A importância da avaliação dos Recursos Educacionais Digitais Bilíngues

iNOVA Media Lab
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5 min readSep 23, 2020

por Laíse Miolo de Moraes*
investigadora convidada/Universidade Federal de Santa Catarina/Brasil

Foto: Igor Starkov

Você já deve ter utilizado ou ouvido falar em recursos educacionais digitais, não é mesmo? Os recursos educacionais estão cada vez mais conectados e tecnológicos, então, a ideia desse texto é falar um pouco sobre o que são esses recursos e a crescente necessidade de avaliá-los, além de estabelecer padrões de qualidade.

Os recursos educacionais digitais (REDs) são as mídias digitais (vídeos, animações, multimídias, etc.) elaboradas com propósitos instrucionais, de modo a facilitar ou desenvolver algum processo de aprendizagem. Esses materiais são desenvolvidos por equipes compostas por professores, designers instrucionais, ilustradores, programadores, entre outros. No entanto, muitas vezes, também são produzidos pelo próprio professor. E isso torna-se ainda mais evidente no contexto da pandemia de COVID-19, em que a maioria desse conteúdo é produzido em casa, espalhados pela internet, repositórios e plataformas de ensino.

Segundo a literatura especializada, esses recursos digitais e o ambiente interativo de aprendizagem online podem melhorar significativamente a eficácia da aprendizagem. Porém, para estudantes com diferentes capacidades, os recursos digitais podem tanto potencializar a educação como apresentar barreiras de acessibilidade. No caso dos estudantes surdos, que utilizam a língua de sinais para se comunicar, o uso da sua primeira língua e da linguagem visual nos recursos educacionais são fundamentais tanto para o aprendizado, como para a valorização da sua cultura e identidade.

Aliás, você sabia que as línguas de sinais possuem todas as características das línguas orais, como a polissemia, possibilidade de utilização de metáforas, piadas e jogos de linguagem?

As línguas de sinais são basicamente diferentes das línguas orais devido à sua modalidade espaço-visual, que faz com que sejam percebidas através da visão e produzidas através das mãos e das expressões faciais e corporais. Já as línguas orais, como o Português caracterizam-se de maneira oral-auditiva.

Figura 1: Material de apoio em Libras para o ensino de Química. Fonte
Figura 2: Material de apoio em Libras para o ensino de Química. Fonte.

Por isso, as equipes multidisciplinares e os projetos de produção de recursos educacionais têm crescido e inúmeros recursos têm sido produzidos direcionados para o público surdo. A questão que se coloca é: como os professores, usuários finais ou até mesmo repositórios vão avaliar a qualidade desses recursos para saber qual utilizar, ou compartilhar? As pesquisas a respeito de como avaliar e selecionar esses materiais destinados a esses alunos são escassas; e, segundo Cechinel (2015) a quantidade de recursos educacionais nas plataformas tem crescido e as estratégias atuais de avaliação da qualidade dos recursos de aprendizagem são insuficientes para essa realidade.

A tarefa de avaliar a qualidade de recursos educacionais é complexa, pois a própria noção de qualidade é contextual. Assim, a avaliação depende para quem o objeto se destina, o ambiente para o qual foi projetado e implementado e o objetivo do recurso educacional. Por isso então existem instrumentos científicos que estabelecem normas, critérios ou requisitos para a avaliação da qualidade. A análise pode ser realizada em três momentos diferentes: ao longo do projeto de recurso educacional, chamada avaliação formativa; ao final, na finalização da interface, chamada avaliação somativa, ou logo antes da utilização do recurso: a avaliação prognóstica.

Figura 3: Figura de resumo da pesquisa sobre Avaliação de Recursos Educacionais Digitais Bilíngues (Língua de SInais/Português). Fonte: própria.

Também é importante entender como avaliar: inicialmente deve-se estabelecer critérios, que normalmente são ergonômicos e pedagógicos. Os ergonômicos asseguram a viabilidade técnica, a conformidade com padrões estabelecidos, bem como aspectos da usabilidade e acessibilidade. Já os pedagógicos: correspondem aos objetivos pedagógicos do recurso e a apresentação deles nos metadados. Além desses critérios, podemos elencar outros, bem importantes quando falamos de recursos digitais: Critérios de Design da Interface, que estabelecem condições para a organização dos elementos visuais, bem como aspectos da agradabilidade e usabilidade da interface. E também Critérios das Mídias Digitais, que indicam a adequação das mídias e seus elementos para cada tipo de recurso. Por fim, os instrumentos de avaliação têm diferentes formatos: checklists, formulários, escala de avaliação, modelo conceitual, questionário, entre muitos outros.

Portanto, a avaliação de um RED é essencial, pois eles são recursos didáticos, que devem ser selecionados criteriosamente para contribuírem na construção do conhecimento. Esse é o tema da pesquisa de doutoramento da Laíse Miolo de Moraes e com isso, a pesquisadora espera contribuir com o processo de avaliação para recursos educacionais digitais bilíngues em repositórios, de modo a auxiliar usuários, professores, profissionais e instituições a selecionar e avaliar a qualidade dos recursos para estudantes surdos.

*Laíse Miolo de Moraes é professora de Design e Multimídia do ensino básico, técnico e tecnológico, do Instituto Federal de Santa Catarina — Campus Palhoça Bilíngue (Libras/Português), no Brasil. Atualmente, é aluna do Doutoramento em Design, na Universidade Federal de Santa Catarina (Pós Design UFSC), onde pesquisa sobre a Avaliação dos Recursos Educacionais Digitais Bilíngues (Libras/Português) sob orientação da Prof. Dra. Berenice Santos Gonçalves. E no início de 2020 (janeiro — abril), realizou seu doutoramento sanduíche na Universidade Nova de Lisboa, em parceria com o iNOVA Media Lab, sob orientação do Professor Paulo Nuno Vicente.

Para saber mais:

GESSER, Audrei. Libras? que língua é essa?: crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da realidade surda. Parábola Ed., 2009.

PORTAL MEC. Plataforma MEC de Recursos Educacionais Digitais. Disponível em: https://portalmec.c3sl.ufpr.br/home. Acesso em: 15 mai 2018.

GODOI, K. A.; PADOVANI, S. Avaliação de material didático digital centrada no usuário: uma investigação de instrumentos passíveis de utilização por professores. Produção, v. 19, n. 3, p. 445–457, 2009.

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