Silêncio?
Se engana quem acha que o silêncio é ausência de palavras.
Silêncio é o excesso delas.
Quantas denúncias cabem em um verso?
Não sei.
Espero encontrar respostas
Nos poros de cada fratura exposta
De um corpo já acostumado a denunciar as mazelas
A minha gente anda desanimada, estagnada
Não me entenda mal, mas são chagas que não se curam
Com doces e vazias palavras
Pra sonhar, primeiro é preciso ter pão
É preciso ter chão
Amor? Não me vem falar de amor
Isso a minha gente tem de sobra
Não leva pro lado da vaidade
Aqui desse lado tem uma gente que ama a sua cor e sua origem
Mas odeia a dureza da realidade
O amor é poderoso mas pode ser vazio
Dependendo de quem usa
Então,
Por que você não enxerga?
Essa é a pergunta que faço diariamente
Mas fico um tanto descrente
Quando tento buscar compreensão
de quem...
Vive do outro lado da ponte e não entende
Que tal se você descer do oitavo andar?
Casa é lar mas ela não pode ser prisão
Para mentes fechadas
Você não entende a dor
Do alto do seu prédio
Te desafio a descer e ver
Ande nas ruas e calçadas
Nas vielas e becos
Entre o meio fio e as muralhas
E veja
Não só olhe, VEJA
Nos olhares infinitos de cada um
Existe um universo inteiro
Dentro de cada oceano negro
Existe uma alegria e uma dor
Além das suas
Te convido a entrar
Mas ai você vai ter que olhar
Abre os olhos ou eu te arranco
Sentiu meu ódio?
Sentiu meu pranto?
Amor? Também.
Mas a palavra certa é alteridade
A minha dor é diferente da sua
Mas não importa qual seja a luta
De todas as formas a gente se conecta
Quando o assunto é liberdade