Ela sorria

Alexandre Brandão
impublicável.
Nov 14, 2022

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No calor

De um dia nublado e abafado,

Ela sorria

Pingos de chuva

Entravam pela janela aberta,

Ela não ligava,

Sorria

Da rua,

Ouvia buzinas

Dos carros e motos

Lutando por espaço,

Pessoas xingavam e gritavam,

Ela sorria

Na penumbra do quarto,

Nada importava

A não ser o sangue

Manchando as paredes amareladas

Deixando tudo do mesmo

Amarelo avermelhado da doença

Que tomava seus pulmões,

Tossiu

E o sangue subiu pela garganta,

Ela não ligava,

Cuspia o líquido vermelho

E sorria

Não comia,

Pois toda merda que entrava

Voltava pelo mesmo lugar,

Numa mistura terrível

De bílis e sangue,

Fechou os olhos e

Sentiu um vento frio

Apesar do calor,

Os pés formigavam,

A barriga doía,

A morte chegava

Ela sorria.

AB — 13/11/2022

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