Se tiver que ser, será

Bruna Portella
impublicável.
5 min readSep 1, 2020

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Nossa história começa em 1986, em Irajá, no auge dos meus 16 anos, quando eu tinha ido, como de costume, passar um fim de semana na casa da minha mãe, pois eu morava com meu pai. Eu estava chegando na vila e encontrei minha amiga Gisele – enteada da minha mãe – que conversava com outros moradores da vizinhança. Parei ali por alguns minutos, o suficiente pra conversar um pouco, e no meio dessa roda vi um menino diferente, boa conversa, simpático e que eu nunca havia visto por ali. Combinamos de sair na noite do dia seguinte, e logo depois soube que aquele menino se chamava Rodolfo e era primo da vizinha de porta da minha mãe, e ele morava na casa ao lado da vila. Estranho eu não conhecê-lo, pois eu sempre andava por lá, mas soube que ele namorava uma garota e que havia terminado, então por isso estava aparecendo mais por lá.

Poucas horas antes da nossa saída, soube que só eu e ele poderíamos ir, então ele me perguntou se eu me importava de ir sozinha com ele. Ao mesmo tempo que achei estranho ir com ele, que eu mal conhecia, perguntei à minha mãe e ela não viu problema em aceitar o convite, afinal, conhecia a tia e prima dele há muitos anos, então lá fomos nós. Foi uma noite divertida, conversamos muito, dançamos, rimos e bebemos também. E vieram outras noites assim apenas como amigos, demorou duas ou três noites para percebermos que queríamos ser muito mais do que amigos e que queríamos estar o tempo todo perto um do outro, até que numa noite, no Farol da Ilha, ele me beijou. Parece que aquele beijo foi um divisor de águas na minha vida porque eu nunca mais fui a mesma.

Passamos dias maravilhosos juntos, saíamos muito, fomos a praia, conhecemos todos os bares e boates da Ilha e alguns da Barra também. Eu, que antes ia pra casa da minha mãe a cada 15 dias ou uma vez por mês, agora ia toda semana e mal podia esperar o momento de estar com ele. Foram 3 meses intensos e eu estava muito feliz, até que um dia ele me chamou pra conversar e do nada, assim como começou, terminou tudo. Ele não teve coragem de me dizer o motivo e eu, mesmo estando arrasada, era muito orgulhosa então não insisti em saber, mas soube em seguida que ele resolveu terminar comigo para voltar para a antiga namorada e casar com ela. Não preciso dizer que meu mundo desabou e eu não conseguia entender.. para onde tinha ido todo aquele sentimento que ele parecia ter por mim? Será que foi tudo mentira? Ele era muito novo também, só tinha 19 anos e já ia se casar?!

Eu levei muito tempo pra superar essa história e mesmo depois que superei não houve sequer um dia em que eu não tivesse uma lembrança dele. E assim se passaram 10 anos, nunca mais o vi. Eu. tive alguns relacionamentos durante esse tempo, mas nenhum era suficiente para mim, sempre tive uma sensação de que faltava alguma coisa e realmente faltava, mas eu não sabia o que.

Um dia, precisei fazer um exame radiológico e fui à uma clínica perto da minha casa e de repente vejo um funcionário vindo na minha direção e a medida que ele se aproximava eu pensei: é ele? Passaram 10 anos, ele havia mudado bastante, mas sim, era ele! Ele se aproximou, conversamos rapidamente, pois eu tinha que fazer o exame e ele era o técnico que realizaria o meu exame. Me dirigi a mesa de exame ainda em estado de choque e quando o exame acabou, uma enfermeira me liberou para que eu trocasse de roupa e do vestiário eu não o vi mais e então fui embora pensando muito naquilo. Mas eu pensei que provavelmente ele ainda estaria casado e vida que segue, não poderia mais ficar pensando nisso. Não sei quantos dias se passaram e recebi uma ligação da Vera, vizinha da minha mãe, a tia dele; nessa ligação, ela me contou que ele a procurou para dizer que me encontrou e que desde então não parava de pensar em mim e que precisava me ver de novo. Ele me ligou e marcamos de nos encontrar. No dia, eu estava bem nervosa e um pouco desconfiada. Nós falamos um pouco de nossas vidas nos últimos 10 anos. Ele tinha se separado muito recentemente, tinha um casal de filhos de 4 e 6 anos. Quando ele me deixou em casa, me deu um beijo, mas eu não quis me envolver, tinha muito medo de me machucar novamente. Então ele me perguntou se me veria novamente e eu disse que não sabia, afinal ele tinha a vida dele, e eu a minha. Mas todo e qualquer medo era inútil e a partir dali começamos a nos falar e nos ver quase todos os dias, eu o observava muito e ele se mostrando cada vez mais apaixonado então eu comecei a acreditar.

Em abril de 1997 nos reencontramos naquela clínica, em junho do mesmo ano já estávamos morando juntos, em abril de 2000, após sair o divórcio dele e ele reverter a vasectomia que havia feito após o 2° filho, oficializamos nossa união no civil. Em 2001, nasceu nossa primeira filha, Beatriz, e em 2003, nasceu a Bruna. Estamos juntos pela segunda e definitiva vez há 23 anos e somos muito felizes! Não somos uma família de 4 pessoas, somos uma família de 6 pessoas, pois os filhos dele são como se fossem meus também, já que os conheci bem pequenos e tenho muito amor por eles.

Nesses tantos anos aprendi que segundas chances, muitas vezes, valem a pena e que se o destino reservou algo à você, não importa quanto tempo passe, será seu.

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⁃ Esta é a história dos meus pais, Andréa e Rodolfo.

⁃ Na minha série aqui no Medium “Modern Love – Rio de Janeiro” tem outras histórias de amor lindas, e você também pode mandar a sua!

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