DESIGN THINKING
Hybrid Thinking e um novo consultório médico
Entre 2006 e 2010, o Mayo Clinic Center for Innovation’s (CFI), junto a Divisão Geral de Medicina Interna e ao Departamento de Instalações redesenhou o ambiente de uma sala de exames. O projeto que ficou conhecido como "Jack-and-Jill Suites" [1,2,3].
Partindo da premissa de que salas de exame não mudaram muito nos últimos 100 anos, a despeito das diversas mudanças como a inclusão do computador e transformações na relação entre médicos e pacientes, times de design se juntaram a pacientes e profissionais de saúde para readequar esse ambiente que todos nós conhecemos.
A presença de lugares para acompanhantes do paciente e um boa estrutura para o médico apresentar informações para o paciente sem precisar ficar virando a tela do computador são coisas pequenas que muito impactam uma experiência usualmente já repleta de atritos, inseguranças e distanciamentos. Atentando-se para isso e muitos outros pontos, o projeto contou com uma intensa colaboração multidisciplinar e alcançou resultados incríveis, como:
- Eliminação de elementos desnecessários e introdução de mais sustentabilidade energética nas salas;
- Aproximação entre médico e paciente, reduzindo a polarização e a tensão na comunicação;
- Incremento no conforto, menor intimidação pelos instrumentos médicos e menos constrangidos na sala exames;
- E ótimos feedbacks de todos os stakeholders!
Explicando um pouco do contexto dessa iniciativa, cabe uma breve menção ao histórico do CFI. Criado a partir de uma marcante parceria entre IDEO e Mayo Clinic, instituições de referência internacional em suas respectivas áreas, foi fruto de um projeto anterior, de 2002, quando os médicos Nicholas LaRusso e o colega Dr. Michael Brennan começaram um laboratório ambulatorial no estilo "Skunkwork Project" chamado SPARC. O Skunkwork prioriza agilidade e descoberta, aplicando-se, sobretudo, à inovação radical, como nos moonshots.
No CFI, profissionais de saúde, engenheiros e designers encontram um ambiente para geração e teste de hipóteses, interagindo com provedores e pacientes. Inspirado nesse e diversos outros exemplos do CFI e iniciativas globais, destaco alguns grandes aprendizados:
Design como um mindset para problem-solving
Corroborando com o paradigma muito falado de olhar design além de disciplinas artísticas ou mesmo de restritas à construção de identidades visuais, esse tipo de projeto nos leva para uma entrega de valor muito mais profunda do Design: concebê-lo como uma forma de pensar.
O Design Thinking pode ser entendido além de empatia, colaboração, experimentação e storytelling. Isso é, como um modelo mental, uma forma de repensar desafios voltando à forma como observamos o mundo, como processamos essas informações e como materializar tudo isso evocar experiências complexas e multifacetadas. Fato esse que vai além de pensar apenas no usuário ou até mesmo apenas no humano (pauta frequente nas críticas ao user e human centered design).
Trata-se de pensar em ecossistemas, sistemas complexos e alinhamentos multidisciplinares, orientados, estruturados e simplificados pelo Design; um mindset para enxergar a realidade e seus desafios.
Hybrid Thinking
Aprofundando esse ponto da expansão e aprofundamento do Design, cabe a citação do conceito tratado no artigo de Dev Patnaik, o Hybrid Thinking. Dev o define como:
"The conscious blending of different fields of thought to discover and develop opportunities that were previously unseen by the status quo"
Isso ilustra bem a mistura da visão e das skills de profissionais da saúde, designers, engenheiros e variados outros perfis que vêm permitindo projetos incríveis como o Jack-and-Jill. Mais que isso, o trabalho coletivo, a redução de barreiras técnicas em muitas áreas e crescente democratização de conhecimentos vem permitindo que cada indivíduo também seja multidisciplinar, fazendo poderosas conexões de diversos conhecimentos e melhor interagindo com seu time.
Empatia, iteratividade e aprendizado
Um dos pontos máximos dos projetos conduzidos no CFI é disruptar a saúde e seu modus operandi frequentemente engessado como rotinas de prototipação e aprimoramento contínuo.
A sala de exames mostrada foi resultado de um ciclo de cocriações e coletas de feedback dos stakeholders principais, como médicos e pacientes. Esse blend entre "builders" e "users" permite criações atentas à exequibilidade e à viabilidade, sem perder o lastro na desejabilidade.
Trabalho em equipe e ownership de colaboradores
Por fim, cabe destacar o fato de projetos de inovação em saúde oxigenam e ampliam as perspectivas dos diversos profissionais que trabalham nos ambientes que são desenvolvidos.
Equipes de enfermagem, médicos, recepcionistas, pessoas que fazem a limpeza e administradores estarão vendo toda aquela movimentação acontecer, e correm o alto risco de serem contaminados por uma das mais fundamentais essências humanas: a vontade de criar.
A implementação de processos e de regularidade de iniciativas de Design Thinking acabam convidando "colaboradores a colaborar", de forma contínua, genuína e orientada por valor (e não só cumprir funções engessadas de trabalho). Boas ideias podem vir de qualquer lugar, e maximizar o número de fontes para elas pode ser um shortcut para impactos monstruosos.
Ademais, colaboradores inspirados tendem a cursar com engajamento, autodesenvolvimento e qualidade de vida incrementada. Questionar o status quo e operar em cima de sua transformação permite um profundo senso de ownership.
Espero que iniciativas como essa da Mayo Clinic também inspirem você a gerar movimento e impacto no setor da saúde, e muitos outros que possa colaborar.
Na Indigo, acreditamos que a saúde tem muito a se beneficiar do Design Thinking e de sua democratização. Muito mais que isso, queremos colaborar com o movimento de unir mais pessoas, iniciativas e áreas, seja com lean healthcare, biodesign, biomimética ou data science. Toda ajuda é bem vinda.
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Referências
[1] http://centerforinnovation.mayo.edu/jack-and-jill-rooms/
[2] https://cdn.prod-carehubs.net/n1/7a00601cb4fd7864/uploads/2016/01/innovating-health-care.pdf
[3]http://www.educasaude.com.br/design-thinking-na-saude-5-exemplos-de-sucesso/