O Dia Que Encontrei Nora Ephron

Gabrielli Duarte
impublicável.
2 min readOct 10, 2018

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Estava em Nova Inglaterra como de costume. Já virou mandatório que todas as coisas importantes ou pelo menos revolucionárias aconteçam em minha vida por essas bandas. O dia estava calmo e sólido como sólidas são as cores do outono se você estiver inspirado. Foi nesse dia que uma reviravolta — para ser dramática, porque a muito venho ensaiado — ocorreu-me. A solidez da capa amarela secretamente deu match com o dia e Nora Ephron conquistou rapidamente um espaço no meu coração. Comecei desconfiada. Recuso-me a dar o braço a torcer. De que escrita fácil e assuntos fúteis são o meu estilo. Já censurei Clarice por escrever conselhos femininos em uma revista. Já censurei o que costumava chamar de a escória dos tempos modernos, o apocalipse da literatura brasileira, essas famosas escritoras jovens (nem tanto) que não escrevem, apenas tagarelam letras sobre suas vidas rasas de classe de média alta. Chega a dar enjoo. Ousei um dia citar nomes. Repúdio as suas vidas medíocres e seus cabelos tingidos. Sentada em um voo (tão fútil como elas, mas chegaremos nessa parte), ousei dizer que não escreveria mais "porque não quero ser como fulana". Para mim, esse tipo de vergonha era uma que eu podia evitar no decorrer da vida. Um arrependimento a menos. Mas aqui estou e lá estava Nora Ephron pronta para jogar na minha cara tudo que sou e me recuso a ser. Dizem que o ódio cresce naquilo que somos, mas não gostaríamos. Isso explica minha aversão às escritoras de botique que tanto fazem sucesso. Tentei reprimir-me, silenciar-me. Mas não deu certo, palavras não cabem na minha boca e hoje decidi sair do armário. Gritar para os que me lerem. SOU MESMO DA BAIXA LITERATURA. Do tipo que tagarela coisas da vida, quer dizer, da minha vida. Faz parte da minha identidade ser fútil, egocêntrica e discrição não é meu forte. Gosto de escancarar meus medos, meus sentimentos, minhas emoções. Porque a vida é tão curta para guardarmos tanto. No fim, acumulamos um monte de tranqueiras sentimentais apenas para dar mais trabalho para nossos herdeiros ou quem restar. Eles irão dar um fim em tudo. Então, entreguemo-nos ao mundo antes que ele nos consuma. Tudo que sei o sei por meio do meu ponto de vista. E o meu ponto de vista é parecido com o de Nora Ephron. Só que uma versão mais barata.

E como a própria disse:

"I can't believe how real life never lets you down. I can't understand why anyone would write fiction when what actually happens is so amazing."

— Nora Ephron

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