Inovar é …

Miriam Magdala Pinto
InovaTE
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4 min readJul 28, 2017

Criar, propor ideias e dar um jeito de materializá-las de alguma forma para, então, experimentar e entender como os outros as recebem, se elas são úteis e valiosas e, se não são, o que mudar, até que sejam. E aí, quando tiver aprendido o suficiente sobre a ideia, já bem diferente daquela inicial, e souber o que deve fazer, e para quem, empreender fazendo com que a ideia, transformada em realidade, habite este mundo.

Então, tudo começa no mundo mental?

Começa. A criação, as novas ideias nascem no pensamento, na imaginação, de alguém. Pode ser, e isso acontece com a grande maioria delas, que vivam apenas como ideias e, algumas mais rapidamente que outras, morram como ideias. Mas, de qualquer forma, de onde elas vêm? Lembrando do que escreveu Steve Johnson no super badalado livro De onde vêm as boas ideias, eu diria que elas nascem de duas maneiras: uma evolutiva e lenta, como resultado de uma sequência longa de ideias que foram se transformando umas nas outras e uma explosiva, como resultado de “colisões” entre outras ideias que “andavam” por ali. Mas de um jeito ou de outro, quanto mais ideias estiverem “andando”, “povoando o mundo mental” de alguém, mais chances de ali nascerem boas ideias.

Assim sendo, para se ter mais chances de ser criativo e ter boas ideias, variedade e atenção podem ser as duas chaves. Muitos e variados pensamentos vem do contato e conversas com pessoas diferentes, leitura diversificada, idas ao cinema, poesia, música, contemplação, meditação, e mais conversas, e viagens, imagens, sons, sabores e odores, e mais conversas e mais reflexão sobre os sentimentos e sensações que tudo isso provoca. Uma leitura que pode ser especialmente útil quando se trata de estimular a criação é o livro Creativity in Business de Igor Byttebier e Ramon Vullings que reúne muitas técnicas para estimular a criatividade.

Mas não é só passar por tudo isso. É preciso estar atento ao mundo exterior, aquele que está bem próximo a sua volta e o mundo experimentado e contado pelos outros mas também estar atento ao seu mundo interior, seus pensamentos, imagens, sensações, emoções. A atenção pode fazer toda a diferença pois é ela que é capaz de fazer com que ao invés de se ter um conteúdo difuso, ideias pouco delineadas, fugazes, se tenha um rico e vasto conjunto de ideias mais bem contornadas, com mais identidade, maior duração e, portanto, matéria-prima mais abundante e poderosa para as novas ideias. Acredito que pessoas que vivem intensamente buscando a variedade e prestando atenção no mundo e em si são mais criativas e mais felizes. Observe e tire suas próprias conclusões.

Muitas ideias vão viver e morrer como ideias. Algumas virão a nascer no mundo físico. Quando se trata de inovar, essa transição é fundamental. E uma ideia não nasce no mundo físico pronta, adulta, madura, correta. Claro que não! Ela nasce como tudo mais que nasce nele: pequeno, frágil, mal adaptado ainda. É o protótipo. É importante reconhecer que é assim mesmo que deve ser. O protótipo pode ser material, analógico ou digital, mas ele já permite que as outras pessoas entrem em contato com a ideia de uma forma concreta, no mundo físico. As outras pessoas podem experimentar, reagir, criticar, modificar, ajudar a alimentar e a transformar aquela ideia que foi feita protótipo. Quando se trata de prototipação, a proposta de Jake Knapp e seus colegas da Google Ventures apresentada no livro Sprint: how to solve big problems and test new ideias in just five days, pode ser um bom ponto de partida.

E é esse processo de interação das nossas ideias com as das outras pessoas surgidas a partir da experiência com o protótipo que vai fazendo com que ele seja transformado, se desdobrando, se energizando e se fortalecendo, amadurecendo, “adultecendo”.

Então, criar, prototipar, testar, interagir e aprender são processos interligados, recorrentes, que geram novas ideias, alteram o protótipo, geram novos protótipos, novas percepções de uso, de valor, de entendimento de valor até o ponto que se percebe que aquela ideia cresceu e amadureceu. E aí, como todos os ‘adultos’, é hora de levá-la a fazer sua experiência transformadora do mundo: hora de empreender.

Empreender implica em dar um salto do nível de comprometimento com a ideia para aquele que o faz. A ideia a partir deste ponto não se modificará mais tanto quanto vinha se modificando até aqui. Já se formou. “Adulteceu”. Agora, ela vai amadurecer. Nesse momento, são necessários investimentos financeiro, econômico e emocional significativos. O foco do aprendizado deixa de ser na ideia, agora transformada em produto ou serviço, e vai para o modelo de negócios que inclui os clientes, canais de entrega e relacionamento com eles, modelo de geração de receita que sustente as operações de produção, distribuição e entrega e o estabelecimento de parcerias que ajudem a viabilizar todo o negócio. Uma startup é exatamente o locus desse aprendizado. É para isso que ela existe sendo, portanto, uma organização temporária. Essa é a ideia detalhada nos livros A startup enxuta de Eric Ries e The Startup owner’s manual de Steve Blank e Bob Dorf.

Quando o modelo de negócios capaz de sustentar a operação estiver definido, é hora de abandonar o modelo de gestão de uma startup, muito dinâmico, experimental e de aprendizagem para o negócio de administração voltado para o crescimento baseado em rotinas e padronização. Com o passar do tempo, adaptações e mudanças vão se fazendo necessárias até que uma nova ideia que gerou novo produto ou serviço supere a anterior que é então, substituída, concluindo seu ciclo de vida.

E como todos os que por um tempo existiram no mundo físico, a ideia que virou produto ou serviço, que prestou seus serviços e depois foi substituída voltará para o mundo das ideias, agora como memória, lembrança ou um case de sucesso ou fracasso contado nos livros e entre gerações.

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Miriam Magdala Pinto
InovaTE
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Meditator. Life long learner. Focused on social, environmental and economic sustainability