EU NÃO SOU FEIA…

Gabrielli Duarte
impublicável.
2 min readJul 25, 2019

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Camille Cottin — Andréa Martel (Dix pour cent)

…só nasci no lugar errado (?)

Eu não sou feia…só nasci no lugar errado! Essa foi minha constatação singela da vida. Eu não sou feia, só não sou bonita. Não aqui. Engraçada foi a descoberta. Não posso dizer que foi num dia, num evento, numa epifania. não. foi em uma lenta e gradual percepção subjetiva. pontos espaçados e indefinidos, conectando-se no firmamento das minhas memórias.
Tudo começou quando fiz intercâmbio pelas terras canadenses e estranhamente notei que na rua eu fazia sucesso. chamava atenção do público em geral. popularidade essa que ganhou seu auge no Québec. Pessoas me paravam na rua lisonjeiramente. homens me encaravam de uma forma fixa. E eu, meio confusa, sem entender muita coisa. Vai ver é porque eu estava é feliz. E a felicidade é o rosto mais bonito de uma mulher. Então eu me contentava com essa explicação. de que eu estava no apogeu de minha felicidade, o que transparecia para os outros. por isso o estranhamento. geralmente, as pessoas andam tristes. ser feliz, é, realmente um elemento de destaque.
Saindo do êxtase da experiência canadense, novamente, uma onda de assalto me tomou. elogios vindos de pessoas desinteressadas e comentários nem tão elogiosos, que me fizeram chegar a uma conclusão. “Mas se você não abrir a boca ninguém sabe que você é brasileira”. ou. “Bonjour”. As pessoas, não sei por que, pensam que eu pareço francesa. E eu lá, no seio de minha brasilidade, sem compreender nada. Como eu parecia francesa, se minhas raízes tupiniquins gritavam no tamanho do meu quadril toda vez que eu tentava usar uma roupa mais apertada?
Esse mistério eu só fui resolver esses dias. Estudando o francês nosso de cada dia, resolvi dar uma diversificada. procurei no Netflix por “filmes França”. e não é que achei a variável da equação que faltava. Todas as protagonistas, divas, celebridades, tinham lá a sua cara bem parecida com a minha. Daí eu entendi o porquê me chamarem “française”. A pele branca, o nariz grande, a boca pequena. tudo se compunha em uma harmonia não condizente com os padrões que eu até então estivera acostumada. MEU DEUS. Em algum lugar do mundo ser quem eu sou era LINDO!!!! E elas faziam filmes e ganhavam prestígio, e eram chamadas artistas e eram modelos a serem seguidos. Fiquei chocada. O meu belo era belo. bom, pelo menos em algum lugar do mundo…
foi assim que cheguei a fatídica conclusão: eu não sou feia…só nasci no lugar errado.

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