Comunidade de prática, como anda a sua?

Érica Briones
Inovação.ninja
Published in
4 min readNov 22, 2019

Um tempo atrás, ao discutir melhores práticas e elementos estratégicos de construção de um product chapter, fiquei impressionada ao descobrir que nem todos os envolvidos — muitos executivos (C-Level) — sabiam o que era uma comunidade de prática, logo, foi natural que tenham se questionado como algo que eles sequer sabiam o que era poderia ser estratégico.

Lembrando dessa experiência decidi discutir os elementos que tornam uma comunidade de prática ativa (aquela que só existe no papel não conta) estratégico pro seu chapter de produto. Pessoalmente não acredito que o que vai destacar uma empresa das demais é exclusivamente a qualidade individual dos seus colabores, mas sim como a combinação dessas forças resulta numa empresa melhor, mais forte, num conhecimento coletivo superior e exponencial (pra quem gosta do que estiver na moda).

Nem todo profissional tem como ser um expert em todos os atributos e competências necessários para o exercício da sua função — é completamente irrealista acreditar em qualquer outra coisa — logo trocar de forma consistente com pessoas que tem a mesma função que você e te complementam, aprendendo e ensinando com seus colegas de trabalho como parte integral e importantíssima do exercício da sua função, não só é receita certa pra termos um time mais unido, como reduz a quantidade de tempo que as pessoas ficam batendo a cabeça sozinhas, bem como distribui o conhecimento individual tornando-o coletivo, melhorando os indivíduos. Ou seja, os resultados saem mais rápido pra empresa.

Ao trocar de forma frequente o time passa a saber quem são seus especialistas em cada tema e por consequência quando alguém estiver com dúvidas ou demorando tempo demais pra desenrolar um problema vai ser certeira ao procurar ajuda, mais que isso, ninguém vai ter vergonha de pedir ajuda pra ninguém pois no final do dia tá todo mundo o tempo todo se ajudando, by design, por que a empresa disse que é importante, que eles precisam separar um tempo pra isso, que é tão importante quanto garantir que você sabe alcance os resultados esperados com aquele seu último release. Sim, esse deve ser o nível de importância que uma empresa inteligente deveria — e as empresas benchmarking dão — pra troca entre colaboradores.

Acho que o ponto mais nevrálgico da questão da comunidade de prática é a geração de conhecimento corporativo. Posso dizer que cansei em quase 20 anos no mercado de tecnologia de ver gente, na mesma empresa, com 3 cadeiras de distância, enfrentando os mesmos problemas, passando pelas mesmas curvas de aprendizado, custando o mesmo dinheiro, pra muitas vezes chegarem na mesma conclusão. Pior, um deles chegar na conclusão errada porque não tinha todas as informações. Quanto isso custa pra sua empresa? Minha aposta é que custa mais do que 2 horas na semana de cada um dos seus PMs.

Lembrando que ninguém é jovem ou inexperiente demais que não tenha sequer uma boa pergunta que não faça os mais experientes do grupo ficarem coçando a cabeça pra responder. Ensinar de verdade, dispor de coração do seu tempo pra se dedicar ao problema do outro e conseguir transmitir conhecimento é desafiador, te obriga a tornar seu conhecimento tácito em explícito e muitas vezes você vai notar que nem você sabe como você faz pra conseguir analisar dados com tanta facilidade, ou lidar com stakeholders sem atritos maiores, a diferença é que agora você vai ter que descobrir e contar pra outra pessoa :).

Por fim, gostaria de comentar que é com tristeza que vejo não só empresas diminuindo o valor de uma comunidade de prática, mas muitas vezes os próprios colaboradores não pensarem nesse momento como algo sagrado. Poxa, se a sua empresa genuinamente te oferece umas 4 horas ou 2 horas por semana pra aprender ali, na empresa, como é que alguém consegue dizer não pra uma oferta como essa? Ah, mas meus colegas não são muito bons no tema x, mas caramba, por que vocês não querem aprender juntos? Ah, mas a gente nem tem tanta coisa assim pra trocar… vocês já tentaram rodar um lean coffee e ver os temas que as pessoas estão com dúvidas ou dificuldades? Ah, mas nós estamos sempre tão ocupados… se você estiver ocupado demais para se tornar melhor talvez você esteja priorizando as coisas erradas e esse vai ser o seu fim profissional.

Segue uma imagem sobre como suportar uma comunidade de prática na sua empresa, se quiser saber mais clica no link:

Graphic illustration by Nitya Wakhlu, produced at the Experience Engagement conference in October 2015.

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