bença, vó
hoje fazem 16 dias desde que você deu seu último suspiro.
me contaram que se foi em uma breve pausa. entre um momento que minha tia estava contigo e foi pegar um dos seus remédios. teve a classe de ir por conta própria, sem plateias — como fez a vida toda. uma das mulheres mais independentes que já conheci. fardo e benção como tudo na vida.
são quase 2 horas da manhã e encontrei uma foto sua na minha nuvem. fiquei feliz de relembrar aquele fim de semana que passei na sua casa. você não sabia, mas estava me acolhendo em um momento extremamente difícil. havia recém saído de um lugar religioso que não fazia mais sentido e estar no seu lar era me sentir acolhida. tirei uma foto sua enquanto estava distraída com a tv. me lembro de dormir grata pelo sentimento de ter você em minha vida.
hoje foi um dia de sentir muita saudade. te vi até mesmo na mãe do personagem que faleceu por estar muito doente e que adorava cozinhar e costurar. muitas das memórias que tenho suas, você estava cozinhando ou costurando. não sei se amava, mas sei que fazia muito bem. sempre me senti sortuda demais em ter sua presença (a sua janta e os seus bolos também) todos os dias até os meus dezessete.
gosto de acreditar que em algum momento antes de chegarmos aqui, combinamos que estaríamos juntas: contaríamos segredos com sorrisos sinceros e olhares silenciosos. viveríamos cúmplices de duas vidas que não eram nossas, mas que tínhamos que cumprir.
não sei quando conversaremos de novo, mas eu espero que não demore.
bença, vó.
