Exercício diário de aceitação daquilo que ainda dói
Deixe que as memórias sigam seu curso, se apaguem aos poucos e permaneça somente a sensação de ter vivido. Deixe que as cores se esvaiam, que as imagens percam a nitidez, que os sons se distanciem cada vez mais, até que permaneça somente uma breve lembrança.
Deixe que as feridas se curem, que a pele cicatrize, que o gosto se perca, que os lábios se sequem. Deixe-as sumir no engarrafamento, na procissão dos seres que caminham incessantemente mesmo sem ter um destino.
Deixe que perguntem. Não terás respostas, mas deixe. Esqueça que perguntaram e pergunte. Repita o processo e siga o ciclo. Crie histórias para suprir a falta de uma. Sobreviva a mais um dia, e quando perceber, passou um ano, passou uma vida. Mas talvez nada terá passado; será somente uma fotografia mal impressa sem cor, desbotada e mofada, mas que um dia foi viva, até não ser mais.