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O que é preciso

William Pardo
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2 min readJun 21, 2021

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Eu preciso abrir o jogo, de dinheiro e de passagem segura.

Preciso tanto de sexo, de silêncio, preciso de doces, sim, preciso de palhas italianas.

Preciso de formigamento na palma da mão e pupilas dilatadas, preciso de um pupilo ou uma nova pupila.

Pílulas, é disso que preciso, de pílulas, um dia antes de tomá-las no dia seguinte, preciso de um abrigo, um agasalho para guardar meus mistérios de quinta.

Atender a porta, a campainha, é mesmo preciso? É preciso sair para rua, andar na rua, vender histórias? Viver é preciso. Preciso? De estar vivo? Vivendo?

Meus calcanhares não aguentam mais, travei no quinto elemento da tabela periódica, aliás travei no índio Peri, ri de mim, de não mostrar entusiasmo algum pela encantadora educação, até pela literatura.

Continuei, respirei pela boca, andei encurvado, comi uma centena de lanches na porta da faculdade, X-Egg sem salada.

Conspirei, tracei metas para revolução e agora sou autor da própria inconfidência, fui assistir um filme no cinema em Ribeirão, apaixonado, e acordei irreconhecível no dia seguinte, neguei a mulher e a mim em estado de paixão, continuei pelo corredor institucional, casei-me depois, não com ela.

Amei, precisei de amar, de amor.

Preciso de gelo para o whisky, preciso de assinar a porra de um contrato, preciso de contato imediato de primeiro, segundo e terceiro graus.

Eu preciso demais de ouvir ao pé do ouvido:

- Tem abacaxi descascado em fatias na geladeira.

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William Pardo
impublicável.

Escritor de boteco, filósofo de porta de padaria, ator de quermesse de cidade do interior, vocalista de araque, sonegador de dízimo.