Este poema é um ouvido
Este poema
não é um poema
é um ouvido.
Completamente
atento ao meu sussurro,
ao mantra que insisto,
este poema não é um poema,
é um ouvido.
Um ouvido pronto
para o segredo-fio
que desenrolo,
dor que mastigo...
este poema não é um poema
e jamais me seria útil
se fosse só isto.
Este poema não é um poema,
é um ouvido.
me ouve cego
me ouve mudo
me ouve rígido
mas, acima de tudo,
me ouve paralítico.
me ouve blasfemar
que não suporto
estar vivo.
Este poema,
não é um poema
é um ouvido
amigo, como todo ouvido
que permite
cumprir silencioso seu destino
este poema não é um poema
é meu melhor amigo.
E o único, entre nós,
que existe entusiasmado,
com o som da noite
profunda e infinita
quando eu
não mais existo.