EAD no Brasil: solução ou só mais um problema?

Onde fica a EAD na transformação do Ensino Superior brasileiro?

Inoversidade
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4 min readNov 8, 2016

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Embora a Educação à Distância (EAD) não seja uma novidade no ensino superior brasileiro, o interesse por esta modalidade tem se intensificado de maneira particularmente peculiar nos últimos anos. As explicações para o fenômeno são várias — o custo das salas de aula, a democratização do Ensino, a tecnologia como forma de integração do aprendizado — , assim como as críticas à metodologia.

No meio deste embate está o aluno, que possui boas razões para reclamar tanto da aula presencial quanto da tal ferramenta inovadora. É inegável, no entanto, que a EAD é não só uma realidade crescente como um tema quase obrigatório quando o debate proposto é a inovação no Ensino Superior.

Com base na análise do penúltimo censo da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED, 2015), é possível perceber um grande otimismo por parte das instituições e do próprio MEC com a metodologia. Não é para menos, afinal houve aumento de lucro de 20% das instituições que passaram a utilizar a ferramenta em 2014, foram registradas 3.868.706 de matrículas no mesmo ano, além terem sido oferecidos 25.166 cursos, dos quais cerca de 1500 são cursos regulamentados totalmente à distância de Ensino Superior ou pós-graduação.

Apesar disso, não se pode esconder o fato de que, ainda hoje, a ferramenta é mais popular entre as instituições e o MEC do que entre alunos e professores. Perguntadas sobre os maiores obstáculos em relação a todos os tipos de curso EAD no ano de 2014, as respostas mais recorrentes das instituições foram: evasão, resistência dos educadores à modalidade e desafios organizacionais de uma instituição presencial.

A taxa de evasão, que na maioria dos cursos é de cerca de 25%, em algumas faculdades chegou a 75%. As justificativas para isso, segundo as faculdades, dizem respeito principalmente à falta de tempo. Apesar disso, o que chama atenção não é esse dado sozinho, e sim o fato de ele ser seguido de menções à resistência ao método. A dificuldade de adaptação dos alunos resulta diretamente no desinteresse e abandono das disciplinas ou cursos.

Para esclarecer algumas das reclamações e críticas recorrentes em relação à metodologia, conversamos com Giovanna Valenza, professora de Leitura e Produção de texto especializada em EAD, responsável pela produção de materiais das disciplinas nesta modalidade no Unicuritiba. “Existe muita coisa ruim na EAD, mas existe muita coisa ruim no Ensino Presencial também, é uma questão de maneiras diferentes de se trabalhar…”. Quando questionada sobre a resistência dos alunos, em contrapartida ao crescimento gradativo da metodologia, ela frisa: “As metodologias podem caminhar juntas, o aluno de EAD tem um perfil diferente, depende dele o interesse em se aprofundar e utilizar as ferramentas, mas depende do Professor também. É preciso que ele entenda que não pode simplesmente adaptar suas anotações no quadro de sala para slides digitais”.

Conversando com os alunos de algumas faculdades da região, foi possível observar que, de fato, estes são os maiores problemas enfrentados pela EAD atualmente. Os dados parecem ilustrar muito bem o que empiricamente acontece nas Universidades de todo Brasil, muito embora não sejam suficientemente elucidativos, pois as razões apresentadas nas conversas com os alunos são muito mais numerosas e complexas.

Em outros casos, porém, pode-se ouvir exatamente o contrário em relação à plataforma: professores e alunos que ressaltam os aspectos positivos e inovadores do método. Marlus Forigo, Professor de Filosofia, Ética e Ciência Política e responsável pela disciplina ofertada na modalidade a distância Sociedade e Contemporaneidade do Unicuritiba, afirma: “Eu criei esta disciplina depois de muito trabalho. Queria trabalhar com ela em sala de aula, mas ela foi feita para funcionar à distância e me deu muito orgulho ter feito esse trabalho”. A aluna Karolina Dal Pizzol também comentou sobre a disciplina: “Gosto principalmente da maneira com que ela interliga assuntos tão diferentes”.

Apenas após entendermos como a ferramenta é utilizada hoje podemos imaginar sua função dentro de uma nova abordagem no Ensino Superior. Afinal, como poderíamos garantir o uso de todo o potencial desta metodologia?

Para responder a esse e outros questionamentos, entrevistamos Ana Carolina Castelli, professora e pedagoga especialista em EAD que coincidentemente se encontrava no Congresso Internacional ABED de Educação a Distância — ocorrido em São Paulo, de 19 a 23 de setembro. Você pode conferir o depoimento no vídeo abaixo.

Ainda há muito a se fazer e trabalhar, uma realidade que não se aplica apenas à Educação a Distância, mas também às discussões de metodologias envolvendo alunos, professores e coordenações, procurando maneiras cada vez melhores de utilizar os recursos disponíveis. Isso é um bom sinal, já que vivemos hoje um momento de transformação na educação. Nossa esperança é que esse momento sirva para trazer inovações nas maneiras de ensinar e aprender, e não apenas mais maneiras de angariar e multiplicar matrículas.

Esta matéria foi produzida pelo Núcleo Paraná da Inoversidade.

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