Como tornar o jornalismo atraente para os jovens?

Julie Rodrigues
Inovação em Jornalismo
7 min readDec 23, 2020

Por Alexia Albuquerque, Anie Julie Rodrigues, Bárbara Benites e Nicoli de Matos

Este trabalho foi desenvolvido para a disciplina de Inovação em Jornalismo da PUCRS, orientado pela Profa. Dra. Ana Cecília Nunes, no segundo semestre do ano de 2020.

O consumo de jornais impressos caiu, mas o consumo de informações só aumenta. Com a internet, as notícias ganharam um maior impacto e também mais facilidade para serem acessadas. Mas até que ponto um conteúdo específico possui relevância para a realidade de todos? Cada vez mais, a população jovem tem se engajado em causas sociais e políticas, como também em outros setores da sociedade em busca de conhecimento e pertencimento. Mas ainda existe uma barreira em relação ao conteúdo que cerca a comunidade. Sites como Buzzfeed entregam informações que entretêm mas não suprem a necessidade de conteúdo genuinamente jornalístico, que precisa atingir a parcela da população que pretende guiar o futuro.

É com esse intuito (de informar e engajar a população jovem) que pretendemos resolver o seguinte problema:

Como tornar o jornalismo um serviço mais acessível para os jovens?

Como desenvolvemos a nossa ideia?

Após o processo qualitativo de conhecimento do público, constatou-se que os jovens consomem televisão, especificamente programas de entretenimento. Dentre esta categoria, estão as notícias vinculadas aos esportes e celebridades. Além disso, os jovens também buscam por informações específicas online. Há uma carência em relação à linguagem dos conteúdos exibidos, ou seja, informações consideradas por eles como menos relevantes (política, saúde, economia) perdem espaço na busca deste público.

Nesse sentido, as estratégias do Design Thinking são importantes. Os mapas de empatia realizados por este grupo conseguiram detectar a necessidade do público selecionado em consumir informações mais acessíveis e menos filtradas. Verificou-se que esta acessibilidade se refere ao comportamento de “mastigar” as informações, ou seja, a linguagem utilizada deve ser a mais simples possível. Essa análise está associada aos conteúdos produzidos pela internet: o grupo constatou um padrão do conteúdo ser acessado pelo leitor por intermédio das redes sociais. Nesse sentido, o artigo “Chicas poderosas explica como o Design Thinking pode ajudar você a se tornar um melhor jornalista digital” exemplifica como é necessário experimentar novos formatos para contar histórias, rentabilizar e procurar por lacunas no mercado.

Esta fala é importante, uma vez que é preciso pensar no formato da linguagem que será utilizado para transmitir o conteúdo, e não somente nas pautas que serão desenvolvidas. Contudo, os dados levantados compreendem que o público selecionado tende a buscar por matérias jornalísticas no Feed das redes sociais, tornando-se um “refém” dessas plataformas. Diante disso, é um objetivo deste grupo aproximar o público das pautas mais locais e relevantes. Esta ideia está associada à concepção do autor Anderson, no qual afirma que quase todas as comunidades são formadas por grupos de pessoas que provavelmente não se conheceram, mas que se reunirão em torno de uma necessidade ou desejo comum.

Mapas de empatia

A partir do preenchimento de formulários e entrevistas com jovens de diversos perfis, foi possível chegar a seis tendências:

  1. Os jovens com menor acesso à internet consomem mais televisão e conteúdos de entretenimento, do que de qualquer outro meio e nicho de conteúdo. Considere aqui esportes e notícias sobre celebridades.
  2. Quanto maior o acesso à internet, maior parece ser o tempo de dedicação a informações específicas.
  3. Existe uma carência em relação à linguagem do conteúdo, e com isso, informações tidas por eles como menos relevantes (como política, saúde e outros temas mais sérios) são frequentemente esquecidas (exceto o que lhes é apresentado de maneira ‘mastigada’).
  4. A maior parte do consumo é feita pela internet, onde se constatou um padrão: normalmente o conteúdo vem até o leitor por intermédio das redes sociais.
  5. A maioria dos jovens entrevistados evita temas políticos por conta das polêmicas em torno do tema, a fim de evitar desavenças.
  6. Informações como tempo e trânsito são consumidas de maneira diferenciada, já que para isso não são necessários veículos noticiosos.

Com esta pesquisa foi possível encontrar dois públicos distintos, que possuem uma mesma carência; são eles:

Perfil 1) Jovens com menor acesso a internet, com escolaridade básica, que trabalha e estuda, não possui muito tempo para buscar informações muito aprofundadas, nem faz questão disso. O agente causador desse desinteresse é a forma como as notícias são trazidas: normalmente pelas redes sociais, com temas normalmente voltados ao entretenimento, ou pautas tidas como difíceis de interpretação. Normalmente assiste a jornais por conta dos pais ou tutores, e dificilmente encontra conteúdo jornalístico que atenda a necessidade de sua realidade (considere informações sobre empregos, vestibulares, economia para jovens), ou que ao menos transmita a informação de modo mais simples, tornando mais fácil sua compreensão.

Perfil 2) Jovens com maior acesso a internet e maior poder aquisitivo, que buscam com mais frequência notícias que lhes interessam, possivelmente por possuírem mais tempo ou acesso. Por mais que achem conteúdo relevante, relatam não encontrar um conteúdo voltado para sua faixa etária, com linguagem acessível e dinâmica, tratando de assuntos de seu interesse.

A nossa solução

Nosso projeto tem como público principal os jovens que não possuem disponibilidade econômica ou tempo para encontrar conteúdos jornalísticos que cubram os interesses de sua faixa etária. Trata-se de um veículo em formato de site que tem como finalidade buscar conteúdos de outras plataformas, bem como trazer conteúdos específicos com base no que os jovens querem ler. Isso se concretiza seja a partir da adaptação de conteúdo oriundo de outras plataformas (curadoria) e também com enquetes que valorizem a opinião de quem responde, com linguagem clara e objetiva, facilitando o modo de consumir informação e conteúdo jornalístico.

O nosso projeto se encaixa em dois tipos de inovação que são:

Conteúdo: Nosso projeto parte de conteúdos já existentes, mas foca-se na simplificação dele. Isso porque sabemos que pessoas de 16 a 28 anos não gostam de conteúdos com difícil entendimento. Vamos contar com uma equipe de redação que buscará simplificar os conteúdos, com uma linguagem mais jovem e clara.

Outra inovação no conteúdo é trazer diversos especialistas em cada assunto que for determinado antecipadamente pelo público. Vamos buscar diferentes visões sobre o mesmo assunto, para que haja certa imparcialidade.

Consumo: Nós estamos buscando criar um produto que possa ter seu conteúdo personalizado pelo leitor, onde os jovens poderão escolher, através de enquetes e interação, qual será o assunto tratado em cada nova edição da publicação. Esta funcionalidade tem o objetivo de buscar um maior engajamento por parte do público, que vai sentir suas opiniões contempladas e ouvidas pelo jornal. Assim, teremos uma proximidade maior com nossos leitores.

Por se tratar de uma iniciativa privada, como nosso projeto se sustentaria?

Existem quatro possibilidades de estratégias de monetização do projeto:

  1. A primeira, e mais comum delas, se trata de anúncios. Podemos incluir anúncios nas postagens e contar com espaços publicitários. Esta estratégia parte de condicionar a audiência a assistir um anúncio para poder votar em uma enquete, por exemplo.
  2. Além disso, há uma opção de versão premium. Esta versão é como uma assinatura. Como a proposta pode tanto ser um site quanto um aplicativo, os dois se encaixam na ideia de versão aprimorada, onde o assinante contribui mensalmente e tem acesso a conteúdos exclusivos, um canal direto com os repórteres para expressar suas vontades (considere aqui as pautas que o leitor possa querer), e sem anúncios.
  3. Doações: o método mais simples dos apresentados, que conta com a boa vontade dos leitores.
  4. Patrocínio: Em busca de marcas que queiram se associar à cultura jovem, desde lojas até parcerias com universidades e instituições privadas que busquem criar maior contato com o público.

Concorrentes:

Nossos três principais concorrentes são o Twitter, o Site UOL (Splash) e a ZH (Donna). Diferente dos veículos concorrentes, buscamos ter uma relação mais próxima com nosso público, através de enquetes. Além disso, visamos uma linguagem clara e de fácil entendimento para pessoas leigas em determinados assuntos.

Cada um dos nossos concorrentes é de uma plataforma diferente e tem um diferencial que pode nos atingir:

  1. O Twitter é uma rede social, e apesar de entregar informações, também entrega desinformações. Muitas vezes os trending topics são tomados por temas que desviam a atenção para o que realmente deveria ser noticiado.
  2. O site UOL (Splash) é uma editoria que busca uma linguagem mais jovem e tem potencial para atrair o público que gostaríamos de atender.

3. A Revista Donna da ZH, é a nossa concorrente impressa. Por tratar de temas femininos e cotidianos, esta editoria também seria uma concorrente no quesito público, já que aborda tópicos como maternidade, moda e outros que são de interesse do jovem.

“Nossos clientes precisam de uma melhor maneira de consumir jornalismo e tê-lo à disposição, porque mesmo que haja conteúdo relevante, ele não é sempre adaptado a sua realidade”.

Aprendendo a inovar

Durante o processo de criação da nossa solução, diversos aspectos se tornaram mais claros. O ponto principal é o modo como o consumo de informações é processado na nossa realidade. Conhecer um público e poder estudá-lo com toda certeza foi a maior fonte de aprendizado. Percebemos que encontrar diferenças é fácil, mas reconhecer as semelhanças pode ser realmente desafiador. Levando em consideração todo o ambiente que cerca a juventude, é possível imaginar o que o futuro reserva a todos, bem como as consequências das atitudes que são tomadas hoje.

O jornalismo não pode ser seletivo, mas é isso o que tem acontecido em relação aos jovens. Linguagem difícil, informações nada didáticas, tudo isso influencia em cada atitude e em cada gosto desta população. É por isso que precisamos tornar o jornalismo mais acessível para os jovens. Um processo lento e difícil, mas que tem que acontecer.

Quer saber mais do nosso projeto? Veja o vídeo abaixo.

--

--