Conheça o caso brasileiro que é exemplo para a comunidade ufóloga

Conhecido como Mistério das Máscaras de Chumbo, o caso brasileiro é exemplo para a comunidade ufóloga internacional

Millena Borges
Inconclusivo
6 min readJul 14, 2020

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Caso das Máscaras de Chumbo. Na imagem: Miguel José Viana e Manoel Pereira da Cruz
Créditos: Wikimedia commons

Em 20 de agosto de 1966 foram encontrados os corpos de Miguel José Viana, 34 anos, e Manuel Pereira da Cruz, 32 anos, no alto do Morro do Vintém, em Niterói (RJ). A perícia não conseguiu concluir a causa mortis, e as evidências encontradas abriram possibilidades para teorias que vão de latrocínio até ação extraterrestre. Esse é um dos casos mais famosos na comunidade ufóloga.

Moradores de Campos dos Goytacazes, localizada no norte fluminense do Rio de Janeiro, Manuel Pereira da Cruz e Miguel José Viana eram técnicos de televisão experientes, casados e com boas condições financeiras. Ambos eram adeptos à religião espírita e, por isso, dedicavam parte de seu tempo estudando os ensinamentos de Allan Kardec e outros renomados autores. Os amigos queriam provas concretas de que o que estudavam era real.

No dia 12 de agosto, Fernando José, vizinho e amigo de Manuel, o encontrou martelando um cano de chumbo em sua casa. Em entrevista à antiga revista carioca Manchete, Fernando contou que, ao questionar o amigo, obteve como resposta: “Estamos criando qualquer coisa que evitará o fim do mundo em 1968, quando um grande ciclone arrasará grande parte do nosso planeta”.

Poucos dias depois, Manuel e Miguel disseram às suas esposas que iriam até São Paulo comprar um carro para melhor atender seus clientes. No dia 17 de agosto, sem bagagem e com pouco mais de 2 milhões cruzeiros (mais ou menos, 3 mil reais) — dinheiro insuficiente para a compra de um carro — foram levados até a rodoviária por um amigo, Élcio Gomes, onde os dois partiram para Niterói.

Fotografia: Elaine Vilela

Por volta das 15 horas, já em Niterói, compraram capas de chuvas em um armarinho, visto que chovia bastante. Meia hora depois, estiveram em uma loja de ferragens de um amigo de Manuel, onde disseram que iriam até São Paulo comprar aparelhos de televisão. Às 16h30 estiveram em um bar onde compraram uma garrafa de água mineral. A atendente contou que ambos pareciam apressados, constantemente olhando para o relógio. Após isso, seguiram para o alto do Morro do Vintém, onde seriam encontrados, dias depois, sem vida.

No dia 20 de agosto, um adolescente subiu o Morro do Vintém para soltar pipa quando encontrou Miguel e Manuel. Os corpos estavam deitados de costas sobre folhas de palmeira. Nos bolsos, haviam os recibos das capas de chuva que usavam, e do casco de água que precisava ser devolvido. Não haviam sinais de violência.

Os seguintes itens foram encontrados: duas toalhas, uma garrafa de água vazia, um lenço com as iniciais A.M.S, um caderno de anotações e duas máscaras de chumbo que cobriam-lhes os olhos. Apenas 10% do dinheiro levado foi encontrado. Essas foram as anotações encontradas:

“16.30hs estar no local

18.30hs ingerir cápsula. Após efeito, proteger metais. Aguardar sinal. Máscara”

Em outro pedaço de papel, continha as seguintes recomendações:

“Domingo, uma cápsula após a refeição. Segunda-feira uma cápsula ao amanhecer, em jejum. Terça feira, uma cápsula após a refeição. Quarta-feira, uma cápsula ao deitar”

“1ª Inicial I = E/R, E= I x R

R= E/I, W= I x E”

Essa equação é referente a Lei de Ohm, bastante utilizada por técnicos de televisão.

O que mais chocou, no entanto, foram as máscaras, que deram nome ao caso. Esse tipo de equipamento de proteção é utilizado para evitar radiação, que atinge principalmente a pele e olhos. Devido a falta de equipamento, não houve testes na área em busca de traços de radioatividade, ou análise do solo.

Os corpos seguiram para o IML mas muitos exames não foram realizados. As vísceras, que poderiam indicar a causa da morte, foram jogadas fora sem análise. O motivo foi a falta de reagentes necessários para os testes. Os corpos ficaram 2 dias no necrotério e foram liberados sem obituário, o que não é recomendado.

Além disso, o laudo médico foi assinado por um legista que não estava no caso. De acordo com as normas do IML, tal laudo sequer deveria ter sido assinado visto que os devidos exames não foram realizados. A causa da morte jamais foi identificada. Um ano depois foi pedido a exumação dos corpos para maiores análises, mas o excesso de formol impediu que isso ocorresse.

Algumas teorias sustentadas pela polícia foram de latrocínio (roubo seguido de morte), homicídio ou pacto de morte. Também acreditavam que uma terceira pessoa estava envolvida, visto que as folhas onde os corpos estavam sobre haviam sido cortadas com um objeto que não foi encontrado. Isso também explicaria o desaparecimento de parte do dinheiro. No entanto, os corpos ainda constavam alianças de ouro, relógios e óculos.

O principal suspeito foi Élcio Gomes. Gomes havia apresentado o espiritismo à Miguel e Manuel, e era comumente visto com os dois fazendo experiências. A revista O Cruzeiro contou que o pai de Manuel, Sebastião Pereira da Cruz, disse que o trio já havia explodido uma bomba no quintal do filho durante uma de suas experiências. “Há alguns meses os três já haviam testado outro engenho na praia de Atafona, perto de Campos, onde provocaram pânico na população com a explosão de um objeto grande e luminoso. O boato corrente na época era que ‘um disco voador havia caído no mar’”, disse à revista.

Créditos: Manchete RJ

Após a divulgação do caso pela mídia, moradores da região haviam reportado luzes brilhantes no céu acima do morro na noite em que Manuel e Miguel morreram. Tais testemunhos trouxeram ufólogos de diversos países para estudar o caso, hoje considerado um dos maiores mistérios da ufologia mundial.

Em 1980, um famoso ufólogo e cientista que trabalhou para a NASA, Jacques Vallée, esteve no Brasil para pesquisar o caso. Vallée notou que a vegetação na área onde os corpos foram encontrados não havia crescido mais, 14 anos após o incidente. Além disso, o solo parecia ter sido queimado.

Créditos: O Cruzeiro

O interesse de Miguel e Manuel pela vida em outros planetas não era desconhecido. Na reportagem da revista Manchete, o pai de Miguel relembra as falas do filho: “Estou certo de que a Terra não é o único planeta habitado. Muitos outros planetas também o são. Atualmente venho fazendo estudos a respeito e estou cada vez mais convicto de que as possibilidades de o homem chegar a um outro mundo habitado são muito maiores e mais fáceis do que se imagina”.

Em 1962, quatro anos antes do incidente, outro técnico de televisão também morreu em Niterói sob as mesmas circunstâncias. Encontrado no alto do Morro do Cruzeiro, Hermes Luiz Feitosa também tinha uma máscara de chumbo consigo. A causa mortis também nunca foi identificada.

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Millena Borges
Inconclusivo

Entusiasta de sad songs, vegetariana, apaixonada por pets, livros, música e moda. Escrevia sobre unsolved mysteries, hoje escrevo sobre qualquer outra coisa