Domingos.

Amanda Sampaio
impublicável.
2 min readAug 27, 2023

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Domingos tristes me acompanham.

Show intimista e sua voz ao fundo.

Sua roupa cromática com cheiro de casa.

Seus pequenos cachos que reluz a luz do ambiente.

Braços finos, abraço aconchegante.

Chego o mais perto que posso do seu rosto esperando tocar sua pele.

Muitas risadas, barulho e jazz ao redor.

Sons de taças, sapatos e aplausos.

Uma quietude entre a gente.

No táxi janelas embaçadas, noticiário no rádio e nossas mãos juntas entre as pernas.

Prédio novo, apartamento 15, porta marrom sem tapete de boas vindas.

Chove e venta lá fora, aqui dentro faz calor de 30 graus.

Botas e sapatos molhados jogados no corredor de taco.

Jaquetas e suéteres pendurados no cabideiro em meio a mudança.

Tudo calmo e quieto sem nenhum som.

Apenas o som de gota pingando, chuva chovendo e a gente se encontrando.

Tropeços em meio caixas vazias, caixas meio cheias artefatos que talvez nem importem mais.

Sua nuca meio molhada, seus cachos úmidos e seu cheiro familiar se aproximam.

A cortina pesada encosta no chão, a luminária amarela no canto faz seu papel, o sofá já tem marcas de outro alguém.

Suas costas lisas se arrepiam e se entrelaçam aos meus dedos nus.

Seus olhos castanhos são um universo que me convidam a entrar.

O relógio soa a cada badalada.

A janela cada vez menos transpassa luz.

Cada vez mais quero ficar aqui.

Morar aqui.

Todas as possibilidades passam pela minha cabeça.

Imagino mil cenários com a gente.

Não me importa o que essas mobílias já viram.

Você adormece sereno em meio aos caos.

Uma manta de lã sela nosso ninho no meio da sala.

Sua respiração suave me deixa sonolenta.

Não quero ir embora nunca mais.

Esse domingo não pode acabar tão depressa.

Quando acordar me traga um café.

Me conte um poema.

Me escreva uma música.

Diga que gostou da noite e que vamos nos ver para sempre.

Me convide para morar com você.

Para dividir boletos e sorrisos.

Me convide para subir no telhado ver o por do sol.

Me ensine sobre aquela pequena planta no vaso de barro.

Me conte uma história, a nossa história.

Me olha mais uma vez e queira que eu fique mais um dia, ou dois, ou todos…

Vamos a praia e as feiras.

As livrarias e as floriculturas.

Vamos nos encontrar com hora marcada todos domingos, segundas e sextas.

Compraremos taças, porcelanas e talheres.

Te abraçarei mais uma vez, antes das infinitas outras vezes antes de você sair para trabalhar.

Acorde e me olha como eu te olho.

Diga então que a vida ficou mais bonita comigo.

Que eu completo suas manias.

Que nossos hábitos se parecem.

Acorde, olha no relógio e veja que perdemos a hora.

Me convide para almoçar e peça para eu passar a segunda com você também, que um domingo só não foi sufiente.

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