DESIGN THINKING

Hybrid Thinking e um novo consultório médico

Fred Andrade
Indigo Health
Published in
5 min readJan 17, 2021

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Entre 2006 e 2010, o Mayo Clinic Center for Innovation’s (CFI), junto a Divisão Geral de Medicina Interna e ao Departamento de Instalações redesenhou o ambiente de uma sala de exames. O projeto que ficou conhecido como "Jack-and-Jill Suites" [1,2,3].

Partindo da premissa de que salas de exame não mudaram muito nos últimos 100 anos, a despeito das diversas mudanças como a inclusão do computador e transformações na relação entre médicos e pacientes, times de design se juntaram a pacientes e profissionais de saúde para readequar esse ambiente que todos nós conhecemos.

Comparação histórica entre como salas de exame mudaram ao longo dos anos.
Visão das salas de exame médico ao longo de 100 anos: quase nada mudou.

A presença de lugares para acompanhantes do paciente e um boa estrutura para o médico apresentar informações para o paciente sem precisar ficar virando a tela do computador são coisas pequenas que muito impactam uma experiência usualmente já repleta de atritos, inseguranças e distanciamentos. Atentando-se para isso e muitos outros pontos, o projeto contou com uma intensa colaboração multidisciplinar e alcançou resultados incríveis, como:

  • Eliminação de elementos desnecessários e introdução de mais sustentabilidade energética nas salas;
  • Aproximação entre médico e paciente, reduzindo a polarização e a tensão na comunicação;
  • Incremento no conforto, menor intimidação pelos instrumentos médicos e menos constrangidos na sala exames;
  • E ótimos feedbacks de todos os stakeholders!
Comparação das salas de exame antes e depois do projeto Jack-and-Jill Suites

Explicando um pouco do contexto dessa iniciativa, cabe uma breve menção ao histórico do CFI. Criado a partir de uma marcante parceria entre IDEO e Mayo Clinic, instituições de referência internacional em suas respectivas áreas, foi fruto de um projeto anterior, de 2002, quando os médicos Nicholas LaRusso e o colega Dr. Michael Brennan começaram um laboratório ambulatorial no estilo "Skunkwork Project" chamado SPARC. O Skunkwork prioriza agilidade e descoberta, aplicando-se, sobretudo, à inovação radical, como nos moonshots.

Prédio da Google, empresa que tem uma operação dedicada a Moonshots: o Google X

No CFI, profissionais de saúde, engenheiros e designers encontram um ambiente para geração e teste de hipóteses, interagindo com provedores e pacientes. Inspirado nesse e diversos outros exemplos do CFI e iniciativas globais, destaco alguns grandes aprendizados:

Design como um mindset para problem-solving

Corroborando com o paradigma muito falado de olhar design além de disciplinas artísticas ou mesmo de restritas à construção de identidades visuais, esse tipo de projeto nos leva para uma entrega de valor muito mais profunda do Design: concebê-lo como uma forma de pensar.

O Design Thinking pode ser entendido além de empatia, colaboração, experimentação e storytelling. Isso é, como um modelo mental, uma forma de repensar desafios voltando à forma como observamos o mundo, como processamos essas informações e como materializar tudo isso evocar experiências complexas e multifacetadas. Fato esse que vai além de pensar apenas no usuário ou até mesmo apenas no humano (pauta frequente nas críticas ao user e human centered design).

Trata-se de pensar em ecossistemas, sistemas complexos e alinhamentos multidisciplinares, orientados, estruturados e simplificados pelo Design; um mindset para enxergar a realidade e seus desafios.

Chimeric cat

Hybrid Thinking

Aprofundando esse ponto da expansão e aprofundamento do Design, cabe a citação do conceito tratado no artigo de Dev Patnaik, o Hybrid Thinking. Dev o define como:

"The conscious blending of different fields of thought to discover and develop opportunities that were previously unseen by the status quo"

Isso ilustra bem a mistura da visão e das skills de profissionais da saúde, designers, engenheiros e variados outros perfis que vêm permitindo projetos incríveis como o Jack-and-Jill. Mais que isso, o trabalho coletivo, a redução de barreiras técnicas em muitas áreas e crescente democratização de conhecimentos vem permitindo que cada indivíduo também seja multidisciplinar, fazendo poderosas conexões de diversos conhecimentos e melhor interagindo com seu time.

Paper sketches

Empatia, iteratividade e aprendizado

Um dos pontos máximos dos projetos conduzidos no CFI é disruptar a saúde e seu modus operandi frequentemente engessado como rotinas de prototipação e aprimoramento contínuo.

A sala de exames mostrada foi resultado de um ciclo de cocriações e coletas de feedback dos stakeholders principais, como médicos e pacientes. Esse blend entre "builders" e "users" permite criações atentas à exequibilidade e à viabilidade, sem perder o lastro na desejabilidade.

Team work!

Trabalho em equipe e ownership de colaboradores

Por fim, cabe destacar o fato de projetos de inovação em saúde oxigenam e ampliam as perspectivas dos diversos profissionais que trabalham nos ambientes que são desenvolvidos.

Equipes de enfermagem, médicos, recepcionistas, pessoas que fazem a limpeza e administradores estarão vendo toda aquela movimentação acontecer, e correm o alto risco de serem contaminados por uma das mais fundamentais essências humanas: a vontade de criar.

A implementação de processos e de regularidade de iniciativas de Design Thinking acabam convidando "colaboradores a colaborar", de forma contínua, genuína e orientada por valor (e não só cumprir funções engessadas de trabalho). Boas ideias podem vir de qualquer lugar, e maximizar o número de fontes para elas pode ser um shortcut para impactos monstruosos.

Ademais, colaboradores inspirados tendem a cursar com engajamento, autodesenvolvimento e qualidade de vida incrementada. Questionar o status quo e operar em cima de sua transformação permite um profundo senso de ownership.

Espero que iniciativas como essa da Mayo Clinic também inspirem você a gerar movimento e impacto no setor da saúde, e muitos outros que possa colaborar.

Na Indigo, acreditamos que a saúde tem muito a se beneficiar do Design Thinking e de sua democratização. Muito mais que isso, queremos colaborar com o movimento de unir mais pessoas, iniciativas e áreas, seja com lean healthcare, biodesign, biomimética ou data science. Toda ajuda é bem vinda.

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