Que calor
Mais um dia preso no trânsito. Calor insuportável. O ar-condicionado ligado no máximo não impede a sensação de estar no inferno.
Sinto o meu braço esquerdo queimando à beira da insolação. Eu até passei protetor solar, mas hoje o sol está de mau humor e não há nada capaz de aplacar essa fúria.
Meus pés estão inchados. Os tênis ficaram mais apertados, a calça pareceu encolher e consigo sentir o suor percorrendo o espaço mínimo entre o jeans e a minha pele.
Olho para o GPS e o tempo estimado para chegar ao meu destino é de duas horas.
Minha perna direita fica inquieta e coço com força o lado direito da cabeça. Lá se vão mais uns dez fios de cabelo. Perdi a conta de quantos fios de cabelo essa cidade já me levou embora.
A música aplaca um pouco esse cenário terrível. Uma gritariazinha é bom pra acalmar a alma.
Tiro meus óculos de sol, abaixo a cabeça e coço os olhos. Sinto a oleosidade do meu rosto e decido que vou lavá-lo com sabonete especial quando chegar em casa.
Coloco os óculos de volta, levanto a cabeça e a vejo.
Faz quanto tempo? Cinco anos? Seis? Da última vez ela estava dentro do carro.
O cabelo está maior, os braços tem novas tatuagens, mas ainda me parece a mesma pessoa. Ela passa reto, olhando para frente.
Na mesma hora, Jeremy McKinnon grita “Here we go again” nas caixas de som e o carro da frente arranca.
Solto o freio de mão, engato a primeira marcha e também sigo em frente.
Que calor desgraçado.