Incentivando a checagem de informações em troca de recompensa

Fabiane Cunha
Inovação em Jornalismo
4 min readJul 8, 2021

Visando perfis da terceira idade, ferramenta almeja inibir a disseminação de conteúdo duvidoso em redes sociais

Combater a desinformação, esse é o objetivo do aplicativo Saiba+. Desenvolvido para inibir o compartilhamento de conteúdos duvidosos, o aplicativo oferece recompensas para usuários que checarem notícias em suas mídias sociais. Na intenção de proteger os idosos da desinformação, principalmente em período eleitoral, a ferramenta oferecerá assinaturas em jornais patrocinadores para quem realizar a verificação.

Com um crescente aumento na compra de smartphones e o elevado número de informações disponíveis em tempo real, faz-se necessária a verificação de conteúdos compartilhados tanto nas redes sociais quanto na web. Pensando nisso, três alunos do curso de Jornalismo da PUCRS - Fabiane Cunha, Franciele Schimmelfennig e Guilherme Taborda - criaram uma proposta de inovação na disciplina de Inovação em Jornalismo. O projeto consiste em um possível aplicativo capaz de cruzar dados e apontar elementos duvidosos ou sem contexto na matéria.

Envolvidos por uma dinâmica para geração de soluções, Guilherme, Fabiane e Franciele definiram o público alvo da ferramenta a partir da pergunta: Como podemos inserir mais jovens e idosos no jornalismo? Para obter a resposta, o grupo analisou o comportamento dos idosos nas mídias sociais através da observação de seus familiares. Com isso, descobriram que alguns idosos pedem para que seus filhos ou netos confirmem a veracidade e contextualização das informações que visualizam em seus perfis. Em alguns casos, há relatos de frustração por parte dos usuários ao descobrirem uma mentira, e vergonha por espalhar o conteúdo. Por meio de pesquisas, um infográfico foi construído pelos estudantes, que auxiliou no entendimento do contexto.

Contribuições do Design Thinking

Para entender um processo de inovação e seus objetivos principais é preciso conhecer o público para quem o resultado será direcionado. E isso está diretamente ligado ao Design Thinking, processo que traz um conjunto de ideias para abordar problemas e analisar o conhecimento já adquirido, a fim de obter propostas de solução. O mercado jornalístico mudou radicalmente nos últimos anos com o surgimento das mídias sociais e muitos profissionais da área migraram para a internet. Existem apps para tudo e em todos os lugares. Com isso, empresas jornalísticas possuem maior necessidade de produzir conteúdo para essas novas plataformas digitais.

O Design Thinking propõe a união de novas ideias e conhecimentos para resolver um problema e chegar a uma solução. De certa forma, essa questão se relaciona ao conceito de brainstorming, quando há dinâmicas que visam desenvolver a criatividade do indivíduo ou grupo para colocá-la a serviço de objetivos pré-determinados.

As aulas de Inovação em Jornalismo contribuíram positivamente para o desenvolvimento dos membros do grupo enquanto pessoas criativas, a fim de realizar um bom processo de apuração dos fatos obtidos para, enfim, chegar a solução do aplicativo Saiba+.

O aplicativo

Com base em todo o conteúdo pesquisado e nos resultados obtidos, o grupo, orientado pela Profª. Dra. Ana Cecília Nunes, decidiu realizar a criação de um aplicativo voltado ao público idoso por conta do nível de desinformação.

Nomeado Saiba+, o projeto consiste em um jogo no qual o jogador deve enviar links de conteúdos duvidosos para o aplicativo que deverá estar instalado em seu aparelho celular. Acertando, ou seja, identificando uma desinformação, ele ganha créditos para assinar e ler conteúdos exclusivos de jornais parceiros. Porém, ao errar, o jogador é contemplado com informações sobre as características da notícia duvidosa e incentivado a continuar checando.

Esse processo de atendimento ao jogador será baseado no atendimento do Nubank, com uma linguagem simples e objetiva.

Alguns aplicativos de mensagens, como Whatsapp, já adotaram medidas de combate à desinformação, protagonistas nas eleições de 2018. No app, mensagens com a etiqueta “encaminhada” ajudam a identificar se a pessoa que fez o encaminhamento escreveu aquela mensagem ou se essa veio originalmente de terceiros. No caso do Saiba+, a estratégia é diferente, pois além de melhor identificar o que é inexato, também pretende trazer informações sobre o conteúdo em seu verdadeiro contexto.

Sustentabilidade

Amparado pelo consumo de notícias, o Saiba+ possui um modelo de lucro baseado em um sistema de recompensas. Toda vez que o leitor indica uma notícia inexata, ele recebe um bônus que poderá ser usado para ler conteúdos exclusivos em sites confiáveis de notícias. A ferramenta, vendida como um serviço, cativa seus parceiros, disponibilizando espaços de anúncio dentro do app. Além disso, fornece relatórios especializados para portais de factcheking.

A Concorrência

A ferramenta de verificação possui concorrentes que desempenham funções semelhantes. A agência Lupa, conhecida por fazer a checagem de fatos, dados e declarações é uma das principais concorrentes do aplicativo, bem como a Agência Pública e a Fato ou Fake. Com a possibilidade de verificação de perfil, o Facebook também se tornou um potente rival.

O modelo de negócios inova as formas de consumir conteúdo jornalístico, pois fornece uma possibilidade de leitura ao público que não está a fim de pagar para ter acesso a determinadas informações. Além de checar postagens falsas, o app direciona o público a sites confiáveis de notícias e com isso provoca mudanças nas formas de organização da indústria jornalística.

A experiência dos criadores

A partir do desenvolvimento do projeto, o grupo define a experiência como transformadora. Antes, tinha-se a ideia de que todos os idosos compartilham desinformação nas mídias sociais. No entanto, após as pesquisas realizadas pelo grupo, obtiveram-se dados que indicam que um seleto grupo é capaz de checar as fontes e até mesmo identificar notícias duvidosas antes de postar em suas redes. O maior aprendizado surgiu após a identificação do conflito entre as gerações e, com isso, a possibilidade de aproximar netos e avós do jornalismo. As relações familiares trouxeram benefícios à pesquisa e o brainstorming de soluções ajudou os alunos a terem clareza em relação às dores do público alvo.

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