Como despertar o interesse dos estudantes da rede pública porto alegrense por jornalismo político?

Lili Moura
Inovação em Jornalismo
8 min readDec 22, 2020

Projeto visa ampliar a educação midiática e fomentar a cidadania produzindo conteúdos sobre política para jovens da Grande Porto Alegre

Este trabalho de Inovação em Jornalismo tem como objetivo proporcionar conteúdos jornalísticos, no que diz respeito à política, para um público jovem entre 16 a 22 anos. O problema escolhido é: como despertar o interesse dos estudantes da rede pública porto alegrense por jornalismo político? A questão não está relacionada à política partidária, mas sim a uma educação midiática e política, a fim de fomentar a cidadania e combater a desinformação. Neste ponto, o trabalho pretende engajar a juventude da grande Porto Alegre oriunda da rede pública de Ensino Médio. O projeto visa não apenas informar, mas sim realizar a comunicação com este público nesta temática. Do ponto de vista teórico, o pesquisador Dominique Wolton, em seu livro “Informar não é comunicar’’, aborda que a informação está relacionada à mensagem e ao fato. Já a comunicação, algo muito mais complexo, está relacionada ao entendimento do outro. Ele é enfático em dizer: “ A informação tornou-se abundante; a comunicação, uma raridade. Produzir informações e a elas ter acesso não significa comunicar”. Dessa maneira, são necessários outros elementos para a efetivação da comunicação: “Não há, portanto, comunicação sem um mínimo de tempo, de respeito e confiança mútua”.

Outra base teórica para o projeto foi o texto do autor do livro, "Design Thinking”, Tim Brown, que aborda a importância de conhecer o nosso público de forma quantitativa e não qualitativa, “É necessário observar o público, não como um rato de laboratório, mas sim com um ser humano complexo”, reflete. Com essa observação atenta podemos praticar a empatia e, a partir disso, desenvolver a criatividade, já que uma observação atenta pode gerar insights, que levarão, posteriormente, à solução do problema . Essa prática, além de fazer com que conheçamos de fato o nosso público, também faz com que analisemos as questões sobre outra ótica. Partindo desse princípio, decidimos fazer um formulário quantitativo a fim de conhecer o nosso público alvo e produzir conteúdos relevantes, respeitando os critérios de noticiabilidade do jornalismo — verdade, relevância, localidade, ineditismo e notoriedade. A pesquisa revelou que os estudantes são super conectados e interativos. No entanto, se sentem afastados do ambiente político em função da sua linguagem e pela falta de atratividade. Além disso, cerca de 75% de 100 respondentes estão na faixa etária de 16 a 22 anos, e apesar de reconhecerem a política como algo importante, a veem como algo relativamente chato e desmotivador devido à corrupção e falta de representatividade. As respostas também apresentam um forte apelo à conteúdos em vídeo, imagem e redes sociais, 36% assumem consumir conteúdos relacionados a política em sites, 25% na televisão, 13% pelo Instagram, 5% pelo Youtube, 10% no Twitter, 8% pelo Facebook, 1% jornal impresso, 1% outros e 1% afirmaram não consumir. O entendimento do contexto nos levou a procurar outras fontes e dados, que resultaram na produção de um infográfico (abaixo):

Assim, o nosso projeto visa criar uma ponte de relacionamentos com o nosso público sobre o universo político, a fim de não apenas informar, mas, sim, realizar a comunicação (criando uma ponte de relacionamentos) sobre política e efetivar o direito ao acesso à informação. Isso se relaciona, também, com a perspectiva de Jeff Jarvis, autor do texto “Se eu tivesse um Jornal…”, que defende uma estratégia baseada em relacionamentos. Ele diz: “jornalistas gerenciando comunidade de interesses e servindo em torno de suas necessidades”. O autor é enfático ao dizer que, para construir relacionamentos com o nosso público, devemos desenvolver uma série de habilidades, uma delas é a escuta atenta antes de realizar algo. Portanto, criar essa ponte é essencial para desenvolver um conteúdo relevante que promova a adesão e interação do público. Jarvis questiona se, de fato, o comunicador conhece seu próprio público ou apenas acha que conhece. Um jornalista formado que vive em uma redação sabe quais são as necessidades de seus leitores? Como chegar nessas pessoas em um momento em que a tecnologia revolucionou tudo? Como convencê-las a consumir jornalismo? A principal questão: como inovar diante desse cenário? Uma das propostas do texto é abordar o problema de forma diferente, “A mudança de perspectiva é muito mais poderosa do que o trabalho duro e recursos sendo jogados em problemas através de caminhos tradicionais já gastos”, afirma. A questão é inovar a longo prazo, ou seja a inovação estratégica, que saiba trabalhar em mundo interconectado, saiba resolver problemas com as empresas de tecnologia, saiba trabalhar com outros profissionais e saiba principalmente o porquê de estar fazendo aquele trabalho. É necessário saber o que quer entregar ao consumidor e quais são suas necessidades. Para isso, é fundamental conhecer de verdade o público e olhar para os problemas sob outras perspectivas; desenvolvendo a criatividade para resolver questões complexas de um mundo cada vez mais dinâmico. Desta forma, talvez possamos solucionar “o jogo completamente novo do qual o resto do mundo não tem conhecimento das regras ainda”.

Distribuição de conteúdo

Como dito anteriormente, observamos o nosso público atentamente a fim de conhecê-los de fato. É preciso propor ideias novas que visem uma maior adesão e interatividade com os estudantes. Para isso, temos que não ter medo de cometer erros, a fim de tentar propor novas ideias (que podem ou não vir a dar certo), assim exercendo a criatividade e aumentando as chances de inovar. As postagens terão caráter puramente informativo e educativo, não partindo para levantamento de bandeiras partidárias, no intuito de evitar ruídos na mensagem. Quando se é analisada a concorrência, diversos youtubers e influenciadores criam conteúdos que se relacionam com a política como: Felipe Castanhari, Felipe Neto e Nando Moura. Por vezes, no entanto, de forma parcial. Dessa forma, o nosso diferencial será chamar atenção para este assunto de forma mais ampla, iniciando uma ‘’educação’’ pela base. Em nossas pesquisas quantitativas e qualitativas, observamos que há um baixo conhecimento nas questões políticas do país, que vai muito além de partidos ou ideologias. Ao contrário dos demais influenciadores, falaremos de forma didática e abrangente, possibilitando ao jovem leitor uma formação de opinião própria a partir das explicações e notícias. Portanto, os assuntos das publicações sempre estarão relacionados ao funcionamento da política, e consequentemente à defesa da democracia e dos direitos humanos.

Dessa forma, decidimos produzir o nosso conteúdo pelas redes sociais Instagram e Youtube — as quais têm grande adesão dos jovens — dividindo os conteúdos para público geral e membros. Para a primeira categoria: Stories todo dia com informações sobre o universo político, e enquetes sobre dúvidas ou questões da atualidade. Além disso, fotos e vídeos curtos serão postados de três a cinco vezes por semana. Por sua vez, a categoria membro terá acesso a conteúdos exclusivos, como vídeos de conteúdos aprofundados no Youtube, e poderá assistir e participar de lives completas que aconteceram uma vez por semana e terá convidados. Os membros participarão de um grupo no WhatsApp a fim de debater os assuntos publicados e os da atualidade. Por fim, teasers das lives serão divulgados para o público geral, mas o conteúdo total e aprofundado destas será somente para os membros. Há, também, a ideia de postar conteúdos visuais e humorísticos como charges, histórias em quadrinhos e reels, no intuito de informar de um jeito mais atrativo. É importante salientar, também, que o humor nos conteúdos será uma ferramenta (conforme os assuntos permitirem). Abaixo, alguns eemplos de conteúdos que pensamos para este projeto.

Simulação das postagens

Desinformação

Além disso, outro aspecto extremamente importante é a desinformação que ocorre na internet. Logo, não há como falar de política e redes sociais sem abordar esta temática. As redes sociais são fontes de todos os tipos de informações, inclusive as falsas, as quais existem em grande escala para atender interesses políticos e econômicos de determinados grupos. Por isso, o objetivo não é acabar com as mentiras ou os conteúdos irrelevantes produzidos em alta velocidade (isso seria impossível), mas sim ajudar o nosso público a aprender a selecionar o que consumir, como conseguir verificar a veracidade das informações ou saber quais são as ferramentas para isso. Dessa forma, tanto o conteúdo produzido no Instagram e no Youtube serão filtrados, e hierarquizados e checados a fim de garantir a veracidade das informações. Além disso, serão constantemente divulgadas agências de jornalismo que checam as informações falsas na internet — Aos Fatos e Agência Lupa — para que os jovens tenham mais contatos com essas plataformas. No grupo do Whatsapp, os membros poderão postar no grupo informações que receberam e não conseguem assegurar a veracidade, assim será realizada a checagem e divulgação da mesma. Essa checagem será postada também para os não membros nas redes sociais. Por último: para o público geral, este assunto irá ser constantemente abordado em todas as plataformas, a fim de ajudar a construir uma educação midiática e política.

Possíveis modelos de sustentabilidade

Dito isso, a inovação não se faz somente no aspecto de produção de conteúdo, mas também na maneira de pensar e colocar em prática a rentabilidade dos projetos, ou seja, criar uma saúde financeira que pense a curto, médio e longo prazo. Essa é uma das questões mais problemáticas para os jornalistas, pois um dos problemas dos comunicadores é que, devido à dinâmica da profissão, os jornalistas pensam a curto prazo, como também pensam muito pouco na rentabilidade dos projetos. Por isso, é imprescindível gerar novas fontes de renda para poder fazer essas mudanças a longo prazo e não ficar dependendo de uma única receita. A partir desta perspectiva, o grupo pensou em várias ideias de fontes rentáveis para o projeto. Assim, diminuindo consideravelmente as chances de ficar refém de somente uma fonte de renda. Dentre elas:

  1. Conteúdos exclusivos para membros: além das postagens semanais em redes sociais para os seguidores, a proposta contará com publicações exclusivas para membros no YouTube.
  2. Adquirir patrocínio de instituições públicas e privadas que colaborarão com “quadros” em nossas redes sociais. Exemplo: “Empresa X explica: para onde vai o imposto que você paga em seus produtos”.
  3. Contribuição para realização de pautas específicas sugeridas pelos consumidores por meio de plataformas como “Apoia-se”.

Portanto, esse trabalho é um começo para debater novas formas de inovar no jornalismo. Dito isso, não se tem fórmulas prontas com conceitos fechados, mas sim sugestões que foram aprendidas ao longo do projeto, tais como: conhecer o público — ouvi-lo atentamente, percebendo com um ser complexo — produzir conteúdos em plataformas e linguagens com mais apelo imagético pensar na rentabilidade dos projetos tanto a curto prazo quanto a longo prazo, e por fim, não apenas informar, como também comunicar, ou seja, não basta apenas distribuir mensagens de maneira aleatória, mas sim trabalhar para construir pontes de relacionamentos — a partir dos princípios básicos — respeito, tolerância e confiança mútua — que visam de fato contribuir positivamente para os consumidores do nosso conteúdo.

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