Aceita Um?
tô sem isqueiro
Um cigarro, você aceita um? Certo, não precisa aceitar. É que eu gosto de ter algo pra ir queimando aos poucos, enquanto passa o tempo. Vai se dissipando no ar e se tornando apenas a fumaça de algo que já foi sólido. Não é isso, não sou do tipo que faz metáforas. Eu realmente gosto de sentir que algo pode sumir em minutos nas minhas mãos, se tornando algo muito diferente, mas que ainda tem as mesmas substâncias de alguma forma. Na verdade nem sei se mantém as mesmas substâncias. Sei lá. Tem um isqueiro?
Esse é meu último maço, depois de fumar esse cigarro, vai me sobrar mais 3 cigarros. Eu decidi parar de fumar, não sei se me faz bem ou mal, só acho que devo parar. Em algum momento achei que fosse algo legal, que eu precisava disso pra alguma coisa. Algo diferente de quem tem o vício, que não aguenta ficar muito tempo sem sentir os efeitos da falta. Meus vícios são outros, a gente sempre tem algum, mas não vou falar disso agora. Os motivos para fumar nunca são os mesmos, mas a gente sempre justifica como pode.
Eu tava pensando se deveria comprar um isqueiro ali naquele mercadinho, mas ai se eu comprar um isqueiro, compro outro maço, sabe? Velhos hábitos. Talvez eu pare de fumar agora. A preguiça pra mim é muito mais útil que qualquer imagem sensacionalista atrás do maço de cigarro.
Eu parei de pensar no futuro, penso mais no que fazer agora, ou daqui a pouco. E isso me faz rever os hábitos, já que os repito todos os dias. O hábito é o modo automático, tão útil pra ignorar tudo que acontece comigo, com os outros, com a sociedade. Porém sem papinho de modernidade líquida. Termos para maquiar o neoliberalismo. No fim eu só precisava de um isqueiro para queimar tudo.
O cigarro, queimar o cigarro. Ah, você entendeu né?
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