Webconferência Práticas críticas de ensino em bibliotecas: é possível construir coletivamente o conhecimento à distância?

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5 min readJun 21, 2020

Por: Marina Maschietto|Revisão por: Gabriel Justino

Em abril, após assistir a WebConferência, ação que faz parte de um projeto de extensão da Universidade Federal da Paraíba, o LICA- Lugar da Informação, do Conhecimento e da Aprendizagem, tive alguns insights que relatarei a seguir.

Seguindo o modelo de videoconferências bastante comuns pela web atualmente, a WebConferência sobre práticas críticas de Ensino em Bibliotecas com Andrea Doyle¹, doutoranda em Ciência da Informação pelo PPGCI/IBICT-UFRJ e Mestra em Ciência da Informação pela mesma instituição, inaugurou as atividades online do Projeto de Extensão LICA, promovido pela Biblioteca Setorial de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba².

Durante a conversa de tom levemente informal, Andrea nos apresentou diversos conceitos trilhando seu caminho para chegar ao objetivo de discutir sobre as competências e habilidades necessárias para o desenvolvimento de um pensamento crítico sobre a sociedade a partir da perspectiva da informação.

Nesse caminho, utilizando-se de referências como: Paulo Freire, Bordieu e Bell Hooks, a doutoranda apontou a informação, não de acordo com seu registro, ou como fruto da cabeça de quem a acessa, mas em uma relação intersubjetiva que baseia-se na junção de diversos elementos, verificando principalmente os lugares e contextos de onde partem os discursos. Reforçando a importância de personalizar as ideias, entendendo, principalmente o sujeito de quem parte a informação.

Referenciando a escola de Frankfurt, Andrea colocou a ciência como algo não neutro, tendo em vista que é feita por pessoas que possuem interesses, vontades, fraquezas e limitações e que isso tudo faz parte da construção da própria ciência, além da relação entre grupos privilegiados e não privilegiados, quando indicou, o que é tido como “normal” e qual é a imagem “do outro”.

Ao citar Paulo Freire e a Pedagogia do Oprimido, elucidou a educação criada pela elite intelectual que, por meio da sua cultura, impõe uma educação específica e defendeu que para a educação fazer sentido, ela precisa ser baseada na cultura popular, colocando como “sujeito” aquele indivíduo que percebe e que constrói o próprio mundo e, somente assim se conscientiza de seu papel social.

“Aprender também é doído, a gente sofre muito pra aprender, pra ler, escrever, formular as próprias ideias, mas também é uma alegria muito grande quando a gente entende que produziu conhecimento a partir das coisas que lemos”,

apontou a pesquisadora, reforçando a importância do que Paulo Freire chama de Entusiasmo.

Ao final de sua fala, a pesquisadora citou a informação mediada digitalmente e refletiu acerca de seus algoritmos e, aproximando-se da realidade, conduzindo o debate para o atual contexto no qual, de forma generalizada, estamos todos precisando nos adaptar à nova realidade das aulas e eventos online.

Considerando as colocações, provocações e reflexões sobre o ensino à distância e algumas sobre as tecnologias que, de certa forma, estamos reféns, pensei sobre a biblioteconomia, e a forma que não estamos plenamente preparados para atender às demandas tecnológicas de nossa área. Neste sentido devemos pensar, discutir e debater mais o nosso papel frente a essas tecnologias e como utilizá-las em favor do bibliotecário e das bibliotecas.

Desde que me formei, uma reflexão bastante frequente que faço é: o quanto o bibliotecário precisa se alinhar às tecnologias e se aliar aos profissionais de T.I. Essa proximidade, só tem a acrescentar, afinal, nós temos a lógica e a técnica sobre como uma informação pode ser bem organizada, eles possuem a técnica de como construir o que precisamos, juntos, no atual contexto, seremos fundamentais para que as tecnologias, e consequentemente a informação e o conhecimento cheguem às pessoas.

Em uma matéria da Forbes, traduzida pelo Biblioo³, datada de setembro do ano passado, essa inquietação é reforçada, quando aponta a necessidade de compreender a evolução global de como as sociedades geraram, gerenciaram, consumiram e utilizaram informações ao longo da história como caminho possível para a construção de sistemas mais inteligentes.

A exposição de Andrea sobre informação, me leva a pensar na necessidade de compreender que a informação é intersubjetiva e circunstancial, dessa forma, não podendo ser descolada de seu contexto (lugares sociais, momentos políticos, econômicos e etc.) e que por ser feita por pessoas e para pessoas, deve-se levar em consideração os fatores como desejos e interesses, mas que tais informações, poderiam chegar a lugares muito mais distantes com a maior união entre o bibliotecário e os profissionais das tecnologias da informação.

A pergunta que fica: como assim a união desses profissionais? Esses profissionais precisam se entender como uma equipe multidisciplinar, na qual um acrescenta ao trabalho do outro Por exemplo, os profissionais de TI preparam a estrutura do software ou base de dados e o bibliotecário ajuda na organização e categorização do conhecimento ali contido, tendo sempre em mente o destinatário daquele produto. Uma profissão não exclui a outra, muito pelo contrário, se complementam para que seja alcançado um trabalho com maior qualidade, principalmente, pensado sob o ponto de vista de quem utiliza esses sistemas e bases de dados e não somente de quem os produz.

A última reflexão que deixo é: se buscamos uma ressignificação de nossa profissão, quais os caminhos para seguir? A tecnologia bate à nossa porta e precisamos abraça-la e utilizá-la em nosso favor. Quando pensamos em bibliotecas, a maior parte da sociedade tem em mente um local silencioso e cheio de livros. Temos um papel fundamental de transformar esses locais em novas Alexandrias, onde o conhecimento é produzido e não somente reproduzido, as tecnologias podem e devem ser nossas aliadas para transformarmos o ambiente digital também, com a organização da informação e contribuindo para que discussões acerca do conhecimento possam ocorrer, tanto nos espaços físicos como nos espaços tecnológicos.

1 Produções de Andrea Doyle citadas na apresentação:

Tese de mestrado: https://ridi.ibict.br/bitstream/123456789/960/1/Dissertacao_AndreaDoyle_Capa_Dura.pdf

Matéria na Rede Coinfo: https://redecoinfo.blogspot.com/2019/09/como-desmentir-com-possibilidade-de.html

2 Para saber mais sobre o Projeto de Extensão LICA:

http://www.cca.ufpb.br/bscca/contents/menu/a-biblioteca/nosso-projeto-de-extensao/lugar-da-informacao-do-conhecimento-e-da-aprendizagem

http://www.cca.ufpb.br/bscca/contents/noticias/lugar-da-informacao-do-conhecimento-e-da-aprendizagem

3 materia da Forbes traduzida:

https://biblioo.cartacapital.com.br/o-que-ciencia-da-computacao-pode-aprender-com-a-biblioteconomia-e-com-a-ciencia-da-informacao/

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