neblina

caroline vital
impublicável.
2 min readOct 7, 2019

--

*

Passos ligeiramente tortos e lentos ecoam pelo vazio produzindo sons que retorceriam o ouvido mais insensível. Se ao menos houvesse alguém ali para ouvir...

Não há vivalma em quilômetros. Sinto-me constantemente em círculos numa caminhada para o nada, sem saber se vou chegar a algum lugar ou se poderei retornar.

O ar torna-se, por vezes, demasiado denso para suportar e em outras, causa a sensação de leveza momentânea. Esta última acaba tão rápido quanto começa e respirar torna-se difícil como crer que tudo o que se vê e toca trata-se de água condensada, ao invés de um vasto oceano que decidiu afogar-lhes os pulmões.

Há muito não reconheço o caminho que percorro e as vagas memórias que poderiam guiar-me em direção ao final da jornada, são turvas como uma cortina de fumaça cerrada que aprisiona e sufoca.

Estou exausta demais para julgar qual direção tomar ou para acreditar numa ilusória proximidade de uma saída iminente. Saio de meu torpor apenas tempo o suficiente para que meus pés decidam por mim que é hora de parar.

Deito-me em meio ao branco acinzentado e permito que as nuvens me cubram com seu fino e alvo tecido de algodão. Confio ao sono a calmaria dos barulhos incessantes de meus pensamentos e aos sonhos o meu alento.

Lá fora, porém, tudo permanece o mesmo. Todos permanecem ocupados demais em suas próprias buscas presunçosamente solitárias. Eu me pergunto ‘Eles conseguem enxergar em meio à bruma?’, ‘Será que ouvem os gritos silenciosos dos que estão ao seu redor?’, ‘Algum deles libertou-se de sua própria prisão?’, ‘Será que virão me resgatar?

--

--