Espelho quebrado
Esse sentimento constante de dúvida vai melhorar? Ou a vida, realmente, é só tristeza e arrependimento? Da minha janela sempre vejo as mesmas pessoas indo e vindo, será que todas elas se sentem assim? Ou será que só eu tenho pena de mim?
A imagem do relógio me consome. As cicatrizes cobrem os meus braços e eu cubro as cicatrizes. Finjo sorrisos sobre lágrimas. Finjo uma vida semimorta. Como Fleabag, também anseio por alguém me vigiando, ditando meus passos e decisões. O peso das escolhas erradas me assombra o tempo todo e a quem posso culpar?
A ausência me consome. Do outro e de mim. Sinto que a cada dia busco lembrar quem eu era, mas a verdade é que minha versão antiga era ainda mais confusa e sozinha. Se a grama do vizinho sempre parece ser mais verde, as casas ao meu redor tem jardins de ouro.
Sonho com uma vida que nunca tive, anseio sabores que nunca experimentei, sinto falta de pessoas que nunca existiram. Estar sozinha na multidão é a penitência de vidas passadas, que me força a olhar pra minha velha alma e de alguma maneira aceitar que mereço isso.
O céu nublado é reflexo do meu coração que há muito não tem sol. Talvez algumas pessoas sejam feitas pra viver na noite escura. Talvez eu seja o pesadelo que alguém sonhou.