Acessibilidade, o que pesa mais na balança digital?

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6 min readJul 26, 2024
Mão a apontar para vários gráficos projectados em realidade aumentada

Introdução

Muito se tem falado sobre acessibilidade digital nos últimos tempos, e ainda bem, mas será que o tema é apenas uma moda passageira ou é realmente algo importante a ser integrado como um padrão fundamental e permanente no desenvolvimento de produtos e serviços digitais?

O que é então acessibilidade digital?

A acessibilidade digital refere-se à capacidade de um produto digital ser utilizado pelo maior número de pessoas possível, independentemente das suas condições ou características. Essa democratização do acesso digital envolve a aplicação de boas práticas no design, código e conteúdos, garantindo uma experiência inclusiva e agradável para todos, sejam eles pessoas com deficiências permanentes, temporárias ou situacionais, e assegurando que a informação seja acessível através de diferentes dispositivos e tecnologias de apoio.

Os princípios da acessibilidade digital incluem:

1. Perceção: Informação e componentes devem ser percetíveis pelos sentidos (visão, audição).

2. Operabilidade: Interfaces devem ser utilizáveis por todos os métodos de interação (teclado, rato, voz).

3. Compreensão: Conteúdo e navegação devem ser claros e intuitivos.

4. Robustez: Conteúdo deve ser fiável em várias tecnologias de assistência.

Porque nos devemos preocupar com acessibilidade?

Quando falamos de acessibilidade com pessoas sem nenhuma incapacidade visível, muitas vezes parece existir um afastamento entre a pessoa e o tema. No entanto, a realidade é que há um amplo espectro de incapacidades que qualquer pessoa pode enfrentar ao longo da vida, e estas podem estar mais próximas do que imaginamos. As deficiências podem afetar a visão, audição, movimento, pensamento, saúde mental, relações sociais e outras áreas da vida, e quase todos nós provavelmente enfrentaremos algum tipo de deficiência em algum momento da vida.

Já pensou como acederia ao website do seu banco com um braço ao peito? E quando a idade avançar e a visão já não for o que era?

Ao criar soluções acessíveis hoje, preparamos um futuro mais inclusivo para todos, incluindo nós mesmos. Imagine a tranquilidade de saber que, independentemente das circunstâncias, a tecnologia estará ao seu alcance, pronta para o servir em qualquer fase da vida.

Imagem com tabela ilustrativa de 4 contextos de definiciência física e vários tipos de deficiência
Mapeamento da acessibilidade face às necessidades de um produto, exemplo da Booking.com.

Leis e normas no sector publico. E no privado podemos continuar a desviar atenção?

Em Portugal, a acessibilidade digital é regulada por leis que visam a inclusão de todos os cidadãos. No sector público, o Decreto-Lei n.º 83/2018 exige que todos os websites e aplicações móveis dos organismos públicos sejam acessíveis, seguindo as diretrizes do Parlamento Europeu para um ambiente digital inclusivo. No sector privado, a Diretiva (UE) 2019/882, transposta pelo Decreto-Lei n.º 82/2022, define requisitos de acessibilidade para produtos e serviços, garantindo igualdade de acesso e independência para pessoas com deficiência. Atenção marcas presentes na “sala”: a partir de 28 de junho de 2025, estas medidas devem estar totalmente implementadas, com sanções em caso de incumprimento.

Uma provocação à criatividade

A discussão sobre o espaço que a criatividade ocupa no universo digital das marcas — produtos, serviços e a sua própria identidade — é um caminho complexo e não apresenta uma conclusão imediata. Várias questões podem ser colocadas, tais como:

  • Será possível limitar o tom de voz de uma marca a um conjunto de diretrizes de acessibilidade digital em prol do seu impacto num leque mais amplo de utilizadores?
  • Qual o compromisso da expressão criativa face a uma notoriedade digital mais abrangente?
  • Como se moldam os arquétipos de marca a uma comunicação mais justa e democrática?

Se, por um lado, a preocupação com critérios de acessibilidade pode parecer trazer condicionantes, por outro, o desafio de integrar essa visão, à priori, na cultura das empresas traduz-se numa maior maturidade e relevância social. Nesse sentido, priorizar a acessibilidade torna-se, também ela, um desafio criativo com espaço para transformar e potenciar o valor das marcas.

Design acessível, de todos para todos

Numa sociedade heterogénea e responsável, com ferramentas capazes de contornar barreiras que de outra forma limitariam o acesso a um determinado leque de pessoas, torna-se inegável a obrigatoriedade de oferecer a mesma experiência a todos os utilizadores independentemente da sua condição. A consciencialização da diferença leva-nos mais longe neste exercício social que é calçar os sapatos do outro e entender verdadeiramente como podemos promover a autonomia na utilização dos recursos digitais, muito além do design e development.

Ainda que o desenho da interface ou a idealização de novas funcionalidades sejam, na maioria, funções atribuídas ao designer, a premissa é que os princípios de acessibilidade devem estar na génese da criação de um qualquer produto digital. Ou seja, deve ser transversal a todas as equipas de trabalho, desde a estratégia, ao negócio, à gestão do projeto. Todos terão um contributo a dar enquanto participantes ativos na revolução tecnológica que hoje testemunhamos.

Contamos com a praticidade de ferramentas, equipamentos e software cujo foco é ajudar pessoas com limitações permanentes ou temporárias a terem o mesmo nível de acesso aos conteúdos que as que não enfrentam essas dificuldades. Estas tecnologias não só aumentam o leque de possíveis utilizadores, como melhoram exponencialmente a qualidade de vida dos indivíduos que são, agora, convidados a interagir em ambientes que, de outra forma, estariam inacessíveis. Posto isto, o recurso a tecnologias assistidas ou validadores de boas práticas, por exemplo, são excelentes mecanismos que as equipas devem considerar para garantir uma resposta mais célere às necessidades de cada um.

Em paralelo, o processo criativo ganha novos contornos com esta mudança de paradigma, saindo mais rico, interessante e em constante procura por uma expressão mais ampla nas mais diversas áreas. Para honrar esta oportunidade, não devemos questionar se o desenho de uma interface poderá ou não beneficiar de uma liberdade técnica e visual absoluta pela razão mais elementar de todas: a missão do design. A acessibilidade é indissociável da sua prática por fazer parte do compromisso em oferecer a melhor resposta possível a um problema, seguindo as boas práticas e recomendações durante todo o processo.

Good design is actually a lot harder to notice than poor design, in part because good designs fit our needs so well that the design is invisible, serving us without drawing attention to itself.

Donald A. Norman, The Design of Everyday Things

Produtos digitais acessíveis, será suficiente?

Apesar da complexidade adicionada pela abordagem inclusiva na criação de um produto digital, este só pode ser considerado acessível com a validação dos utilizadores.

É polémico dizer que um produto é mais ou menos acessível apenas pela validação de uma checklist. Afinal, que problemas foram resolvidos e para quem?

A simplificação excessiva destes conceitos pode estar a colocar em causa a usabilidade de produtos, teoricamente, acessíveis. Um exemplo disso é a colocação de ALT text nas imagens para utilizadores que não as conseguem ver. Sabemos que esta prática é essencial, mas como deve ser escrito esse texto? Qual o conteúdo mais eficaz para que a imagem seja percecionada por utilizadores cegos? Provavelmente, a única forma de saber a resposta é através da realização de testes com utilizadores com algum tipo de limitação, independentemente da sua situação particular ou específica.

Conclusão

A acessibilidade é um objetivo incontornável em várias dimensões, que apela sobretudo a uma visão progressista e inclusiva. Para as equipas que trabalham produtos digitais, todos estão convidados a ser participantes ativos com foco nos elementos que levam à exclusão de potenciais utilizadores por incapacidade temporária ou permanente.

Se o resultado desta visão trouxer mais vendas de produtos, mais produtividade no ambiente de trabalho ou melhorar qualidade de vida de pessoas com deficiência, todos saímos a ganhar.

Soraia Prazeres

Lead Designer UX/UI
sprazeres@innovagency.com
LinkedIn: https://www.linkedin.com/in/soraia-prazeres-9b5a8197/

Filipa Rocha

Designer UX/UI Senior
frocha@innovagency.com
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