Pré-requisitos para a vaga: inglês

Samanta Rodrigues
(IN) (RE) FLEXÕES
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3 min readApr 27, 2022
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Questão básica: inglês fluente para atuação na área de Design/TI para quem trabalha com textos.

Precisa mesmo? Qual nível?

Primeiro uma dose de contexto sobre mim, que aprendi inglês e espanhol de forma autodidata.
Resumo sem enrolação fanfiqueira: eu não tinha como pagar cursos. Tinha interesse, era adolescente com tempo e afinidade, virei rata de biblioteca, usei livros usados, escutei música gringa, vi muito filme para estudar diálogo, depois fui pra internet — é um esforço enorme fazer isso tudo e dá trabalho SIM.
Corta para 2022 e meu trabalho com idiomas tem uma trajetória em educação e está direcionado na criação de conteúdo, tech e UX.

Ok. O que percebo, na maioria dos requisitos de inglês para vagas, é que em primeiro lugar eles estão de acordo com a mentalidade da pessoa gestora, do RH ou do fit cultural da empresa. Depois, com a real necessidade do cargo.

Em termos práticos? No primeiro caso, uso de termos em inglês sem necessidade nenhuma além de “ser cool” já ninguém precisa entrar numa “meet” com sua “manager”. No segundo caso, se a empresa atende mercado internacional ou conta com pessoas estrangeiras nos times, aí realmente precisa segurar a barra em inglês, fato.

Sobre nível de conhecimento no idioma: o brasileiro fala inglês intermediário. O que isso significa? É um mistério.
A porcentagem de pessoas que tem conhecimento em inglês no Brasil pequena. A maioria está ali como eu estava, sem condições de ter acesso a esse conhecimento.

Mas ei, olha só, esse post não é sobre mim.
É sobre as pessoas que tiveram que se virar para ter acesso à escola e estão no mercado de trabalho. Em algum momento, surgiu a questão do inglês e as pessoas estudaram mas pararam — a empresa não custeia mais, não sobra dinheiro para pagar, a vida acontece.
E aí, qual o nível de inglês botar no currículo? Inglês intermediário.

Explicando: esse “nível” é o que não dá para se garantir numa conversa direta porque as palavras voam e não se acerta os tempos verbais. Se a pessoa falar devagar até dá para pescar algumas palavras. Para escrever, tradutor online. Se tiver que falar alguma coisa, escreve em português, usa o tradutor e aí vai lendo para a outra pessoa.

Tem como alguém trabalhar se comunicando/produzindo em inglês de qualidade desse jeito? Não. Precisa estudar mais.

Tem como acompanhar o “fit cultural”? Sim.
Tem como usar ferramentas/softwares? Sim!

Então, que meu chá já está quase frio:
Empresas, caiam na real das atribuições dos cargos, entregas e “fit cultural”.

RH, parem de nivelar pessoas candidatas só por “ter inglês”. Isso é ignorar a trajetória profissional das pessoas para o que interessa nos cargos.

Pessoas, não inventem inglês intermediário que não existe. Entendam os conhecimentos que vocês tem. Estudem para chegar aos que não tem. Importante: não desistam ou se diminuam. Dá pra aprender, sim!

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Samanta Rodrigues
(IN) (RE) FLEXÕES

Artesã de palavras, criadora de universos, professora, pesquisadora. Mãe do Oliver.