Preguiça

João Gabriel
impublicável.
2 min readJul 18, 2023

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Eu olho para os meus quadros e penso que vou encontrar alguma resposta

Não vou

A beleza com que me parecem agora não vem do frescor das tintas

Vem de sua secura

Seus contornos bem definidos tal qual uma mulher cubana

Fazem as cordas da minha viola empoeirada saltitar de alegria

E pedir, excitada, una canción de amor

Mas a viola está longe

E como um bom latino americano, a preguiça anda sempre por perto

Doce preguiça

Contigo danço tango e valsa europeia na mesma medida

Tão proporcional essa relação que os gregos teriam de redefinir o conceito

Conceitos esses que já estão mortos em livros que os abrigam como covas

E as bibliotecas se tornaram cemitérios

As plantinhas mortas de um terraço pulsam em mais vida

No seu corpo vemos toda a escalada de sua dor

E sua despedida, não em carta, mas em desalento

Como quem simplesmente baixa a cabeça e adormece

As plantas cometem o seu suicídio

Pedem sua alforria quando cansam da vida que levam

Deviam os livros imitá-las

E não deixar que ninguém os queimasse segundo a vontade alheia

Ou deviam montar seu grupo ou partido revolucionário e começar a agir

A revolução dos bichos se tornaria a revolução das letras

As plantas iriam sorrir orgulhosas

Os números talvez ficassem putos e acionassem a polícia

E eu? Eu estaria dançando tango e valsa europeia com minha doce preguiça, esqueceu?

Mas não sei por que você haveria de me entender

Já que leu tudo isso até aqui

Hasta la revolución!

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João Gabriel
impublicável.

E não sabendo que era impossível, ele foi lá e soube...