Não dá para inovar sem humildade.

Miriam Magdala Pinto
InovaTE
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5 min readJun 26, 2017

Eu vivo em um ambiente em que ouço a palavra inovação durante todo o dia, muitas vezes, em muitos contextos diferentes. Sou professora universitária da área de gestão da inovação, estou à frente de um grupo de pesquisa em inovação sustentável e presido uma associação sem fins lucrativos para promoção da inovação visando tornar nossa cidade mais inteligente e mais humana. Não podia ser diferente!

Eu falo e ouço essa palavra a toda hora. Parece que virou pano de fundo da minha vida, e a gente não costuma prestar atenção nos “panos de fundo”. Simplesmente estão ali e pronto.

Quando comecei a escrever este texto me perguntei: o que eu já aprendi sobre isso que não li em nenhum lugar, que ninguém me contou, que eu aprendi com a vivência?

E a resposta que encontrei foi: não dá para inovar sem humildade!

Por que?

Para começar, vem a motivação. Por que as pessoas querem inovar? Para que se aventuram no desafio de trazer algo novo ao mundo? O que desperta esse desejo?

Pode ser que você ache que isso é óbvio: para faturar mais, para oferecer um produto ou serviço que ninguém está oferecendo e ganhar mais com isso, para ser mais competitivo no mercado. E por aí vai. Ou talvez você esteja entre aqueles que querem inovar para ajudar pessoas, para criar um mundo melhor para quem já está por aqui, para as próximas gerações, para o planeta. E por aí vai.

Seja por uma motivação ou por outra, a questão é que para trazer ao mundo um produto ou serviço útil, que tenha valor, é preciso entender o outro! É preciso entender quais são as necessidades do outro, seja ele seu futuro cliente ou as pessoas as quais quer ajudar, aquelas que já estão ajudando às outras ou batalhando para “salvar o planeta”.

Entender o outro exige humildade!

Entender o outro requer assumir que existem tantas outras verdades quantas são as pessoas e não só a sua e que a sua verdade é, na verdade, apenas sua percepção. E qual é a percepção que deve ser usada como base para o que se vai projetar, construir, entregar?

As duas: a sua e a do beneficiário da inovação! Reside aí boa parte da dificuldade da inovação bem sucedida. É preciso assumir que apenas sua visão é limitada e, então, ir até o cliente, até aquela pessoa para quem você vai criar algo novo e entendê-lo. Repare bem que não se trata apenas de ouvi-lo. É mais do que isso. Trata-se de ver quais são as suas dificuldades e procurar entendê-las. Trata-se também de usar seu conhecimento, experiência e feeling para entender a situação, os entraves, e criar novas possibilidades de solução! Fazer tudo isso é servir. Portanto, inovar é servir e servir requer humildade.

Fica a dica: as boas ideias que geram inovações relevantes são aquelas que “servem”, de fato, a alguém.

Mas inovar não é apenas ter uma grande ideia. É preciso materializá-la, e dificilmente você vai conseguir concretizar sua ideia sozinho. Mesmo que faça opções baratas e rápidas como montar uma apresentação em power point ou um vídeo que expliquem como sua ideia vai funcionar e resolver o problema, alguém para ajudar é muito valioso! Quanto mais sofisticados os protótipos, de mais ajuda vai precisar. E é bom que precise. Seus “ajudantes” podem trazer contribuições para modificar sua ideia, aperfeiçoá-la. Saber aceitar as críticas e sugestões nessa etapa inicial e decidir o que incorporar na solução inovadora demanda humildade.

E quando a ideia tiver se transformado em um protótipo, aí sim, vem o grande desafio da humildade: colocá-la à prova! Procurar os potenciais usuários e pedir-lhes que experimentem a nova solução e critiquem-na da forma mais honesta possível não é para qualquer um. Só para os que realmente querem que o produto do seu trabalho “sirva” de fato. Não é fácil ouvir críticas autênticas, quando elas mostram que o caminho não era bem o que você tomou. Não é fácil mesmo e, tenho observado a relutância daqueles que querem inovar em dar esse passo.

Vejo-os conversando com possíveis parceiros sejam técnicos ou financeiros, com empresários de sucesso, com outros inovadores, com especialistas, com todo mundo, enquanto o possível beneficiário permanece sem ser consultado. Para mim, esse é um ponto tão crítico, talvez o mais crítico, para que o processo de inovação resulte em sucesso e, ao mesmo tempo, tão difícil de ser enfrentado.

Mas nem tudo são más notícias! O necessário para superar essa dificuldade e encarar de frente os testes de protótipos é HUMILDADE.

Não vale delegar! Se isso acontecer e outras pessoas forem designadas para apresentar o protótipo e observar as reações a ele, são elas que irão ver e sentir onde o produto ou serviço está acertando e falhando, são elas que terão a oportunidade de ter ideias mais ajustadas às necessidades dos possíveis beneficiários, são elas que formarão um senso de equipe, um ambiente de camaradagem entre si deixando o inovador de fora, sabendo do resultado por meio de relatórios ou relatos. Isso é uma pena!

A situação pode piorar se o inovador posicionar-se como dono e não como parte da equipe. Na posição de dono ou patrão, ele julga e autoriza ou desautoriza mas não constrói junto. A equipe trabalha, então, com o foco na aprovação do dono deixando a aprovação do real beneficiário em segundo plano. E se o dono tiver um perfil completamente diferente do perfil daquele para quem o novo produto ou serviço está sendo desenvolvido? O resultado é previsível e não é nada bom!

Por que então, afastar-se do possível cliente, do beneficiário final, dos processos em que ele é ouvido e compreendido, da equipe e privar-se de fazer parte do grupo criativo, arriscando a colocar o projeto, os recursos investidos a perder?

Acredito que seja por falta de humildade.

A partir do momento em que aquele que inova assume verdadeiramente o interesse em aprender sobre o que está desenvolvendo e propondo, em entender se seus insights são de fato valiosos e valem o esforço, e está disposto a mudar o rumo, a incorporar aprendizados até acertar, aí sim, começam a existir reais chances de sucesso.

E o genuíno desejo de aprender com os beneficiários só é possível para quem cultiva a humildade.

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Miriam Magdala Pinto
InovaTE
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Meditator. Life long learner. Focused on social, environmental and economic sustainability