elemento Terra (ou qualquer outro) estiver em desequilíbrio, será necessário lidar com essa situação. Além disso, os temas abordados no grau estão alinhados com Malkut, a esfera da manifestação, que irá ressoar com quaisquer questões elementais. Assim, embora a Terra seja apenas uma parte de Olam Yesodoth — como qualquer outro elemento — os problemas relacionados ao elemento Terra se entrelaçam com as questões de Malkut, tornando-os desafios mais imponentes. Um exemplo de desafio com confluência entre “terra elemental” e “plano da matéria” seria um desequilíbrio do Nephesh durante o processo de fortificar o Corpo.

Pergunta de Bruno:
P. Qual é sentido quando se fala que um Vampiro tentará o Neófito?
R. O processo que formula o Neófito abre os portais do inconsciente, permitindo que este confronte certas partes de seu psiquismo que foram “aprisionadas” ali ao longo do seu desenvolvimento psicossexual. Sob essas influências, ele vai, sem se dar conta, atrair alguém que possua características adequadas para a manifestação da Ordália. Escrevi um capítulo inteiro sobre isso em Quase tudo que sei sobre Magia Sexual.

Perguntas de Fr. Eremita:
P:
(…) Tempo cronos e tempo “kairós” na iniciação. Qual a diferença?
R: A sociedade gira em torno do tempo Chronos, o “tempo do relógio”. Poucos aspirantes podem se dar ao luxo de ignorar isso, e precisarão estruturar suas vidas de forma a comportar as práticas que conduzem à iniciação dentro de uma agenda. Crowley recomenda “fixar nossas horas de práticas, e tornar móveis nossas horas de lazer.” O tempo“kairos”, o “momento oportuno” está no fato de que a Iniciação, como um processo de amadurecimento, requer qualidade do tempo gasto. O aspirante é um bolo no forno: Assá-lo requer que ele permaneça ali por algum tempo de relógio, sob condições qualitativas específicas.

P: Como ritmo e profundidade são ou não são tão importantes quanto velocidade de avanço, em uma sociedade da produção e do status?
R: Uma analogia adequada é o sexo. Embora desejado, o orgasmo deve ser consequência do ritmo e da qualidade. A experiência em si deve ser prazerosa do início ao fim. Se preocupar com atingir o orgasmo o mais rápido possível resultará, na melhor das hipóteses, em um desperdício da experiência, e um orgasmo frustrante. Na pior das hipóteses, a ansiedade poderá te fazer broxar.

Pergunta de Fr. Mithras:
P:
Não existe consenso sobre o que é o plano astral, uns dizem que é um “lugar” que existe tão objetivamente quanto o plano físico, outros dizem que é só a imaginação do indivíduo, alguns magistas com orientação mais junguiana vão dizer que é o inconsciente coletivo. Então como vou saber se tenho esse “controle”? Como posso testar isso?
R: Se te peço que obtenha controle sobre “veículos de propulsão humana”, estou falando de bicicletas ou monociclos? Mais de uma hipótese se encaixa na mesma categoria. Sucesso nisso seria dominar apenas um ou vários deles? A métrica é “quão bem ando de bicicleta”, ou seria bom se testar em patinetes, skates, etc? Teste com cada hipótese, desenvolva sua experiência e domínio em cada uma delas. Veja bem, estou recomendando prática, e não que estude sobre elas. Encontrará um denominador comum? O que se desenvolve numa hipótese causará progresso em outra? Só a prática real traz resultado real.

Pergunta de Fr. Pendragon:
P:
Como iniciar o trabalho?
R: Na verdade, basta não interromper o trabalho. O probacionista estava conhecendo os N objetos e forças que compunham seu universo pessoal, e agora o Neófito deverá experimentar o controle dessas forças em sua forma ativa — colocando-as em movimento como preferir — e em sua forma passiva — se desvencilhando do domínio delas. Isso deve ocorrer em pensamento, palavra e ação. Além disso, ele tem um Juramento/Tarefa onde estão explicitas diversas coisas a se realizar. Escolha a que tenha mais afinidade e comece por ali. O que deve ser evitado à todo custo é a inação.

Perguntas de Soror Ananké:
P.
Como medir progresso?
R. O Neófito tem o seu Juramento e a sua Tarefa. No início parecerá como alguém que começou a esculpir uma peça de mármore, e vê a frente apenas aquele enorme bloco ainda sem forma. Progresso será sentido na medida em que o bloco for tomando forma — primeiro pela remoção de grandes pedaços inúteis, depois por um aparar de arestas mais delicado, e por fim um acabamento fino. Nisso tudo seu diário será sua testemunha, então é bom “aplicar-se em compreender a natureza de sua Iniciação” com auxilio do diário, onde poderá “medir” como isso se desenvolve.

P. Como saber se estou avançando?
R. “Avanço” para o Neófito diz respeito ao quanto seu universo pessoal se expande, e o quanto ele descobre a utilidade e aplicação correta dos elementos ali contidos, consequentemente sendo imperturbável por essas coisas. Mais uma vez o diário é testemunha, e uma boa ferramenta de “medida”, assim como seu Pantáculo — não pela adição de elementos indiscriminados se amontoando, mas por uma completude equilibrada.

P. O que são “avanços significativos”?
R. Os avanços se tornam “significiativos” quando não são mais experimentos desconexos de um aprendiz do ofício, mas o trabalho coerente de um companheiro de ofício. Enquanto o primeiro é inseguro e desconhece o trabalho, o segundo tem a confiança de quem conhece tanto a matéria prima quanto as ferramentas, e simplesmente trabalha sem a insegurança do primeiro.

P. Os poderes da Esfinge e da Pirâmide são diferentes?
R. Enquanto “Poderes da Esfinge” é uma expressão presente em muitos escritos conhecidos, “Poderes da Pirâmide” não são assim referidos na literatura tradicional. A Esfinge diz respeito ao quaternário dos verbos mágicos, suas correlações, e da forma de desenvolvê-los na alma. Alguns dizem que a Piramide é o Phallus, mas está parcialmente incorreto: A Pirâmide diz respeito ao trinário da vontade direcionada, seus entusiasmos, e das maneiras de imbuir a matéria inerte com ela.

P. Qual liber fala sobre os poderes da Pirâmide?
R. São mencionados publicamente com essa nomenclatura apenas em Liber Zelotes nos capítulos “A Ordem da Golden Dawn na A∴A∴” e “Sobre como Reconhecer os Juramentos de Nossa Ordem no Ritual do Pentagrama e no Ritual de Fazer Chá”. Embora não usem a expressão “Poderes da Pirâmide” diretamente, recomendo para o Neófito os libri Pyramidos, HHH e — arguivelmente mais adequado ao Zelator — Entusiasmo Energizado. Também os capítulo de Liber ABA que tratam da baqueta e da fórmula do Neófito.

Perguntas de Fr. Sunyata:
P.
Por que o neófito tem que dominar Yesod se o trabalho dele está em Malkuth?
R. Obter perfeito controle sobre o Plano Astral — tarefa prescrita em Uma Estrela à Vistanão é “dominar Yesod”, mas apenas o caminho de Tav que até lá conduz. Assim como conhecer a Natureza e Poderes é essencial para o trabalho do Neofito, o domínio do trabalho de Tav é essencial ao Zelator, e o trabalho deste não poderá ser realizado sem isso.

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Frater F.
Imprimatur

Minha Vontade é pavimentar os caminhos: tornar a Iniciação mais próxima do homem comum, zelar pelo avanço das próximas gerações, abrir o caminho ao Não Nascido.