Amarelo

Samanta Rodrigues
(IN) (RE) FLEXÕES
Published in
2 min readSep 29, 2023
Mulher de pele negra retinta, com cabelos escuros presos em uma trança longa, de perfil com os olhos fechados em um fundo de cor amarela.
Foto: Jessica Delfino

Neste mês agora, é a cor que está em todo lugar — online ou físico — para lembrar da conscientização sobre a saúde mental.
O interessante é que esse momento também virou moeda de troca e conveniência para muitas empresas e pessoas, como o junho do Orgulho e daqui a pouco, o novembro da Consciência Negra — mas hoje não vim falar sobre isso.

A saúde mental é uma batalha diária para um bom número de pessoas. Não é um campeonato de quem sofre mais, mas e quando temos as complexidades de ser uma mãe brasileira e negra?

A maternidade na comunidade negra muitas vezes é solitária. E não estou falando só das mães solo, mas também das mulheres que não tem apoio de suas famílias ou amizades que nos entendam sem julgamentos. Ainda temos que lidar com outro combo, já que
“historicamente, as mulheres negras sofrem com os efeitos combinados de diversos sistemas de opressão, sendo discriminadas em razão do gênero, da classe e da raça/etnia. (…) A violência obstétrica é mais uma das formas de violência de gênero e as mulheres negras a vivenciam em maior frequência e intensidade.”*

Somos essas mesmas pessoas cansadas já pela sobrecarga social da maternidade que ainda ganham esse combo do racismo estrutural e da falta de apoio. Por isso, falar de saúde mental e setembro amarelo é mais do que fitinha colorida no avatar, mas abrir espaços e dar atenção para nossas questões. E olá, empresas e espaços formais de estudo, estamos aqui!

Gente, só que não é para uma live com o RH ou uma dinâmica — isso é importante, mas não o essencial que impacta no cotidiano. Mas, entender que reunião para além das 17:30, pode fazer a diferença no stress de buscar a criança na escola para aquela mãe que está desde cedo no trabalho, por exemplo. Uma ação simples, combinada a uma jornada flexível com a gestão direta e o RH traz menos stress, menos angústias, mais tranquilidade o ano todo.

Por favor, conversem e direcionem ações para as mães trabalhadoras e se possível, as mães negras. Nós existimos e nossa saúde mental também precisa de cuidados — direcionados para nossas questões.

*Fonte: Boletim Temático da Biblioteca do Ministério da Saúde. Vol 2, Saúde da População Negra do Ministério da Saúde, out/22.

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Samanta Rodrigues
(IN) (RE) FLEXÕES

Artesã de palavras, criadora de universos, professora, pesquisadora. Mãe do Oliver.