Processos e métodos

Samanta Rodrigues
(IN) (RE) FLEXÕES
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3 min readMay 9, 2022
Foto de Gift HabeshawUnsplash

Primeiro, assim para começar mesmo, a constatação: em minhas formações em Letras pouco ou nada foi visto sobre métodos e processos de escrita.

Essa semana rolaram algumas conversas e um dos tópicos recorrentes foi a escrita, em geral. Papos sobre métodos, processos, recursos, ferramentas, técnicas XYZ.

Ah, estudei abordagens teóricas, fiz provas sobre e tive duas disciplinas no formato oficina, em que escrevíamos os textos e compartilhávamos com os colegas para críticas e impressões. Claro, tem as trocas e aprendizados reais da vida universitária: nos corredores, a caminho das aulas, um café entre os períodos. Teve épocas ousadas até, com saraus e publicações de diretório, concursos…

Mas e o criar? A discussão sobre os temas ali de cima?

Então. Para começar, é preciso entender que essa ideia da pessoa escritora com sua bebida, sozinha no escuro é uma construção, uma persona. Tem também outra persona, a redatora hipercriativa e atormentada das agências.
O problema não é romantizar a existência dessas personas, como muito acontece no cinema (e na vida). A questão é de omissão no estilo “não vamos falar sobre o Bruno”.

O que vem em seguida é que isso acaba gerando uma série de dúvidas em quem chega no mercado e arranja um emprego.

De cara, precisamos aceitar o fato que o texto não é de quem cria. O texto é para alguém — ou alguéns.

“Ah, mas eu sei disso, eu estudei no curso/videoaula/disciplina/faculdade XYZ que fala sobre autoria etc etc”. Pois é, mas na hora de usar alinhamento centralizado porque se observou que a aceitação é melhor no Google Trends, é a mesma pessoa que pira.

Outra realidade: não se escreve sozinho.

Se dimensiona, organiza, produz — e compartilha com outras pessoas na empresa. Essas pessoas vão opinar, vão contribuir, vão participar nesse texto. Elas podem estar em niveis superiores ao que estamos mas nem sempre é assim e tudo bem.

Nessa esteira do não estar sozinho, também me refiro ao físico.

Em alguns casos se trabalha em um espaço compartilhado com pessoas que não escrevem. Para Tech Writer ainda tem o plus de ir atrás de devs, pessoas de engenharia e dependendo, passar um tempo junto delas. Não se engane quem vai para o lado UX da Força: pesquisa sempre faz parte.

Percebam, ninguém tem conhecer todas as técnicas, ferramentas e teorias para trabalhar. Mas é preciso, sim, ter uma visão do que se pratica e do que se espera de alguém na profissão. Da mesma forma, não embarcar em discurso empolgado que vende “profissão X, salário milionário”.

Os idiomas são vivos e feitos por pessoas. A escrita, da mesma forma.
Aprender envolve muito mais do que apenas ter contato com materiais e teorias. Por isso ler e sem se restringir somente à escola, universidade, curso ou um único professor.

Vamos lá dar esse passo essencial, que é normalizar ir conversar com as pessoas que produzem para aprender com elas também? Sem medo, ou com medo mesmo!

Vá além:

Uma escritora e seu processo (inglês)

Um dia de UX Writer

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Samanta Rodrigues
(IN) (RE) FLEXÕES

Artesã de palavras, criadora de universos, professora, pesquisadora. Mãe do Oliver.