Inspiração e advocacy: faça parte da mudança!

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6 min readSep 1, 2019

Por Gabriel Justino

Uau. Quanto tempo se passou desde o último post aqui nas redes do InFoco. Tenho que confessar que as vezes é difícil sentar, pensar e escrever sobre a área de biblioteconomia. Afinal como nos manter motivados com tantas notícias desgastantes e que muitas vezes nos entristece? E quando digo isso é no âmbito cultural, social e principalmente no que tange as nossas bibliotecas.

Acredito que a palavra da vez seja o advocacy, mas afinal como uma palavra em inglês que não foi traduzida para o português pode fazer sentido em terras tupiniquins? A resposta não é simples, pois, muito mais que um like ou comentário em qualquer rede social, o advocacy pressupõe uma luta fora das redes, um verdadeiro engajamento por aquilo que se acredita para que uma genuína mudança ocorra.

E essa luta não será fácil, aliás, é um caminho árduo, convencer nossa sociedade de que as bibliotecas não estão mortas e que nem tudo o que está online pode ser considerado confiável, e que elas ainda valem a pena, que o bibliotecário é mais do que a “tia de coque”, que usa óculos e que pede um retumbante silêncio nas bibliotecas, veja quem vos escreve, passa longe desse estereótipo repetido afincadamente pelas produções hollywoodianas. Em meio a tudo isso a pergunta é: qual a ação que deveria fazer, promover ou até mesmo divulgar para que este cenário mude? Vejo alguns caminhos possíveis resumidos em uma só palavra: Ação!

Bibliotecas e bibliotecários fazem parte da história da Humanidade, Lankes (2016, p. 4) nos fala da presença de bibliotecários no “centro de um império egípcio em ascensão no século III a.C. e da expressão da matemática na Arábia no século XIV” e também de “bibliotecas que ajudaram a Europa da idade das trevas a entrar no Renascimento e ajudaram a democracia a prosperar num Estados Unidos pós colonial” e ainda segundo Laurentino Gomes (c2007) foi graças a uma família de bibliotecários que preservaram as cartas de Luís Joaquim dos Santos Marrocos, que historiadores podem entender melhor o período que a família real portuguesa passou no Brasil entre os anos de 1808 e 1821.

Sabe, quando entendemos a verdade por trás do trabalho das bibliotecas e dos bibliotecários, descobrimos como criar a credibilidade e a confiança entre eles e a comunidade que servem, mesmo em uma sociedade assoberbada com mudanças e escolhas, incapaz de debater sem gerar discussões raivosas. E é neste contexto, que bibliotecários e bibliotecas podem ser o farol que possibilitará a criação de ambientes em que possamos fazer isso, sem perder nossa civilidade. Quando finalmente entendermos isso, perceberemos o nosso papel, entendendo que ele é tão grandioso quanto ao de um cidadão na sociedade.

Logo do [RE]Pense

E foi neste intuito, que aconteceu o [RE]PENSE, um evento idealizado pelo InFoco, para que seja criado um ambiente de discussão, um encontro de bibliotecários, estudantes de biblioteconomia e todos os cidadãos interessados em promover uma sociedade mais justa e leitora, através do debate e de ações que podem ser implementadas pós-evento, acredito que o advocacy seja isso, quando profissionais se reúnem para além das redes sociais e arregacem as mangas, inconformados com o atual cenário para realmente forçar uma mudança, uma que vai além de palavras, de discursos que são lindos, de muitos likes e de comentários também, mas são as ações que transformarão nossa área.

Não fique envergonhado, tenho certeza que deve fazer algo positivo que impacta sua comunidade, não fique receoso, compartilhe o que você faz, chame os colegas que estudaram com você para discutir ações que vocês podem promover juntos, essa é a essência do advocacy, deixar de fazer ações individualizadas, para realizar um trabalho em conjunto em prol de um bem comum, neste caso: nossas bibliotecas e nossa profissão como bibliotecários.

Programa de advocacy da IFLA através dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)

Temos que parar de nos desvalorizar enquanto profissionais, nossa profissão é linda! Claro que não vivemos num mundo pollyanesco e temos muitos problemas para serem resolvidos, mas algo que tenho aprendido é saber quais são os problemas da área e buscar junto aos meus amigos as soluções para resolvê-los. Tenho aprendido, que só esses textos de quem vos escreve não são suficientes, e as reclamações no Facebook e nos grupos de Whatsapp não mudarão absolutamente nada na biblioteconomia brasileira, muito pelo contrário, só agravarão a situação e a sensação de que estamos cada vez mais num abismo e num túnel sem luz do qual não vemos a saída.

Precisamos ter a coragem para enfrentar os problemas que a biblioteconomia tem, precisamos de entidades representativas fortes e unidas. E é nosso dever, nossa lição de casa, fazer com que cada uma delas sejam fortes e ouvidas, uma classe que tem muitas vozes, acaba se perdendo em seu próprio barulho. Devemos unificar nosso discurso em prol de manter as bibliotecas que já temos, abrir frentes de trabalho para os bibliotecários, mostrando que ele é um profissional que pode e fará a diferença na instituição em que ele atuará e então quando essa luta for iniciada, mostrar para a sociedade que ela precisa de mais bibliotecas e que nosso país precisa delas, de que realmente precisamos de uma biblioteca por cidade nesse país.

Esse é uma luta que para mim vale a pena. O advocacy é diário! Fazer com que meus amigos e familiares entendam a completude do fazer bibliotecário, independentemente do contexto de atuação, afinal, trabalhamos com informações e com a competência informacional, não só em bibliotecas, mas em todo o local em que a informação está inserida, precisamos sair de nossas bolhas de congressos e eventos afins, e não no sentido de acabar com esse tipo de evento, mas no sentido de a sociedade saber de todas as discussões maravilhosas que temos a respeito da democratização da informação, da leitura e dos trabalhos desenvolvidos em comunidades por esse brasilzão afora. E que trabalho temos! Iniciativas maravilhosas que ficam restritas a determinada comunidade. Dê voz a seu projeto!

Mais do que nunca precisamos nos unir, mostrar que bibliotecários tem muito a contribuir. Necessitamos de união, advocacy e luta, muita luta, pois sei que muitos acreditam que a leitura transforma; as bibliotecas são armas para a transformação de comunidades, são espaços onde o que ecoa é a voz da democracia, é o lugar em que você pode encontrar e promover debates de ideias divergentes de forma civilizada e respeitando a opinião diferente de outrem, e os bibliotecários, deveriam ser os guardiões ferrenhos para que este tipo de espaço seja dessa maneira ou comece a ser construído dessa forma.

A verdade de tudo isso, é a que deixamos de ser os guardiões do conhecimento e nos tornamos os disseminadores dele, de que as bibliotecas deixaram de ser limitadas a livros ou a de remanescentes históricos de um tempo que já passou, aliás, temos de deixar de ver os livros como nossa principal ferramenta de trabalho e enxergar a nossa comunidade para promover a paixão pela leitura e empoderar as comunidades a que servimos.

Se você leu este texto até aqui, saiba que você não está sozinho querendo mudanças, outros também querem. Então se junte nesse movimento de advocay e verifique como você pode ajudar: vá até a associação do seu estado e verifique se precisam de ajuda, veja se o CRB de sua região precisa de algo, vá ao sindicato e filie-se e ajude a fortalecer o movimento trabalhista ou junte colegas de trabalho ou de faculdade para promover pequenas ações de leitura pela sua cidade que incentive o uso de bibliotecas. Várias são as frentes. Podemos mudar a biblioteconomia brasileira e o modo como a sociedade nos vê.

A mudança começa por nós. Vamos juntos mudar esse cenário.

REFERÊNCIAS

GOMES, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. 2ed. São Paulo: Planeta, c2007.

LANKES, R. David. Expect more: melhores bibliotecas para um mundo complexo. São Paulo: FEBAB, 2016.

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