Quando você vai se tornar quem você é?

Sobre a sensação de não se pertencer

Vitória
impublicável.
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3 min readOct 1, 2018

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“Não importa de onde você veio, o que importa é quem você é. E quem você é? Você sabe?”

— Coco Chanel

Provavelmente já tenha ouvido sobre aquela máxima de Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses”. Mas que tarefa difícil, devo admitir, é se conhecer. Ter que destrinchar todo esse emaranhado de eus, analisar, entender. Carece de muita persistência…

Mas que tédio, afinal!

No final das contas, que há mesmo de me servir? Conhecerei os deuses e o universo? Que há em mim do universo e dos deuses, senão átomos e até mesmo um pouco de fé?

Terra infértil de significados, não me ponho em dicionários. Como, então, hei de me conhecer sem ser?

Mas tenho algo a dizer: Quando nascem as pessoas, o mundo já é pronto, terminado (até certo ponto).

Gente moldada na fôrma do mundo, transfigurada pelo tempo vivido. Há gente que nasce no berço do pejo, labuta da vida. Há gente do berço de ouro, do mundo, não sobre as costas, mas na palma da mão.

De que berço sou então?

Deixo, portanto, a questão: Você e eu nos tornamos quem somos? Será que somos o que nos tornamos? Sei lá se existe explicação…

Arrependimento: Sentimento de agora é tarde demais.

Não sei contar quantas vezes me arrependi, e dentre tantas coisas pelas quais um arrependimento me seria possível, tenho o medo de não me ser o suficiente. Não quero me arrepender de ter adotado uma personalidade que não é minha, porque não quero descobrir que, porventura, não tenha personalidade alguma.

Muitas vezes imitei pessoas para fugir de me mostrar, sem ao menos saber quem sou. Não lembro ao certo quando começou, sei apenas que forjei alguns eus e me dispus a me “contentar” com eles.

É como não se pertencer. Ou como se transformar, como em uma transformação química, em que a substância original perde sua identidade.

Tenho um rosto quando me olho no espelho, que sei que é meu, sei das formas. Mas, de repente, é como se não as quisesse nem fossem de fato apropriadas para mim.

Uma face oca, um corpo oco.

Tenho quase por certo que se eu fosse outra pessoa, ela saberia lidar com minha realidade melhor do que eu jamais conseguiria.

Por exemplo, se eu fosse Coco Chanel, eu seria imbatível! Forte, independente e trabalharia bastante.

Se eu fosse Coco Chanel, pegaria meus livros e leria, porque trataria como um trabalho, estudaria melhor, não teria preguiça.

Poderia até comprar tecidos e fazer minhas roupas contra todas as expectativas e opiniões alheias, pois eu as superaria. Mas não necessariamente me tornaria um ícone da moda.

E se eu fosse Clarice Lispector, eu escreveria todos os meus sentimentos com uma habilidade extraordinária de juntar as palavras e as ideias, esculpiria cada frase; e talvez as guardasse para mim ou as colocasse aqui, mas não necessariamente seria reconhecida como uma das maiores escritoras do mundo.

Se eu fosse Clarice Lispector, eu já estaria presa!

Mas não sou Coco Chanel nem Clarice Lispector. Disto sei: quem não sou.

O que faz com que me volte a questão inicial: Quem sou eu?

Um emaranhado de perguntas e contradições e digressões? Não entendo… o que me tornei é um mistério e se sou quem me tornei é um mistério maior ainda.

No entanto, gosto de pensar que um dia, quem sabe, eu descubra meu ser, me dispa o máximo possível do mundo que encontrei quando nasci, pegue além do meu corpo oco e me vista de mim, preenchida de me ser, verdadeiramente.

Talvez um dia eu consiga solucionar o insolúvel, alcançar a estrela inatingível. Fazer o impossível!

Ah, se eu fosse Dom Quixote…

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Vitória
impublicável.

Algumas coisas eu escrevi e agora nem eu mesma entendo (Este perfil está aposentado por tempo indeterminado)