Como fui do Inova_MPRJ para Yale aos 16 anos

Como tudo começou

Matheus Guimarães
Inovação em governo e no controle
6 min readMar 27, 2020

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Me chamo Matheus Guimarães e sou aluno do ensino médio na Escola Eleva, no Rio de Janeiro. Nos últimos meses minha vida virou de ponta cabeça. Basicamente, abri mão das minhas férias escolares para trabalhar no Laboratório de Inovação do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (Inova_MPRJ) e logo depois fui aprovado na renomada Universidade Yale — em um dos programas de verão mais concorridos para jovens da minha idade.

Yale é a terceira universidade mais antiga dos Estados Unidos. Integra a chamada Ivy League e tem em sua lista de ex-alunos nada mais nada menos do que 61 ganhadores de prêmio Nobel, 5 ex-presidentes dos EUA e diversas pessoas que contribuíram para o desenvolvimento da humanidade. Já conto como fui parar lá.

Nas férias entre o 1º e o 2º ano do ensino médio, iniciadas em dezembro de 2019, a Eleva lançou mais uma edição do seu Professional Immersion Program. Trata-se de um programa estruturado em parceria com organizações que se oferecem para proporcionar aos alunos experiências de trabalho durante um mês. A partir de vivências reais, nós, adolescentes prestes a fazer vestibular, podemos compreender melhor as rotinas e os desafios das profissões de nosso interesse.

Sempre gostei de ambientes multidisciplinares e conectados com a realidade tecnológica da minha geração. Ao mesmo tempo, nunca deixei de pensar em como podemos usar essas ferramentas para resolver os problemas sociais do país em que vivemos. Talvez por isso me interessem profissões ligadas às áreas de economia, políticas públicas e ciência de dados.

Quando recebi a descrição da vaga no Inova_MPRJ, tive certeza de que queria ir para lá. Pensei “um laboratório de inovação dentro de um órgão público? Isso existe?” Fiquei espantado e disse isso para a equipe logo no meu primeiro dia.

Falavam sobre combinar ciência de dados, design, avaliação de programas públicos e uma nova visão do direito para solucionar desafios de governo. Lembro que mencionaram trabalhos com transparência na gestão hospitalar, despoluição da Baía de Guanabara e desafios de inovação dentro do próprio MPRJ. Meus olhos brilharam.

Fagulhas da inovação

Eu não fui o único interessado. O Rogério Zoghbi, também aluno da Eleva, chegou junto comigo no Laboratório. Logo no início, descobrimos que fazíamos parte de um projeto piloto de parcerias — sem nome até então — e que já contava com um promotor participante. Nossa primeira missão foi batizar o projeto: Fagulha! Vocês vão entender o porquê.

Lá no Inova_MPRJ, um dos principais objetivos é disseminar cultura de inovação — dentro e fora da instituição. A ideia por trás do Fagulha é estimular o espírito inovador ao convidar pessoas para somar forças com o Laboratório durante certo período. Os parceiros podem ser procuradores, promotores, servidores de outros órgãos, pesquisadores experientes ou jovens, como eu e Rogério.

Os “Fagulhas” aderem à cultura de trabalho do Inova_MPRJ e seguem um método específico para monitoramento e resolução de problemas. Após o período de colaboração, levam os resultados que alcançaram e a cultura de inovação para além das portas do Laboratório. Tornam-se uma espécie de embaixadores da inovação, pois, como a equipe do Inova_MPRJ não cansa de repetir, ninguém inova sozinho.

Além de parte do experimento Fagulha, eu e Rogério seríamos responsáveis por desenvolver um projeto cada um. Eu fiquei com a missão de montar um kit de boas práticas com recomendações para tornar reuniões mais produtivas. E o Rogério se dedicou a fazer o mesmo para o tema “avaliação de equipe”.

Ambos os tópicos já eram objeto de teste dentro do Laboratório — que utiliza métodos muito interessantes para otimizar reuniões e avaliar periodicamente o desempenho de seus integrantes. Nosso papel seria aperfeiçoá-los e sistematizá-los para compartilhamento, levando em conta os desafios de escala.

Seguiríamos uma versão reduzida do método de trabalho do Inova_MPRJ, de modo a caber no tempo que passaríamos lá. Eles sempre começam compreendendo o desafio com profundidade e realizam pesquisa extensa sobre boas práticas, para aprenderem com quem já realizou algo semelhante. Somente depois de tudo isso, partem para construir a solução, testá-la com usuários e, no nosso caso, criar documentos digitais com recomendações.

(Em breve o material que nós produzimos estará pronto e poderei atualizar este post, colocando os links para acesso de todos.)

Meus principais aprendizados

Logo de cara, o coordenador me deu dicas de escrita que nunca esquecerei. Frases curtas, sempre na voz ativa, parágrafos pequenos e uma única ideia em cada um. “Se o leitor conseguir entender o texto lendo só a primeira frase de cada parágrafo, o texto tende a estar bom”. No mundo conectado e com tantas informações, precisamos ser simples e diretos.

O aprendizado serviu muito para escrever meu “Diário de Bordo” — dica da equipe, para eu anotar, diariamente, detalhes sobre a minha experiência. Foi crucial para lembrar de tudo na hora de aplicar para Yale. Afinal, como estava conhecendo o mundo das organizações e do trabalho formal, não podia esquecer nenhuma lição.

Também aprendi a usar Python para limpar dados e tive um mentor desde que cheguei. Era alguém que tirava minhas dúvidas, me orientava nas tarefas e me passava ensinamentos importantes todos os dias. Além de me mostrar referências da área de economia e políticas públicas, ele me ensinou técnicas para tornar apresentações mais interessantes e formas criativas de organizar meu tempo de trabalho. Fui muito privilegiado.

Contudo, talvez o maior aprendizado do período esteja relacionado a técnicas de pesquisa e organização de informações. Eu não fazia ideia de que tantas pessoas se incomodavam com a quantidade de reuniões sem propósito ou mal planejadas. Elas interrompem muito a produção individual de cada um. Pesquisei e encontrei muitos trabalhos sobre o problema e outras tantas tentativas de solução. Espero que o relatório inspire mudanças para melhor.

Além disso, aprendi a montar questionários. Montamos um para entender a percepção dos funcionários da instituição sobre o tema reuniões: quantas horas dedicam a elas semanalmente; principais temas abordados; problemas mais frequentes; se há encaminhamentos; o que gostariam de mudar; etc. O Rogério fez o mesmo para avaliação de equipes. Parece simples, mas vi que fazer bons questionários não é nada trivial.

Por fim, mas não menos importante, um momento que me marcou bastante: me chamaram para ajudar na seleção da futura estagiária. Eu, com 15 anos na época, participando de entrevistas e podendo fazer perguntas para candidatas de ensino superior. Me ajudou muito a amadurecer.

Inscrição em Yale

Assim que acabou a experiência no Inova_MPRJ, comecei minha inscrição em Yale. O programa se chama Yale Young Global Scholar (YYGS). Ele recebe alunos de todo o mundo, que são escolhidos anualmente após processo seletivo com média de 7 mil candidatos.

Eu já conhecia o YYGS, mas no Laboratório ganhei a motivação que faltava e a bagagem que precisava para me tornar um candidato forte. Ter uma experiência de trabalho e conhecer melhor meus interesses e aspirações serviu para tornar minha aplicação mais coerente. Tudo passou a fazer mais sentido.

Escolhi participar do programa de ciências humanas, que oferece cursos de economia, direito e política. Minha escolha foi profundamente influenciada pela estadia no MPRJ. Meus textos ficaram mais robustos, com linhas de raciocínio mais lógicas e demonstravam um Matheus mais maduro — tudo muito importante na hora de justificar cada opção escolhida.

Pediam, por exemplo, para “descrever seu projeto ou experiência acadêmica recente mais gratificante e o motivo para tanto” e “contar algo que o mudou como pessoa”. Expliquei tudo sobre o tempo no Inova_MPRJ, contando detalhadamente meu projeto, lições e conexões que fiz por lá.

Tenho muito orgulho de ter feito parte dessa equipe. Minha paixão por aprender está se tornando cada vez maior. Ao Inova_MPRJ, meu muito obrigado, e até breve.

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Matheus Guimarães
Inovação em governo e no controle

Student at Escola Eleva, Yale Young Global Scholars 20, former intern at Inova_MPRJ in the Fagulha Project. Passionate about math, programming, social sciences.