um dia
o espectro saiu pelo portão.
caminhou pelas ruas;
respirou solidão.
a sombra que vagueia
para sem pensar.
e grita.
por não poder mais segurar.
a silhueta sozinha,
pergunta para alguém:
‘você ainda me ouve?’
‘pode ainda me ver?’
o mundo encara mudo
as palavras do tal ser.
ninguém se importa.
ninguém o vê.
ninguém para ou volta.
nem mesmo pra dizer:
‘oi, estou aqui; sinto saudades de você’
a alma cabisbaixa,
perdeu a direção.
não sabe mais onde ficava
o portão pré-solidão.
porque ele não é visto,
também não é lembrado.
como um doente ele sofre;
mentalmente está exausto.
o indivíduo calou-se.
pois não havia o que fazer.
o jeito era esperar
o mau tempo melhorar.
se não fazia diferença,
isso não sabia.
mas queria acreditar
que ele ainda existia.
sem forças estava,
mas, o pouco que pensava,
repetia sem cessar:
‘um dia… um dia vão lembrar’.