Naim

Diego Santos
Incomunidade Crônicas
3 min readSep 23, 2015

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A multidão silencia.
De repente todo pranto cessa e as pessoas param como que em transe. Nada se houve a não ser o doce silvo do vento entre as árvores.
- Mamãe, o que está acontecendo? — pergunta um menino.
- Shh! Fica quietinho meu filho. — responde a mãe, os olhos fixos na cena que se desenrola logo à frente.
A mulher, que outrora se encontrava num pranto dolorido, agora chora de emoção. Quase que num desespero, abraça ao filho com força, como se a morte lhe fosse tomá-lo mais uma vez.
Com os olhos vermelhos de quem a dias não conseguia dormir, desmanchando-se em prantos sozinha em sua cama, ela olhou por sobre os ombros do filho para o homem que o trouxera de volta.
Ela não O conhecia, porém já ouvira falar dEle. Corria o assunto pela pequena cidade de Naim a cerca do Homem Galileu que andava pelas cidades ao redor realizando milagres, curando pessoas e desafiando os fariseus. Ela se lembra de ter pensado, ao ouvir falar dEle, que este era apenas mais um que aparecia querendo ser o messias, fazendo truques e provocando confusões.
Nunca imaginou que O conheceria pessoalmente.
Ao vê-lo parado no portão da cidade a olhá-la em meio à procissão, sentiu como que se uma onda de carinho, compreensão e compaixão emanasse dos Seus olhos em sua direção. Ele sabia, teve certeza, o que ela estava sentindo. Conhecia a sua história e todo o seu sofrimento.
Ele aproximou-se e lhe disse que não chorasse.
Tantas pessoas naqueles últimos dias tentavam consolá-la de alguma forma, tentavam dizê-la que tudo ia ficar bem. Mas ela sabia que não era assim. Sabia que essas mesmas pessoas na verdade tinham pena dela e iriam virar-lhe as costas em breve, assim que seu filho estivesse enterrado.
Era o costume da época, não havia outra saída. Ela seria rejeitada e, sem marido e filhos, logo estaria perdida, tendo como destino inevitável a prostituição ou a morte por inanição.
O que ela viu nos olhos daquele Homem foi mais do que pena por seu filho morto e pela situação em que estava. Ela viu sincero pesar. Viu que Ele partilhava a sua dor como um pai que vê o filho a sofrer e deseja, mais que tudo, poder consolá-lo.
Quando Ele disse que não chorasse, subitamente não lhe veio mais o desejo de chorar. Um calor diferente começou aquecer-lhe o coração. Foi tomada por um sentimento de certeza e conforto tão grande que ela não ouvia nem via mais nada. Aquele maravilhoso olhar de amor preenchia tudo.
Quando Ele falou, sua voz era a de um amoroso pai chamando o filho de volta. Seu filho se levantou e o mundo encheu-se de luz.
As pessoas entreolhavam-se estupefatas. Ninguém ousava pronunciar palavra. O silvo do vento agora tornou-se mais forte.
O Homem sorriu o sorriso da vitória, olhou para o céu e balbuciou algumas palavras. Aproximou-se da mulher e, com o dedo secou-lhe a última lágrima. Virou-se e foi embora.
Ela ficou ali, abraçada ao filho. A Sua paz era dela.
Em seu coração a certeza de que jamais choraria de novo.

Lucas 7:11–15

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