A problemática da desinformação em públicos +40 e +60

Fabrine Bartz
Inovação em Jornalismo
11 min readJul 8, 2021

Orientado pela Profa. Dra. Ana Cecília Nunes, nosso projeto de inovação preocupa-se com a questão da desinformação entre adultos de 40 a 59 anos e ao público da terceira idade, que começa a partir dos 60 anos.

Esses dois grupos fazem parte da era digital, mas a problemática está no consumo da informação. A Revista ScienceAdvances, em janeiro de 2019, apontou que idosos com mais de 65 anos compartilham até sete vezes mais notícias falsas, que pessoas entre 18 e 29 anos.

Como estudantes de Jornalismo, o nosso compromisso e nossa responsabilidade é levar a informação correta, sem ruídos de comunicação, para todos os públicos, em todos os meios possíveis. Considerando esse contexto e a era da digitalização, pensamos em criar um plug-in que identifique a veracidade das informações lidas por esses dois públicos.

Se o público +60 está no ambiente digital, qual é o problema?

Com objetivo de compreender o comportamento dessas pessoas, o Integrar Gerações, espaço de aprendizagem de Porto Alegre focado justamente em pessoas com mais de 60 anos, realizou uma pesquisa online nacional com 459 pessoas acima de 50 anos. O resultado indica que a rede social com maior participação do deste público é o WhatsApp, com 99%, seguido pelo Facebook e Instagram.

Nesta mesma lógica, nossa equipe formulou sua própria pesquisa. De caráter qualitativo, contamos com uma participação de sete pessoas e vimos que existe uma questão curiosa: o público +60 nos relatou não buscar informações em sites jornalísticos, e as pessoas que buscavam, geralmente, procuravam informações em veículos independentes. Com base na pesquisa, também vimos que as pessoas, de 61 a 72 anos, passavam, em média, entre duas a cinco horas diárias na internet. Entre os suportes disponíveis para buscar informações como televisão, rádio, jornal impresso, revistas, redes sociais e sites na internet, este último foi o escolhido.

No entanto, a pesquisa exploratória nos indicou que as pessoas +60 não só utilizam as redes sociais para conversar com a família e amigos como também para buscar informações, principalmente através do Facebook. Em contrapartida, o mesmo público desconfia de informações dependendo da fonte e costuma ler as matérias por completo, mas não busca solucionar essa dúvida. Do total de pesquisados, metade indicou que utiliza o WhatsApp para compartilhar informações. O infográfico abaixo traz, em detalhes, o contexto que motiva o nosso projeto, com pesquisas e dados de mercado.

Como encontrar uma solução?

O Design Thinking torna projetos mais tangíveis, porque é possível ter uma visão mais abrangente de uma ideia. Todos os envolvidos possuem um objetivo em comum: beneficiar o público-alvo, melhorando algum ponto da vida. Todo esse processo foca na resolução de um problema centrado, e as ideias são abstratas que, mais tarde, podem virar a grande resolução. A metodologia do Design Thinking envolve aprender com pessoas, trabalhando em grupo.

Na tentativa de solucionar a problemática da desinformação em públicos +40 e +60, foi preciso levar em consideração as ideias de todos os integrantes da equipe para a definição do tema. Um debate foi feito e, a partir dele, diversos temas abstratos foram introduzidos e descartados logo depois.

A questão principal do trabalho do semestre foi endereçar o problema de alguém, inovando em alguma parte. É importante salientar que inovar é diferente de inventar.

Em seu livro “Design Thinking”, Tim Brown mostra que a metodologia é crucial para identificar comportamentos, que mais tarde, levam a ideias, que resultam em soluções de problemas.

“O comportamento deles, contudo, pode nos dar valiosas dicas sobre suas necessidades não atendidas”.

O nosso grupo considerou o fenômeno da desinformação no público +40 e +60, que são os mais afetados pelas falsas informações. Escolhemos um comportamento comum no nosso dia a dia, que podemos dizer que é até “normalizado” e vimos a necessidade de criar algo para beneficiá-los. O nosso plug-in.

Utilizar essa metodologia para conhecer o público, pode trazer ideias incríveis. A experiência está na observação do que fazem e do que falam. Não fazerem e não falarem também trazem questões a serem consideradas para o projeto.

Brown define esse primeiro processo como insight. O objetivo principal não pode ser esquecido: tornar a vida de alguém melhor. “A missão do Design Thinking é traduzir observações e insights e estes em produtos e serviços para melhorar a vida das pessoas”.

O nosso projeto de inovação quer tornar a vida informativa do público acima de 40 anos melhor. Para isso, foi necessário compreender de que forma eles utilizam a internet e as mídias sociais. A pesquisa que mencionamos anteriormente levou em consideração os dois públicos (+40 e +60), as perguntas foram criadas com base na nossa percepção do comportamento desses grupos. Os insights já estavam presentes.

Conforme o texto “Chicas Poderosas”, visto na aula do dia 27 de abril de 2021, toda metodologia do design começa com a compreensão do público. Para isso, é preciso conversar, perguntar, analisar e observar. Esses processos levam à fraquezas e ganhos, que mais tarde, serão transformados em benefícios para o público alvo. Acreditamos que o projeto de inovação do semestre não está relacionado com o Design Thinking, porque ele é o próprio Design Thinking na prática.

Como chegamos até aqui?

A definição do tema foi um processo um pouco “trabalhoso” em um primeiro momento. Tínhamos uma ideia inicial, mas que gerou dúvidas nos demais integrantes do grupo. Conversamos por algum tempo, até chegar no tema “idosos e informação”. Com o assunto definido e investigação do público, chegamos na solução: o nosso plug-in.

Se o problema é a fonte de informação, então, por que não criar um mecanismo que indique se o site é confiável ou não? Dessa forma, em sites de conteúdos duvidosos, uma notificação aparece informando o público da incerteza da veracidade da informação. Foi a maneira que encontramos de contribuir com o verdadeiro jornalismo, que se dedica diariamente em apuração e na produção de notícias relevantes para a sociedade.

Com o público-alvo e tema definido, foi necessário investigar e compreender o comportamento dessas pessoas que convivem com a problemática da desinformação.

Para isso, foram desenvolvidos dois mapas de empatia, cada qual abordando os segmentos +40 e +60.

Levando em consideração que 34% da população de 60 anos ou mais é usuária de internet, segundo uma pesquisa realizada pela TIC Domicílios em 2019, surge a necessidade de criar um plug-in com filtro de sites com a catalogação deles. A partir do plug-in será possível identificar se os sites são confiáveis ou não. Identificando se o veículo de comunicação é confiável, parcialmente confiável ou duvidoso. O plug-in que possui um filtro de veículos para pessoas com mais de 60 anos de idade. Plug-in é todo programa, ferramenta ou extensão que se encaixa a outro programa principal para adicionar mais funções e recursos a ele. Geralmente, são leves e não comprometem o funcionamento do software e são de fácil instalação e manuseio. A ideia é que exista uma relação através das redes sociais com os desenvolvedores do plug-in e nosso público +60, para que assim tudo fique mais fácil e simplificado.

Desta forma, a distribuição do conteúdo acaba ganhando um novo caminho. No primeiro momento, em vez de uma matéria ir direto para o leitor, por exemplo, ela passa pelo filtro e depois é direcionada ao público. Na prática, o ideal seria ocorrer uma troca de conhecimentos. As dúvidas do leitor com a recomendação do plug-in. A partir disso, temos o segundo ponto: a inovação no meio de comunicação. Caso a fonte que o público sugeriu não seja confiável, o filtro fornece outras opções de leitura. Com isso, é possível conhecer novos veículos.

O que já existe no mercado?

1) Agências de checagem: A primeira agência de fact-checking surge no Brasil somente em 2015, a Agência Lupa. No mesmo ano, surge também a Agência Aos Fatos, com o foco de verificar o que é falso e o que é real em discursos políticos. Aos Fatos é uma inspiração no argentino Chequeado e no PolitiFact, um site americano ganhador do Pulitzer em 2008. O plug-in se assemelha com as agências de checagem, pois o intuito (verificar informação) é o mesmo. Porém, com restrição de público e sugestões de outras leituras.

Photo by Adam Nieścioruk on Unsplash

2) Feedly: Esse app é responsável por reunir uma vasta gama de veículos jornalísticos e de produção de conteúdo, como blogs e sites. O usuário pode selecionar os jornais tradicionais, que são vistos como fontes confiáveis, em um só lugar. Além disso, também é possível seguir nichos específicos, assim, ele reúne informações de diversos canais de comunicação diferentes e organiza em um feed de forma rápida e prática. O feedly te direciona diretamente para o site oficial do conteúdo que você deseja consumir, consequentemente, resultando em conteúdos confiáveis, que vão direto à fonte. O plug-in tem um objetivo parecido, que é informar o público +60 e +40 de forma confiável e segura.

3) Fake Check: Criada pela USP e pela UFSCAR, a ferramenta é uma inteligência artificial que identifica falsas informações, a partir de uma fragmento do texto. O usuário ativa o mecanismo por Whatsapp, envia uma parte da “notícia” no chat e obtém a resposta se é uma fonte confiável, ou não.

Assim, temos o nosso foco: nossos clientes precisam consumir informação confiável de forma fácil, porque hoje há uma sobrecarga de informação e contexto de desinformação.

A trasformação da ideia em realidade

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estima-se que, em 40 anos, o número de homens e mulheres na terceira idade triplique no Brasil, passando dos 25 milhões, para 66,5 milhões de pessoas. Isso torna o mercado propício para iniciativas voltadas para o público idoso.

Empresas de tecnologia estão prezando, cada vez mais, por projetos voltados à confiabilidade de informações. Um belo exemplo é o Whatsapp, que após muito tempo, disponibilizou uma ferramenta para checagem de informações, além de limitar os disparos de mensagens em massa. Isso prova que a Internet não é uma terra sem lei e que os usuários e os CEOS de grandes empresas estão preocupando-se mais com essa questão.

Pedir patrocínio para uma empresa específica, teria como consequência, provavelmente, prioridade de matéria, o que não é o intuito do nosso projeto. Queremos mostrar diversas possibilidades de fontes confiáveis, não apenas uma.

Com isso, surgiu a ideia do crowdfunding direcionado para um público específico, que são as emissoras e veículos mais tradicionais, que também estão na Internet. Gaúcha ZH, Folha de S.Paulo, O Estadão, Correio do Povo, Correio Braziliense, são alguns exemplos que estão presentes no meio digital. Além deles, empresas e entidades que abracem a ideia e queiram ajudar no desenvolvimento do plug-in também são bem-vindas. Pode funcionar no estilo do Consórcio dos Veículos de Imprensa. Quem identificar-se com o projeto, pode entrar em contato e ajudar no financiamento.

Nós temos a ferramenta que pode ajudar a direcionar um público mais velho para informações corretas, seguras, de veículos com credibilidade e eles têm o capital, que pode ser doado para tornar o nosso plug-in. O nosso propósito é o mesmo: evitar a desinformação.

Aprendendo com os próprios erros

A inovação é um processo. As ideias podem surgir através de insights, porém para o insight surgir é necessário ter referências. Na prática, a inovação é quase um ciclo. Tudo pode começar com um problema, mas a sequência seguinte consiste em buscar referências, conhecer o público, entender a dinâmica, questionar a concorrência e pensar em formas para fazer o projeto, de fato, seguir em frente e ser funcional.

A ordem nem sempre é a mesma, pois, durante as aulas, vimos que todo mundo é criativo, no entanto, nem todos sabem disso. Desenvolver ideias originais que tenham valor e colocar novas ideias em prática não acontece da noite para o dia. Criar projetos inclusivos também exige foco e empenho.

Assim como em qualquer outra área, a criatividade pode ser um aprendizado, da mesma forma que acontece com a culinária, por exemplo.

Durante todo o semestre, eu, Érika, me surpreendi a cada aula. Aprendi que para inovar não é necessário ter grandes recursos. Também aprendi que devemos exercitar diariamente a nossa criatividade. Pensar no que de fato as pessoas precisam, no que trará benefícios para a população. A inovação no jornalismo é fundamental para que possamos nos conectar com nosso público e ajudá-lo consequentemente. Essa ajuda pode estar relacionada a problemas básicos do nosso dia a dia.

Inovar tem um sentido muito amplo, com muitas possibilidades. Ao longo do semestre, foi possível desmistificar o conceito. Inovação não é necessariamente inventar algo do zero, simplesmente do nada. Surge quando temos a identificação de um problema. A partir disso, diversos processos são postos em prática, para encontrarmos a melhor forma de solução. Todo mundo sempre pode agregar em alguma parte, sem exceção.

Como visto no fragmento do livro Criatividade S.A, temos que ter em mente que a possibilidade de falhar existe. Ao invés de desistir na primeira tentativa, é necessário olhar com mais otimismo para o erro, porque ele nos mostra um caminho do que não fazer.

Dessa forma, vamos chegando, cada vez mais perto da real solução, que consequentemente, irá tornar a vida do público-alvo melhor.

Verifica Quiz

Para finalizar, elaboramos uma proposta de conteúdo para um possível divulgação do nosso plugin no Instagram. Vamos lá?

Entenda se a notícia que você está lendo é confiável!

Trabalho realizado por: Érika Garda, Fabrine Bartz e Júlia Ruvinski

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Fabrine Bartz
Inovação em Jornalismo

Jornalista. Produtora da BandNews Porto Alegre e pesquisadora da interseccionalidade nos novos formatos jornalísticos